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Managing By Walking Around

Anos atrás, quando fui trabalhar na Companhia Atlantic de Petróleo, fui surpreendido por várias práticas que aquela empresa tinha, com o objetivo de fazer com que os profissionais que ingressavam na empresa, tivessem a exata noção do que era trabalhar numa distribuidora de petróleo.


Anos atrás, quando fui trabalhar na Companhia Atlantic de Petróleo, fui surpreendido por várias práticas que aquela empresa tinha, com o objetivo de fazer com que os profissionais que ingressavam na empresa, tivessem a exata noção do que era trabalhar numa distribuidora de petróleo.

Quando cheguei, no primeiro dia, minha secretária (foi uma das poucas vezes que tive secretária), me conduziu a minha sala.

Quando-entrei, perguntei a ela: Rosália tem certeza de que é esta a minha sala? A resposta foi imediata: Absoluta.

A pergunta era simples. Das enormes janelas de minha sala, que possuía até um conjunto de sofá, duas poltronas e uma mesa de centro, víamos o Pão de Açúcar e o morro da Urca. As pessoas deveriam pagar um pedágio para trabalharem com aquela vista. Logo troquei minha mesa de posição e a coloquei de frente para aquela maravilhosa vista.

Em seguida ela me deu um planejamento de reuniões e compromissos para os próximos 30 dias. 

Nesta relação havia por exemplo, 3 dias a serem passados num posto de serviço, para aprender todas as funções que ali eram executadas; desde abastecer um veículo, até descarregar um caminhão tanque cheio de combustível. Mais tarde fiquei na fábrica de lubrificantes e depois no terminal de armazenamento de combustíveis.

No meio destas atividades, conheci todos os vice-presidentes, os diretores e gerentes de primeira linha, cargo semelhante ao meu, além de ter uma última entrevista de boas-vindas, onde meu VP me levaria para um café com o Presidente.

Depois destes 30 dias, repletos de aprendizado, finalmente me sentei no departamento, para aí sim conhecer meus colaboradores e pares, dentro da área de comunicação.

Não se passaram 30 dias, e o treinamento me avisou que eu deveria estar em um curso, que se iniciava numa segunda e terminava na sexta da mesma semana. Caramba, pensei, quando vou realmente começar a desenvolver minhas tarefas.

No treinamento, fui apresentado ao método de gerenciamento, que tem por título a sigla MBWA – Managing By Walking Around.

Sem dúvida, uma das coisas mais preciosas que aprendi em minha vida profissional. E a partir deste método, passei a entender muito facilmente o porquê da necessidade de fazer tantas reuniões e tantas visitas. A crença da empresa estava no conhecimento do processo, mesmo que superficialmente, para que depois você pudesse atuar com mais assertividade. E foi este método, que me ajudou a resolver um enorme desafio nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.

Nunca poderia imaginar que esta ferramenta, fosse a chave da solução do problema, que meu consultor Michael Payne, para os assuntos de Olimpíadas, me colocou, faltando 1 ano para a abertura dos Jogos.

Era julho de 2015, uma tarde comum na agência onde trabalhava em São Paulo. Toca o celular, e logo identifico meu amigo Michel, do outro lado da linha.

Como sempre afetivo e bem-humorado, tanto quanto um inglês possa ser, e ele me diz: 

–  Luiz, estou junto com a FIVB – Federação Internacional de Voleibol, tentando construir uma ativação na RIO 2016, e não estou conseguindo. Can you help me?

Eu fiquei lisonjeado pois o papa do marketing de olimpíadas estava me pedindo ajuda.

Minha resposta foi afirmativa, e então ele começou a me passar o problema.

A FIVB, queria fazer a Casa do Volei, funcionando todo o período dos Jogos RIO 2016, em algum lugar desde que fosse na Praia de Copacabana. E mais tinham uma verba limitada para isso.

Logo imaginei, osso. Não poderia ser diferente.

Sabia que os aluguéis de restaurantes na orla de Copa, estavam, naquela época, por uma grana que eles não tinham. Mas tinha em minha cabeça que também, que precisava ser uma coisa diferente, um projeto que se houvesse alguém tentando resolver internamente, somente um brasileiro pudesse ter esta ideia. 

Foi aí que eu me lembrei do MBWA.

Fui para o Rio, para Copacabana. Para que? Andar no calçadão.

Sinceramente, não sabia o que procurava, mas saberia quando achasse.

Acho que fui e voltei pelo menos uma vez.

Tinha encontrado uma construção meio que abandonado, e mais uns dois espaços que pudessem render um projeto, mas sem o brilhantismo que eu havia colocado em minha cabeça.

Uma coisa que no treinamento do MBWA não foi dito é que, quando for usar o método use um sapato confortável e roupas leves. 

 Já estava saindo do Leme novamente, quase chegando ao Posto 5, em frente ao Copacabana Palace. Mais uma quadra, e atravessei a Rua República do Peru, e parei em frente a Escola Municipal Dr Cícero Penna.

Entrei, e conversei com a Diretora da escola à época. 

Claro, ela e os professores vibraram com a possibilidade de a escola ser reformada completamente, e ainda ser um lugar participante das olimpíadas do Rio.

Quando contei ao Michel sobre o projeto, eles aprovaram na hora, afinal a FIVB além de ter seu objetivo cumprido, ainda seria responsável por oferecer a cidade um legado fantástico. A ideia era a FIVB reforma a escola, e o município cede o prédio para ser a Casa do Volei, com o compromisso de não atrapalhar as aulas dos alunos durante as reformas, e devolver o prédio para o reinício do ano letivo, na data prevista.

O projeto acabou sendo realizado com enorme sucesso e ainda recebeu a premiação de maior legado de uma instituição estrangeira nas olimpíadas, para a cidade e população.

Depois que tudo terminou, principalmente as inúmeras peripécias e aventuras, que podemos contar em uma outra ocasião, me lembrei de meu instrutor do MBWA e de todas as suas recomendações, principalmente a que apontava para resolver sua questão, com a primeira solução. Mas insistir até ficar satisfeito com o resultado da busca e a possibilidade de sucesso.

Se não fosse por ele, por conta de sua chatice em relação a este ponto, talvez eu tivesse parado na primeira solução encontrada, o que faria com que os meus “concorrentes” internos na FIVB pudessem ficar com o projeto, e não entregar a um brasileiro, ou mesmo que desistissem do empreendimento por falta de verba adequada para tal.

Por isso, me permitam meus leitores, confiem quando sua mente não se mostrar satisfeita com as soluções que encontrou. Busque um novo caminho, uma nova direção. Sempre existe a possibilidade de se achar uma solução consistente, com fundamento, com um conceito muito forte.

No caso da Casa do Volei, isso não poderia ser mais aderente; esporte, educação, legado, alunos de escola municipal.

A mim me fez muito bem desenvolver este projeto, desde os primeiros passos, literalmente. E um fato que me deixou muito realizado foi o relatório final da escola, apontando os problemas que tinham sido percebidos ao fazerem a vistoria após a devolução da escola. Constava do documento que faltavam 8 livros. Este foi o único ponto. Levando em consideração que transferimos todo o material da escola para um guarda móveis e depois trouxemos de volta, e colocamos no lugar, para mim foi um feito muito importante. E para a escola também. Afinal, havia uma observação dizendo que a Secretaria recebia a escola sem qualquer apontamento.

ET. O mesmo Prefeito que aprovou o projeto em 2015/16, em 2021 tentou passar um projeto para a venda do terreno da escola, onde os alunos perderiam a facilidade de ir e vir, e as empreiteiras ganhariam um terreno maravilhoso para construir um prédio de luxo. Sei que isso não é nenhuma novidade para a maioria dos cidadãos, mas ainda me enrola o estomago. Como estes caras se colocam em posições antagônicas facilmente, e sem nenhum pudor. 

Preciso dizer que uma das maiores peripécias foi conseguir o alvará provisório para o funcionamento da Casa do Volei. E por conta de um detalhe, que só veio à tona faltando 10 dias para a inauguração: a escola não tinha alvará. Só conseguimos o mesmo, na véspera de inaugurar.

Se você tem alguma experiência parecida, compartilha. Será muito bom dividirmos fatos e soluções.