Parte 1 – Um novo grupo. De novo.
No início do século 21, meu filho fazia intercâmbio nos Estados Unidos. Eu ia tirar uns dias de férias e resolvi fazer uma surpresa para minha esposa e minha filha. Faríamos um passeio perto de onde ele morava e eu combinaria com ele de nos encontrarmos. Mataríamos as saudades, pois ele já estava fora havia seis meses.
Conversa vai, conversa vem, incluímos uma passagem para visitarmos Cancún, antes. Ato contínuo, minha mãe soube. Perguntou se poderia ir conosco. Claro! Seria uma surpresa pro meu filho também. Dias depois, uma prima do meu pai estava junto, além de mais duas primas minhas. Uma delas pouco mais velha do que minha filha. Ótimo, pensei, vai fazer companhia a ela.
Nossa memória é muito fraca… Seríamos eu e mais seis mulheres. Mas dessa vez seriam todas da minha família. Tranquilo.
Para o México precisa tirar visto. Eu não sabia!!! E não é a coisa mais simples do mundo. Fui ao consulado e voltei várias vezes, e o sargento que me atendia mais parecia ter chegado de uma perseguição ao Zorro do que saber o que fazer para o visto sair. Faltava uma semana para a viagem e nada. Cinco dias, lhufas. Três dias, o sistema teve um problema. Dois dias, passa aqui amanhã. Não sabia se fazia as malas ou não.
O pessoal em casa já estava completamente sem paciência. No dia da viagem, pela manhã, consegui liberar os passaportes. Fui ao escritório fechar minhas coisas. Feito isso, entrei no carro para ir em casa e depois direto para o aeroporto.
Parte 3 – A saga da viagem
E na Marginal Pinheiros, o mundo caiu. Uma daquelas chuvas de verão de São Paulo. Parou tudo, mal se conseguia enxergar, mas eu tinha que chegar. O tempo passando e nada de a chuva parar. Levei quase duas horas.
Quando cheguei em casa, o táxi estava na porta. Malas no porta-malas, motorista esperando. Rapidamente uma chuveirada e de novo no carro, em direção ao aeroporto. Não sei como, mas chegamos.
Check-in feito, bagagem despachada, vamos viajar! Olhamos no painel: nosso voo, atrasado; o voo da turma que vinha do Rio, nem havia levantado. Motivo: meteorológico. Hora e meia depois, o grupo estava reunido e pronto para embarque. As quatro que vieram do Rio brancas e apavoradas, por conta do sacolejo do avião.
Parte 3 – Hotel Krystal, Cancún
Chegamos ao hotel e foi uma surpresa. Todo branco, mármore branco. Uma escadaria linda, limpinha, e os bellmen vestindo uma bela farda vermelha, completamente inadequada para o calor que fazia.
Ficamos animados. Tinha praia particular e um monte de atrações. A van parou, íamos saltar, e de repente uma das primas se apressa e quase sai voando pela janela. Mas infelizmente não deu tempo, foi ali mesmo.
Estava passando mal e não conseguiu esperar. A escada recebeu uma enorme quantidade de vômito, que devia estar embrulhando o estômago da moça há muito tempo. Não tive coragem de fotografar, mas a cara dos bellmen era impagável. Não sabiam se pegavam as malas, ajudavam a garota ou providenciavam a limpeza rapidamente.
No quarto, pensei: vai começar tudo novamente. No segundo seguinte, batem à porta: “Luiz, pode falar aqui com o seguro saúde? Não estou entendendo nada.” Chamamos o médico. A figura que apareceu parecia saída de um filme do Jerry Lewis (sei que muita gente não vai saber quem é, mas pesquisem no Google). Bem, era aquilo ou nada. Aplicou uma injeção, recomendou repouso e afirmou que à noite estaria tudo bem.
Fomos para a praia e deixamos a prima descansando. Por volta das quatro da tarde retornamos para tomar banho e descansar um pouco. Assim que me sentei batem à porta: “Luiz, Luiz, vem aqui correndo!”
A menina estava toda inchada. Provavelmente uma alergia à medicação. “Chama outro médico, rápido!” Aparece novamente o Jerry Lewis. Depois de muito tempo deu pra pedir um sanduíche no room service. Foi nosso primeiro jantar em Cancún. Mas tudo estava bem novamente. Afinal, no dia seguinte teríamos passeio de lancha e mergulho.
Parte 4 – A lancha
Chegamos cedo ao local. Os mexicanos nos receberam com festa. Muito entusiasmados. Fizeram uma explanação de como seria e agora era hora do treinamento. Treinamento??? Sim, isso mesmo.
A lancha era uma… bem, parecia um carrinho Matchbox (usem o Google novamente) da minha infância. Pequenininha. Íamos naquilo para o mar, mergulhar? Não acreditei. Mas não era só isso. Havia uma quantidade enorme de gente, e cada dois iriam numa daquelas lanchas. As instruções e o treinamento levaram não mais que dois minutos. Señor, acá adelante, o barco vai para a frente. Acá atrás, vai para trás. Aqui acelera. Aqui dirige. Ok? ¿Entiende? Understand? Então, vamos. E lá saíram as lanchas, numa louca disparada.
Tentei acompanhar, mas minha bunda voava cada vez que passava uma marola. E estava com minha filha, ou seja, eu tinha que segurá-la também. Até que chegou uma hora que eu parei. Veio o mexicano:
– ¿Qué pasa, señor?
– Não podemos ir mais devagar? – perguntei.
– No, no, tenemos hora para volver.
Pensei: ainda nem chegamos e o cara já está com pressa de voltar.
– Mas eu vou mais devagar. Respondi.
E o cara saía correndo e voltava.
Chegamos à área de mergulho, que simplesmente era uma boia, e as lanchinhas ali amarradas. Mal chegamos um deles gritou: Está na hora! Vámonos. Belo passeio.
Saíram todos correndo em disparada, novamente. Eu peguei o mexicano com quem falei e disse a ele:
– Eu vou devagar. E se me encher o saco paro esta bosta em qualquer lugar e vocês vão ter que sair procurando.
Até que a volta foi legal.
Parte 5 – Hotel Cristal, de novo
Era hora de ir embora. Ainda bem. Não gostei do lugar, exceto de um bar que fomos no centro, Los Pericos, se não me engano, mas o resto era muito fraco. Na hora de sair, na recepção do hotel estavam os nossos rapazes naquelas roupas vermelhas absurdas e de botas, suando feito uns doidos. Feche a conta, por favor.
Havia me vestido com a mesma roupa com que fui jantar. Coloquei a mão no bolso, não achei a carteira, nem o passaporte, nem coisa nenhuma. Uma baita confusão começou. Todo mundo dando palpite.
E aí não deu outra, ali na recepção de um hotel chique, malas abertas e toca a colocar as coisas pra fora. Meia, cueca, roupa suja, sapatos, enfim, tudo. Achei o passaporte. Estávamos em cima da hora. Fui roubado, me conformei. Quis acionar os cartões de crédito, mas não havia tempo. Alguém pagou a conta do hotel pra mim, pegamos a van e toca para o aeroporto.
Chegamos. Check-in, malas despachadas, saímos correndo para o portão de embarque. Fomos os últimos a entrar. Sentei-me aliviado, mas meio esbaforido, e pensei: já vi este filme antes…
No hotel em Nova Orleans percebi duas coisas muito importantes: a primeira, não tinha perdido a carteira, achei no bolso da calça; e a segunda, eu tinha duas calças exatamente iguais.
Parte 6 – Norlands
É assim que o pessoal da cidade se refere a Nova Orleans. Pousamos. A essa altura meu filho já nos aguardava. Deixei todos irem na frente. Quando depararam com ele, foi uma balbúrdia só. Abraça, beija, grita. Veio a segurança perguntar se estava tudo bem.
A cidade eu já conhecia, uma maravilha para passear e curtir. Jazz na rua, música, balé, arte. E muitos Hurricanes. Todos ficaram encantados. Num determinado momento, disseram: Vamos fazer um passeio de barco no rio Mississipi. Como eu já conhecia, sugeri marcar um jantar a bordo na última noite, pois a paisagem em si não é bonita. Todos concordaram.
Chegamos ao hotel e fizemos as reservas para o jantar. O transfer passaria para nos buscar. No dia marcado, nos preparamos e fomos para o lobby aguardar. Passou a hora e nada. Dez minutos. Quinze. Fui até a recepção e pedi que fizessem contato.
A resposta foi assustadora. Não sabiam do que estávamos falando. Reuni a turma e disse: Vamos para o porto de táxi. E assim fizemos. No local marcado, tudo escuro, barco ancorado. Ninguém por perto. Até que apareceu um sujeito e nos confirmou o que eu desconfiava: Today? Dinner? No, no. Once a week the ship is off. Our crew needs to rest. E ficamos sem o jantar cajun no rio Mississipi.
Parte 7 – De volta pra casa
Um certo déjà vu. Já tinha vivido uma aventura parecida e estava com um sentimento parecido. Fomos para o aeroporto. Escala em Miami. E aí, outro objeto que já conhecia apareceu: a bolsinha. Sim, muitas bolsinhas para o free shop. Mais uma vez o parque de diversões estava aberto: a enorme loja de Miami. Chegamos para fazer conexão com três horas de um voo para o outro. E a cena foi a mesma: várias bolsinhas em disparada pelo aeroporto em busca do portão de embarque para o Brasil. Impressionante como o raio cai no mesmo lugar. Mas embarcamos.
O avião parecia um assentamento de terras invadidas. Ai, meu Deus, tudo de novo. Passageiros querendo trocar de lugar sem saber onde eram suas poltronas. Enormes bichos de pelúcia ocupando espaços. Baleias, leões, Plutos, ratos e patos. Malas de mão, de cintura, mochilas de todos os tamanhos, pacotes, que obviamente não cabiam nos lugares acima dos respectivos assentos.
Um experto entrou e colocou seus pertences bem próximo da porta de saída e foi se sentar lá atrás. O dono do lugar chegou, olhou, viu tudo ocupado e perguntou aos vizinhos se aquela bagagem era de alguém. Todas as respostas negativas. O cara não teve dúvida, tirou tudo. Empilhou no corredor e colocou sua bagagem no lugar. O dono das malas percebeu e veio partindo para cima, reclamando. Quinze minutos de discussão. E uma solução muito difícil, pois o espaço lá atrás já estava todo tomado. Enfim, levantamos voo.
No dia seguinte, hora de voltar para o trabalho. Poxa, já não era sem tempo!!!