Luiz Fernando Coelho

Impulso

O colunista Luiz Fernando Coelho reverencia Rogério Dardeau

Você já pensou em como começou realmente a definir sua vida acadêmica, o curso universitário que iria fazer, depois de encerradas as atividades do ensino médio?

Quando faço essa pergunta, gostaria que você se engajasse na resposta. Isso significa tentar lembrar daqueles detalhes não muito importantes à época, mas que acabaram ganhando enorme importância, mesmo que não de forma consciente. (Às vezes me pego perguntando quanto do que somos é formado pelo nosso inconsciente. Mas isso é outro desenvolvimento.)

Pois bem, hoje, tendo trabalhado em quase todas as áreas da Comunicação, posso compartilhar com você diversas experiências e sentimentos possíveis ao longo desses anos. Resultados, sucessos, fracassos, aprendizados, relacionamentos envolvendo toda sorte de sentimentos e emoções. Talvez, hoje, o que mais prezo sejam as pessoas que conheci e ainda reconheço.

Mas acho sinceramente que todos nós estamos de saco cheio de ouvir o politicamente correto. As melhores histórias sempre foram aquelas que trouxeram saias justas, problemas, muitos tropeços. E digo isso porque essas situações acabaram gerando enorme gargalhadas e um monte de histórias sensacionais para contar em minhas palestras ou quando estou diante de um mentorado da área de Comunicação. Apresentar nossa vulnerabilidade sempre é uma das melhores opções para ajudar quem está em algum tipo de dificuldade. Prezo muito o fato de ter formado alguns profissionais que hoje estão por aí, fazendo sucesso, ajudando suas equipes a atingir as metas. É o melhor presente que minha vida profissional pode me oferecer.

Voltemos ao nosso ponto nevrálgico: afinal, decidimos nossa vida pelo que é consciente ou pelo que é inconsciente? Será que o nome disso não é intuição? Se levarmos em conta somente o consciente, eu diria que tudo se torna muito chato; todavia, se soubermos perceber que o inconsciente nos apontou os caminhos, corremos um risco grande de seguir o que alguns dizem ser a intuição.

Para nos ajudar, Chico Buarque e Milton Nascimento nos ensinam em uma de suas grandes composições:

O que será que será
Que vive nas ideias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
… Que está na fantasia dos infelizes
… Em todos os sentidos, será que será
… E todos os destinos irão se encontrar.

Amar, cantar, fantasiar, sentir, encontrar. Será esse um bom começo para nossas escolhas?

Eu diria que sim. São atitudes poderosas que ao serem tomadas podem acrescentar muito à compreensão do motivo para chegarmos aonde estamos. Entender isso é trazer para o consciente parte dos elementos que influenciaram nossas decisões quando garotos, que pensavam e repensavam o que queriam ser quando crescessem.

Devo confessar que tive muitas dúvidas de como prosseguir do ensino médio para o superior. Todas as influências apontavam para uma carreira nas áreas de exatas. E no meu coração batia uma vontade enorme de trabalhar com Comunicação. Na hora H, de fazer minha inscrição, lá fui eu para uma faculdade de engenharia, com um destino final incerto.

Posso concordar que nenhum destino final é bom se não conseguimos tornar a jornada a parte mais interessante do que estamos vivendo. Passei, e não demorou muito para perceber que aquilo não me seduzia a ponto de me motivar a assumir uma rotina de aprendizado por quatro longos anos. Ao fim de um mês de aulas chatérrimas, com a motivação no pé, tomei outro rumo. Fechei a matrícula e fui enfrentar um novo vestibular, agora em Comunicação. Contra tudo e contra todos. Mas eu sabia que estava correto em minha decisão.

Para chegar ao ponto principal deste artigo, vou recuar um pouco mais no passado e recuperar algumas cenas e situações. Estava ainda no segundo grau – que era como se chamava o ensino médio na época – e mudei de escola para melhor me preparar. Pode parecer loucura, mas, sem conhecer ninguém e sem qualquer tipo de conhecimento do povo que ali habitava, acabei sendo indicado para assumir a liderança e continuar o desenvolvimento do jornal do grêmio escolar. Claro que topei, e por um ano fui o responsável por colocar no ar o jornal do grêmio, que se intitulava IMPULSO.

Revista Impulso, do Grêmio da GESJ

O que eu não sabia era que essa atitude faria uma enorme diferença lá na frente, principalmente por eu ter mergulhado de cabeça no desafio e ter obtido sucesso, com diretrizes sendo emanadas e realizadas por nosso grupo.

Percebi então que, mesmo sendo algo amador, baseado em nossa visão de mundo, pudemos exercitar o trabalho em grupo, com a produção de um veículo de comunicação, mesmo que restrito a um ambiente controlado; o relacionamento de produção, com o dono da gráfica; e comercial, com os “patrocinadores”. Enfim, uma turma que nós, garotos, nunca poderíamos imaginar que existia e com a qual pudéssemos nos envolver.

Isso aconteceu porque os que nos antecederam fizeram um trabalho muito importante. Dessa forma, pudemos dar sequência a ele. Coube a nós, ao recebermos de nosso colega Rogério Dardeau, a incumbência de tocar aquele jornal (acho eu que algo ficou gravado em meu coração), e por isso a ideia da Comunicação passou a ser forte o suficiente para que eu afinal revisse minha escolha, mesmo que inconsciente no primeiro momento de tomar um caminho.

Por isso dividi com vocês, meus queridos leitores e leitoras, esta reflexão sobre influências na construção de nossas trajetórias. Fica então um ponto para questionarmos: o que realmente me trouxe até aqui? Que tipo de influências sofri para que isso acontecesse?

A resposta? Não tenho. O que posso dizer é que esse exercício de busca intensa acabou me trazendo um elemento importante sobre objetivos, escolhas e construção de vida. Hoje acredito muito que esse fato me impulsionou, inconscientemente num primeiro momento, e com certeza originou sentimentos de busca do que queria fazer quase que incessantes.

Afirmo assim, com muita segurança, que o IMPULSO acabou me mostrando os caminhos para chegar a esta posição.

Obrigado pela leitura. Mas não se esqueçam de seguir sua intuição.