Se todo o Promoview respirou SxSW nos últimos dias, é claro que a coluna aqui não poderia ficar de fora. Entre inovações futuristas, tendências emergentes e as centenas de atividades que rolaram em Austin, preciso falar sobre a palestra da Amy Webb. Ela abordou o futuro da inteligência artificial (IA) e trouxe vários temas que tenho escrito aqui e outros que logo vou publicar.
Amy Webb é futurista e CEO do Future Today Institute. Anualmente o instituto publica um relatório e o deste ano foi batizado de “incertezas“. Convenhamos, é super apropriado, pois se alguém tem certeza de algo neste momento… Talvez precise se questionar mais!
Com análises em diversos aspectos tecnológicos, sendo a IA apenas um deles, a proposição do relatório é uma reflexão profunda sobre como essa tecnologia está moldando nossa realidade e o que podemos esperar no horizonte. A seguir comento um pouco de cada tema.
Acessibilidade e integração da IA no cotidiano
A democratização da IA, iniciada pelo ChatGPT, revela seu crescente papel no nosso dia a dia. Essa tendência aponta para um futuro onde a IA se tornará ainda mais integrada à nossa vida, transformando desde as tarefas mais simples até as mais complexas decisões empresariais.
Dinâmicas geopolíticas da IA
É claro que fazer mais com a IA não é apenas uma disputa entre empresas. Países também estão competindo, implícita ou explícitamente, para serem os melhores em inteligência artificial. Todos querem usá-la para melhorar sua economia e poder.
Mas, antes de sair criando com IA, é importante pensar em como ela é feita. É preciso considerar a inclusão, para que os benefícios estejam disponíveis para todos. Algumas pessoas sonham com a criação de regras globais para a IA, para que todos sigam o mesmo caminho. Eu considero utópica a ideia de uma “governança global”, mas tenho acompanhado iniciativas de grupos internacionais tentando fazer isso acontecer, por exemplo:
- Parceria em IA (Partnership on AI): colaboração entre empresas de tecnologia, organizações da sociedade civil, acadêmicos e pesquisadores, focada em garantir que as aplicações de IA beneficiem a sociedade e sejam desenvolvidas de forma ética.
- UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura: trabalha em várias frentes para promover a ética na ciência e tecnologia. Ela busca fomentar o diálogo internacional e desenvolver políticas que apoiem o uso responsável da IA.
- Comissão Europeia – Inteligência Artificial: abordagem focada em garantir que o desenvolvimento e uso da IA na Europa sejam seguros, éticos e respeitem os valores e direitos fundamentais. O site oferece informações sobre as políticas, estratégias e regulamentações propostas pela União Europeia para a IA.
Desenvolvimento sustentável de IA
A sustentabilidade vai impactar no avanço da IA e o desafio será equilibrar inovação tecnológica com responsabilidade ambiental. Isso porque para a IA existir são demandados recursos naturais, tais como:
- Alto consumo de energia: o treinamento de modelos de IA, especialmente aqueles baseados em aprendizado profundo, requer uma quantidade significativa de recursos computacionais e energia elétrica, muitas vezes proveniente de fontes não renováveis. Isso levanta questões sobre o consumo excessivo de energia e as emissões de carbono associadas.
- Ampliação de data centers: os data centers que suportam as operações de IA e armazenamento de dados massivos consomem grandes quantidades de eletricidade e água para resfriamento. A eficiência energética desses data centers e seu impacto no meio ambiente são preocupações importantes.
- Obsolescência e resíduos eletrônicos: o ciclo rápido de inovação tecnológica pode levar à obsolescência acelerada de hardware, resultando em um aumento de resíduos eletrônicos. A gestão e reciclagem apropriadas desses materiais são desafios importantes para reduzir o impacto ambiental.
- Extração de recursos: a produção de dispositivos e componentes eletrônicos para IA requer minerais e outros recursos naturais, cuja extração pode causar degradação ambiental, perda de biodiversidade e impactos sociais nas comunidades locais.
- Viés nos dados e sustentabilidade: o viés (bias) nos conjuntos de dados usados para treinar algoritmos de IA pode levar a resultados que ignoram ou subestimam considerações de diversidade e sustentabilidade, potencialmente perpetuando práticas insustentáveis.
- Impacto na força de trabalho e na economia: enquanto não estritamente ambiental, a automação impulsionada pela IA pode ter impactos econômicos significativos, incluindo desemprego e desigualdade, que por sua vez podem afetar a sustentabilidade social e o bem-estar das comunidades.
- Soluções sustentáveis subutilizadas: há também a preocupação de que a ênfase na inovação tecnológica possa desviar a atenção de soluções simples e sustentáveis já disponíveis, priorizando o desenvolvimento de IA em detrimento de abordagens mais ecológicas.
Para abordar essas questões, é necessário promover práticas de desenvolvimento mais sustentáveis, como o uso de energia limpa, a otimização de algoritmos para reduzir o consumo de energia, o design de data centers mais eficientes e o encorajamento de práticas de reciclagem e gestão de resíduos eletrônicos.
Também é preciso incorporar considerações éticas e de sustentabilidade desde o início do processo de design e desenvolvimento de tecnologias de IA.
Considerações éticas e segurança em IA
A ética e a segurança são temas centrais na evolução da IA (meu artigo anterior a este foi sobre isso). Isso vai exigir mais reflexão sobre como essas tecnologias são desenvolvidas e implementadas. A necessidade de sistemas de IA alinhados com valores humanos fundamentais é imperativa para evitar potenciais danos sociais e garantir o bem-estar coletivo.
O futuro do talento em IA e desenvolvimento da força de trabalho
95% do trabalho realizado por agências e criativos será executado pela IA em 5 anos, disse Sam Altman, criador da Open AI.
Eu não sou fã de teorias dominadoras, ainda mais quando partem de empresas de tecnologia. Além disso, concordo com o relatório do Future Today que a transformação trazida pela IA demanda uma nova geração de talentos. Se 95% do trabalho que conhecemos hoje vai sumir, certamente precisaremos de pessoas capazes de aprofundar nas complexidades das tecnologias emergentes.
A interdisciplinaridade, envolvendo o cruzamento entre tecnologia, humanidades e ciências sociais, será essencial para moldar profissionais aptos a liderar essa nova era. Há cerca de duas semanas, fiz uma live com o Cláudio Bruno da Cortex Intelligence e falamos precisamente sobre isso.
Impacto da IA em diversos setores
A IA pode mudar muitas áreas, trazendo chances de fazer coisas de um jeito mais personalizado, eficiente e cativante. Usar a IA de um jeito que inclua todo mundo é uma ótima ideia para criar experiências com marcas que sejam mais interessantes e profundas. É como eu vejo: o que IAs como o ChatGPT estão fazendo hoje, só se compara à grande mudança que a internet trouxe.
Devemos lidar com a inovação de um novo jeito, procurando garantir que a tecnologia cresça de maneira ética, sustentável e justa, pensando no bem de todos. Esse futuro nos desafia a nos adaptarmos e a nunca pararmos de aprender. Destaca como é importante olhar para a tecnologia e para o conhecimento humano e social juntos, para criar soluções que mostrem como somos diversos e complexos.
Para mim, o que o relatório conclui reafirma que o futuro da IA depende de como a usamos. Se até agora a gente não conseguiu resolver problemas como desigualdades e aquecimento global, talvez, com essa nova tecnologia, possamos começar a fazer um mundo melhor… E não dá mais para dizer que não vamos ver isso acontecer, porque já estamos no caminho desse futuro a passos largos.