O dia 1º de abril é considerado o Dia da Mentira. Apesar de não ser algo tão bom de comemorar, uma vez por ano as pessoas têm autorização para pregar uma peça nos amigos.
A questão é que muitas pessoas vivem no mundo da fantasia diariamente, criando tantas mentiras que acabam acreditando nelas. A fábrica de ilusões da vida perfeita que algumas pessoas compartilham em suas redes sociais, reforçam a sensação de que a situação das outras pessoas é sempre melhor que a nossa; que seria possível estarmos em outro lugar, fazendo algo diferente do que fazemos, comprando o que não precisamos.
A necessidade de aprovação dos outros, de mostrar sempre a imagem perfeita, de ser famoso, da felicidade eterna, faz a vida na rede social se afastar cada vez mais da realidade.
Vidas baseadas em trocas de curtidas e comentários, mas que do outro lado da tela está uma realidade muito diversa da exibida. Afinal, será que o vazio de uma vida repleta de felicidade inventada vale a pena? Teria a felicidade se tornado uma obrigação?
Ora, todos sabemos ou descobrimos, mais cedo ou mais tarde, que é impossível ser feliz toda hora.
Todo mundo passa por aborrecimentos, frustrações, tristeza e desânimo. Mas isso normalmente não mostrado nas redes sociais.
Só que muitas pessoas acabam entorpecidas pela vida que mostram em seus perfis no Instagram, TikTok e outras redes. Isso faz com que elas fiquem entorpecidas pelas curtidas e reações e acabem acreditando que aquela vida é real.
De acordo com o terapeuta e filósofo clínico, Beto Colombo, muitas pessoas não percebem a sutileza entre o mundo virtual e o real.
A internet hoje é um lugar perfeito, em que parece não haver espaço para a realidade. Normalmente a dicotomia entre a vida real e a vida virtual aparece mostrando um distanciamento entre o que a pessoa vive realmente e o que posta nas redes sociais, o que pode causar vários transtornos mentais.
“Por algum tipo de insatisfação pessoal e social, a pessoa sente a necessidade de mentir e isso pode se tornar uma compulsão”, aponta.
Alguém que é viciado em mentir é considerado um mitômano, um distúrbio relacionado ao modo como a pessoa deseja ser vista.
A Mitomania não é uma doença ou um transtorno, mas um comportamento crônico vir junto com outros transtornos ou ainda de outros comportamentos compulsivos.
Além da mitomania, uma vida de mentiras e aparências nas redes sociais pode causar outros problemas psiquiátricos.
Um estudo feito pela University College London com cerca de 11mil jovens, descobriu que as garotas têm duas vezes mais propensão a apresentarem sintomas depressivos.
Três quartos delas são diagnosticadas com depressão e problemas com autoestima.
E mais: elas mostraram insatisfação com a própria imagem e insônia, por conta da relação com aplicativos.
Uma outra pesquisa, também feita em Londres, pela Royal Society for Public Health, entrevistou 1.500 pessoas de 14 e 24 anos e revelou que taxas de ansiedade e depressão aumentaram em 70% nos últimos anos.
Este estudo recebeu o nome de status da mente (#statusofmind); a avaliação foi que o Instagram é a plataforma mais nociva ao psicológico dos adolescentes.
Isso pode ocorrer, segundo Colombo, porque algumas pessoas são na internet, quem elas gostariam de ser, e não quem verdadeiramente elas são.
“Para alguns a vida perfeita das redes sociais é o que mantém a pessoa motivada para encarar a dura realidade de um ônibus lotado, de um dia difícil de trabalho, de um chefe rude e de um salário magro. A rede social é um ambiente onde muitas pessoas se realizam, conseguem ir além do seu ambiente e viver uma felicidade, ainda que virtual”, acrescenta ele.
O filósofo clínico conclui que algumas pessoas não conseguem se observar, não se conhecem o suficiente e com o tempo, e por não fazer divisão passam a acreditar que são o próprio personagem que elas inventaram e postam nas redes sociais.
“Esse pode ser um transtorno mental para algumas pessoas e reflexo de um vazio existencial. Para outros o mundo real é frio, feio, escuro e o ambiente virtual é um escape da vida real, é um mundo de possibilidades”, conclui.