Hoje vou pedir licença a meus leitores para abordar uma temática muito especial. Certamente já deparamos com ela ao longo da vida. Ouviram falar de marketing pessoal, pois não? É aquela competência que permite a você crescer e se desenvolver na sua carreira. O desafio é ter a medida certa para que isso aconteça naturalmente, nem mais, nem menos.
Tempos depois, surge o conceito de inteligência emocional. Uma habilidade muito importante para que os profissionais consigam engolir e distribuir sapos, sem que isso determine qualquer aspecto negativo em seu comportamento. Assim, em certas ocasiões, engolir o distinto batráquio ganha a alcunha de resiliência, e demonstra a nossa capacidade de continuar vivo no sistema. Por outro lado, a distribuição dos sapos, dependendo da situação, significa a capacidade do líder de fazer com que seus subordinados cresçam, na medida em que souberem lidar com a situação.
Poderia-continuar nesta linha, mas na verdade quero que esta pequena introdução me dê a oportunidade de tratar do tema deste artigo: a coragem de dizer “eu tenho medo”.
Luiz, não estou te entendendo. O que você deseja compartilhar conosco, afinal? Simples. Eu quero dizer a vocês que tenho medo. Exatamente. Parece uma afirmação sem sentido, mas me acompanhem até o final.
Não quero, nem de longe, me vitimizar. Ao contrário, a cada final de ano comemoro, dizendo: Venci 2022! E, mais do que isso, depois de cerca de 40 anos trabalhando para alguém, em breve completarei oito anos de trabalho para a minha empresa. Legal. Se isso é verdadeiro, qual o problema? Não vejo nenhum. Ou talvez existam muitos.
Nesses anos escrevi dois livros: um como ghostwriter e outro como uma espécie de coautor, ambos publicados. Depois, escrevi outro livro. Sim, é verdade. Escrevi um livro sobre as minhas aventuras no marketing. E o fiz de forma que mesmo aqueles que não militam nessa área possam ler e se divertir. Apresentei esse livro a alguns editores. Bem, o resultado vocês já sabem. Recebi até uma proposta para publicar: R$ 30 mil a pagar pela produção de 300 exemplares. Gente, barato!
Outro fato muito interessante aconteceu logo que deixei o mundo corporativo e montei e assumi a minha empresa. Comecei, então, a desenvolver meu portfolio de produtos. De cara achei que um excelente produto a ser desenvolvido seria escrever uma palestra. Muita história para contar. Então, mãos à obra. Fiz.
A primeira pessoa a quem mostrei foi minha mulher. Delicadamente, ela, como a profissional de RH e treinamento que foi a vida inteira, me disse: “Luiz, o tema da sua palestra não pode ser só você. O que você tem para compartilhar? Ninguém quer saber os motivos por que você deixou a engenharia e foi fazer comunicação, não neste contexto.”
Fiquei muito p. da vida, sem conseguir raciocinar, e comecei a mexer nos slides e vídeos. Logo uma nova versão estava pronta. Dessa vez, porém, eu iria procurar um santo em outro terreiro. Mostrei para a minha coach. Resultado: “Luiz você pretende apresentar esta palestra para quem? Qual a mensagem…” Interrompi. Já sei o final desta ladainha; ninguém está interessado no meu passado. Mas eu não concordo. O fato mais dramático, e que me fez aprender muito, foi o dia em que fiz essa palestra e, no meio dela, eu queria sumir, pois era horrível! As duas tinham razão. Mas não desisti do produto. Comecei tudo de novo.
Fiz um curso de seis meses no Instituto Gente. Em seguida, fiz uma mentoria. Depois de quase dois anos, finalmente, encontrei o tema. Então, tudo ficou mais fácil. E não existem mais versões. Existem aprimoramentos na medida em que ela vai se desenvolvendo dentro mim mesmo. Uma palestra é um organismo vivo. Agora, quem não aguenta mais a palestra é o espelho aqui de casa, que já é capaz de apresentá-la sozinho.
E voltamos àquele ponto do livro: quem topa publicar – me perdoem – quem topa contratar? Afinal, é um risco enorme bancar um palestrante novo, ou um autor novo.
Chegamos então a um produto que teria tudo para ser um produto premium: marketing esportivo. Aprendi essa matéria do mesmo modo que aprendi as disciplinas da escola em que não tinha a menor destreza, química e álgebra: colei o tempo todo. Todos que já prepararam colas para suas provas sabem muito bem que essa é uma forma bastante eficiente de aprender. Assim foi. Um dia, recebi uma ordem: assuma o gerenciamento do projeto de basquete e vôlei feminino, BCN/Finasa Osasco. No início, não tinha a menor ideia de como fazer aquilo acontecer, mas mesmo assim, novamente, mãos à obra.
De quem era o melhor projeto esportivo naquele momento? Fácil. O Leites Nestlé tinha disparadamente a melhor estruturação não só esportiva, mas de marketing também. Como nunca tive vergonha de aprender, achei o gestor, o Sr. Antônio Feitosa, e lá fui eu atrás dele, com minha equipe, para aprender e depois colar – ops, mil perdões, copiar – o que eles já faziam com grande sucesso. Depois de cerca de três anos de trabalho, éramos modelo em todos os aspectos.
Nesse período, integrei os comitês de marketing do basquete e do vôlei. Ato contínuo, aparece em minha carreira a possibilidade de estar nos Jogos Olímpicos. O Rio de Janeiro se candidatava pela segunda vez, e lá fomos nós atrás desse bonde. Em 2008, levamos 350 pessoas para assistir aos Jogos de Beijing. Por que não apoiar o Brasil naquela empreitada? E não é que o Rio foi mesmo a capital mundial do esporte olímpico em 2016? Para não perder a oportunidade, construímos um plano B, no qual apoiamos o basquete, a natação, a vela, o judô, o rúgbi e o remo, além do esporte paralímpico. Uma experiência altamente gratificante.
Como parte do treinamento para os Jogos do Rio, fui escolhido para gerenciar o projeto Rio 2016 dentro da organização onde trabalhava. Novamente, aprender com quem fez bem, colar e pôr em prática. A partir do contato que mantive com bancos que patrocinaram os jogos em seus países, o Lloyd’s Bank me convidou para conduzir a tocha olímpica na Escócia. Acredito que fui um dos poucos brasileiros que tiveram essa honra. Depois disso foram 33 dias em Londres durante o evento e quase 50 reuniões com empresas, entidades, veículos de comunicação e os Comitês Olímpicos Internacional e Brasileiro. Estavam aí as bases do plano estratégico, que ficou pronto ao final de 2012.
Quis o destino que, em 2013, eu deixasse a organização que iria patrocinar os jogos. Meu sonho tinha sido abortado. No entanto, mais uma vez, não desisti. Planejei, produzi e realizei a Casa do Voleibol nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Um projeto que venceu como o maior legado de uma instituição internacional para a cidade, uma vez que a casa foi construída a partir da reforma de uma escola municipal, deixando-a novinha para que os alunos pudessem ter uma condição mais digna em seu aprendizado.
Que história! Emocionante, rica e cheia de momentos incríveis. Mas o passado não te garante nada em tempos futuros.
Quero finalizar, voltando ao título, afirmando a vocês que tenho coragem, hoje, de dizer que tenho medo. Sim, medo de não querer mais aprender, de não me apaixonar novamente por um novo projeto, de não querer mais compartilhar.
Hoje se fala muito em discriminação. Nunca pensei que fosse viver este tipo de coisa. Puro engano. Nas últimas empresas onde trabalhei, os jovens brilhantes que lá estavam sempre me consideraram um velho ultrapassado. Perdemos todas as concorrências de patrocinadores olímpicos no Jogos do Rio 2016, simplesmente por ignorarem, e muitas vezes esconderem, os projetos que iam ser apresentados. Afinal, o que eu teria para contribuir?
Mas sigo um mantra, que também é o título de um dos livros de meu mentor, Roberto Shinyashiki: Desistir? Nem pensar! Pois a verdade é que ainda existe o Júlio Feijó, que há três anos publica meus artigos; a Carol Brandão, que me ajuda a enxergar os caminhos; o Mauro Lacerda, que ainda confia em meus planejamentos; a Cinthia Bandeira, que me ensinou a escrever; e a Neide Clarck, que aperfeiçoa os detalhes de meus textos. Certamente existem outros, não muitos, que esqueci e por isso peço que me perdoem.
Se algum dos leitores se interessar pelos meus produtos, por favor: [email protected]. Tenho certeza de que será muito boa a experiência.