O que faz com que uma cor pareça excitante para uma pessoa e um tédio para outra? Como as cores afetam a emoção e a razão? Nossa cultura, localização no mundo e estado emocional (neurociência) podem ter muito a ver com isso, de acordo com a pesquisa feita por Eva Hellen, na obra “Psicologia das Cores”. Quando projetamos esse estudo para a cenografia dos eventos e stands, entendemos com mais profundidade as preferências que impactam as escolhas e comportamentos dos nossos públicos.
Nós conhecemos muito mais sentimentos do que cores. Por isso, cada cor pode produzir efeitos diferentes, e, às vezes, contraditórios. Um mesmo tom de vermelho pode ser erótico ou chocante, inoportuno ou nobre. Um amarelo, radiante ou pungente… Toda cor tem seu significado. Seu efeito é determinado pelo contexto, e as pessoas que trabalham com as cores deveriam conhecer a fundo estes contextos e efeitos. [trecho retirado do livro]
Considerando a importância das cores, analisemos as cenografias de alguns eventos do último semestre de 2024.
Aniversário de 40 anos do Rock in Rio, na Cidade do Rock – RJ, de 13 a 22 de setembro de 2024
As cores principais do festival são vermelho e azul desde 1985, mas como três é sempre melhor, o violeta sempre esteve presente de forma sutil, e atualmente ganhou destaque. Mas por quê?
A humanidade é azul, internacionalmente. Mesmo se num idioma não existir nenhuma palavra para a cor azul, ela pode ser descrita facilmente pelas comparações: “Como o céu” ou “como o mar”. A capacidade de ver o azul encontra-se em todos os povos e culturas.
O vermelho dos anúncios. Por volta de 1950, o vermelho ainda era a predileta entre as cores. No pós-guerra, o vermelho era símbolo de uma alegria de viver renovada. Logo em seguida veio a era do capitalismo, e o vermelho, a cor dos anúncios publicitários, se converteu em símbolo de bem-estar. Veio então a saturação. Por quase tudo poder existir também em vermelho, é quase impossível utilizá-lo de maneira criativa – sobretudo de modo a surpreender sem ser lugar-comum, mas, ao mesmo tempo, fazendo sentido.
Violeta, a mais singular e extravagante das cores. Nada do que vestimos, nada do que nos rodeia é violeta por natureza. O violeta denuncia que a escolha foi conscientemente direcionada para uma cor especial.
Tomorrowland Brasil, levou muita música eletrônica para Itu – SP, de 11 a 13 de outubro de 2024
A cor laranja é controversa e pouco convencional. O laranja, como cor da recreação, é também a cor do que não se leva a sério. Quem usa laranja quer se sobressair. Assim, o laranja é também a cor dos inconformistas, dos originais.
Fato curioso: durante séculos, o laranja era a cor do plástico. No início da era dos plásticos, nos anos 1970, as pessoas sentiam orgulho de seus materiais sintéticos; como não existia nenhum material natural na cor laranja, essa cor foi estabelecida para identificar tudo o que fosse artificial.
Por que a roupa preta é sempre preferida? Preto é a cor da individualidade. Como cor que delimita, a roupa preta permaneceu popular entre todos os grupos que queriam estar acima da norma, acima da massa, que não queriam se adaptar aos valores vigentes. O preto é a cor que menos depende da moda.
Consultei uma especialista no ramo, Bárbara Garcia – arquiteta e cenógrafa, coordenadora de arquitetura da tm1 – e ela trouxe algumas dicas e desafios sobre como trabalhar as cores na cenografia.
“A escolha da paleta de cores parte do brandbook da marca, então a sacada é usar cores complementares ou secundárias e explorar isso da melhor forma através dos materiais. Depende muito também do tipo de evento, que se é mais fun, usa cores mais fortes e contrastantes, e se é mais corporativo, usa tons mais sóbrios para trazer seriedade. Eu acabo combinando muito os tons da marca com diferentes materiais, como por exemplo na Amazon Prime. Quando tem um evento corporativo, a gente usa basicamente o azul, o preto e o branco, mas com móveis mais sofisticados, por exemplo, em veludo. Então esse mix de cores e materiais cria volumetria e harmonia.
Já numa CCXP, por exemplo, a gente trabalha com as cores complementares e secundárias da marca. As cores fortes atingem mais o público, despertando mais interesse, porque ali existe uma disputa de atenção. Acho que o desafio é fazer com que os diretores de fotografia e a técnica entendam o que a gente quer explorar dentro do cenário. Então, a iluminação e a disposição dos materiais tem uma importância enorme”.
A maior parte desse texto foi retirado do livro “A Psicologia das Cores”, de Eva Heller. Para quem quiser se aprofundar em outras cores e pesquisas completas, recomendo também os livros abaixo:
- “Da Cor à Cor Inexistente”, de Israel Pedrosa (Editora Senac São Paulo)
- “Psicodinâmica das Cores em Comunicação”, de Modesto Farina, Clotilde Perez, Dorinho Bastos (Editora Blucher)
Imagem de capa (direitos reservados): James Turrell Ganzfeld «Aural», 2018 | © James Turrell | photo: Florian Holzherr
Boa leitura!
Até a próxima,
Julia