Especial Dia da Mulher

"A chave é essa: entender as necessidades racionais do público e traduzi-las de forma sensível e impactante", diz Juliana Barros

Diretora de Marketing da Avon fala sobre trajetória profissional, lideranças femininas e brand experience

Juliana Barros, atual Diretora de Marketing da Avon, começou na empresa como estagiária. Hoje, quase três décadas depois, é uma das principais responsáveis por manter o compromisso de empoderamento feminino e inclusão no DNA da marca.

Nesta semana de Dia das Mulheres, a profissional conversou com o Promoview sobre sua carreira, a importância da liderança feminina, cases e projetos que marcaram a sua trajetória, pessoal e profissional, e como a Avon continua inovando e utilizando o live marketing para atender e se conectar de forma autêntica com suas consumidoras.

Foto de Juliana Barros, CMO da Avon
Juliana Barros, Diretora de Marketing da Avon, fala sobre trajetória, lideranças femininas e brand experience 

Você assumiu um papel estratégico em uma marca historicamente ligada ao empoderamento feminino. Como sua trajetória dentro da Avon reflete essa missão?

Juliana Barros: estou na Avon há 29 anos. Comecei como estagiária e algo que me chamou a atenção foi o fato de a empresa ter uma liderança majoritariamente feminina, o que era raro na época. Quando fui fazer o processo seletivo, o slogan da marca era “The Company for Women”, e eu me perguntei se aquilo era realmente verdadeiro.

Durante as entrevistas, percebi que todas as líderes que me entrevistaram eram mulheres, o que confirmou a seriedade da empresa em relação ao empoderamento feminino. A CEO global da Avon na época também era uma mulher, Andrea Jung, o que me chamou ainda mais a atenção.

Quando entrei, compreendi a história da marca e seu compromisso em proporcionar independência financeira para as mulheres. A Avon inventou o modelo de venda direta, permitindo que mulheres que nem sequer tinham direito ao voto pudessem gerar sua própria renda. Ao longo do tempo, vi inúmeras consultoras transformarem suas vidas através da venda de produtos Avon, saindo de situações vulneráveis e conquistando estabilidade financeira e emocional. Esse impacto genuíno foi um dos motivos pelos quais me mantive tão conectada com a empresa ao longo desses anos.

Você acredita que esses anos dentro da Avon ajudaram a moldar sua visão estratégica?

Juliana Barros: acredito que sim. É difícil responder porque não vivi outra realidade, mas trago enraizado em mim os valores que aprendi desde que era estagiária. Sempre garanto que a Avon continue sendo uma marca que empodera mulheres, que se posiciona nas conversas relevantes e que retrata a diversidade da população brasileira. Cada decisão estratégica que tomo é pensada para garantir que a marca siga alinhada ao seu propósito histórico.

Tenho um cuidado muito grande em garantir que qualquer decisão que tomamos mantenha a Avon como uma marca que realmente fale com as mulheres e leve mensagens importantes a elas. Buscamos estar presentes nas conversas que acontecem na sociedade, retratar a diversidade, trazer campanhas inclusivas e manter um diálogo genuíno.

Como você enxerga a importância da liderança feminina dentro das empresas?

Juliana Barros: é fundamental. Não cabe mais no mundo de hoje termos equipes compostas por apenas um gênero. A diversidade amplia o olhar das empresas sobre o consumidor e proporciona tomadas de decisão mais equilibradas. No caso da Avon, que tem o público feminino como principal consumidor, é essencial que as mulheres estejam presentes na liderança.

Além disso, a diversidade dentro das empresas contribui para tomadas de decisões mais inteligentes e equilibradas. Homens e mulheres trazem perspectivas diferentes e, juntos, conseguem ampliar a visão estratégica do negócio. Não se trata apenas de representatividade, mas sim de uma necessidade real de evoluirmos enquanto sociedade.

Existe um projeto ou case de sucesso que tenha sido muito marcante nesses quase 30 anos que você está na Avon?

Juliana Barros: Um deles foi o lançamento do nosso batom de longa duração Power Stay, em 2019. Na verdade, esse projeto começou em 2018, antes do lançamento oficial. Em 2018, durante a Copa do Mundo Masculina de Futebol, existia – e ainda existe – um grande impacto na sociedade para assistir aos jogos. As marcas investiam muito nesse momento, especialmente em TV, que era um meio essencial naquela época.

E aí, como uma marca de beleza voltada para mulheres, pensamos: “Ninguém fala da Marta, que é uma rainha do nosso futebol, seis vezes campeã mundial. Precisamos dar visibilidade para ela. Nenhuma marca a contratou, enquanto todos os jogadores masculinos tinham patrocínio.”

Então, trouxemos a Marta para uma campanha de beleza, promovendo uma máscara de cílios durante o horário do jogo de futebol masculino – inclusive na final. Além disso, fizemos um filme contando a história dela, que foi exibido no intervalo do Fantástico. Não era sobre um produto, era sobre a Marta.

No ano seguinte, veio a Copa do Mundo Feminina de Futebol, em 2019, e lançamos o batom de longa duração Power Stay. Convidamos a Marta para ser a garota-propaganda do produto, que dura 16 horas. Ela não só participou da campanha, como entrou em campo usando o batom.

E, justamente naquele jogo, enquanto usava o batom roxo – cor associada ao empoderamento feminino –, Marta se consagrou como a maior artilheira de todas as Copas, masculina e feminina. Até hoje, ninguém superou esse recorde.

O batom resistiu do primeiro tempo até a prorrogação, permanecendo intacto. Foi um momento icônico! Criamos até a hashtag Veio para ficar, que representava tanto o batom quanto a Marta, consolidando a história do futebol feminino no Brasil.

Hoje, ficamos muito felizes em ver que, depois desse feito, outras marcas passaram a apoiar o futebol feminino. Mas a Avon foi a primeira. A partir daí, começou uma mudança na sociedade.

Outro projeto recente surgiu quando percebemos que, apesar de sempre trabalharmos com diversidade nas campanhas e produtos, não tínhamos certeza se nossas bases realmente atendiam à população negra no Brasil. Observamos que muitas marcas começaram a lançar uma grande variedade de tons de base, mas nos questionamos: “Esses 50 tons realmente refletem as peles negras do Brasil?” Para responder a essa pergunta, realizamos um estudo profundo.

Não lembro exatamente o número, mas pesquisamos muitas mulheres em todo o país. E descobrimos que, de cada 10 mulheres negras ou pardas, sete estavam insatisfeitas com as opções de maquiagem disponíveis no mercado. Além disso, a nomenclatura dos tons era problemática. Muitas cores para peles negras tinham nomes como “chocolate” ou “avelã”. Essas mulheres queriam se enxergar nas linhas de produtos e serem tratadas de forma igualitária.

Para resolver isso, reformulamos toda a linha de bases. Trouxemos uma especialista em peles negras dos nossos laboratórios nos Estados Unidos e contratamos a maquiadora brasileira Daniele Da Mata, referência nesse segmento. Juntas, elas conduziram uma pesquisa aprofundada para desenvolver tons realmente adequados à pele negra brasileira.

Mudamos também a numeração dos produtos: em vez de nomes, adotamos um sistema numérico padronizado. Assim, se uma pessoa for o tom 220 na Avon, ela será 220 em qualquer linha de maquiagem da marca. Essa mudança simplifica a escolha e evita frustrações.

Esse processo foi um grande desafio técnico, porque cada produto tem uma formulação diferente. Mas conseguimos garantir uniformidade nos tons. Esse projeto deu origem à campanha Essa é minha cor, que celebrou o orgulho da pele negra. Desde então, seguimos apoiando essa causa.

O que as marcas precisam entender sobre a experiência do consumidor feminino para se conectarem de forma autêntica?

Juliana Barros: O primeiro passo é ouvir. Uma marca acontece a partir do consumidor, de fora para dentro, e não o contrário. É essencial estar em contato com o público, entender suas demandas, observar comentários nas redes sociais e realizar grupos de pesquisa. A Avon é uma marca genuinamente feminina: nosso canal de vendas é majoritariamente composto por mulheres – mais de um milhão delas vendem nossos produtos. Elas são nossas primeiras consumidoras.

Além disso, nosso quadro de funcionários tem uma participação feminina muito relevante. Para se conectar com o público feminino, a marca precisa entender suas necessidades e estabelecer uma conexão emocional. Não basta apenas oferecer um produto funcional.

Vou voltar ao exemplo do batom. A rotina das mulheres é intensa – trabalho, família, autocuidado – e elas precisam de uma maquiagem que dure o dia todo sem preocupação. Esse é um insight técnico. Mas como contar essa história de forma envolvente?

Foi aí que surgiu a campanha da Marta. Unimos uma necessidade prática com uma narrativa emocional forte. Então, a chave é essa: entender as necessidades racionais do público e traduzi-las de forma sensível e impactante.

Como a Avon enxerga o papel dos eventos e ativações presenciais na construção do brand experience?

Juliana Barros: Os eventos são fundamentais. Eles proporcionam ao consumidor a oportunidade de testar nossos produtos e criar uma conexão direta com a marca. Nas nossas experiências, fazemos questão de escolher pessoas que representem nossos valores – uma marca diversa, acessível e inclusiva. Nossas ativações são sempre abertas. Você nunca verá um estande da Avon fechado. Queremos que todos se sintam à vontade para entrar e experimentar os produtos.

A Avon faz parte da cultura popular. Praticamente todo mundo tem alguma história com a marca – seja porque a avó ou a tia usavam, porque vendeu produtos para complementar a renda ou porque foi impactado por uma campanha.

Por isso, nossas ativações precisam refletir essa proximidade. Elas não são pomposas, mas acessíveis, amigáveis, intimistas e divertidas. Essa abordagem faz toda a diferença para criar experiências de marca memoráveis e genuínas.

Beatriz Maxima Repórter
Repórter
Formada em Jornalismo pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) e especialista em produção de conteúdo, é repórter do Promoview.