Outro dia, estava voltando para casa após uma palestra, e minha esposa me fez a seguinte pergunta:
– Por que, quando se assiste a uma palestra, uma live, ninguém revela a nós, ouvintes, os comos?
Num primeiro momento não entendi ao que ela se referia, mas logo veio a explicação:
– É, exatamente. Precisamos que vocês, palestrantes, parem de falar um monte de teorias e tragam para a sua plateia algumas dicas de como as estratégias foram montadas, como as atividades foram feitas, enfim, os comos.
Devo confessar que, na maioria das vezes, essa é uma enorme verdade. Tudo uma beleza, slides maravilhosos, mas com muito pouco sobre como aquilo tudo aconteceu.
Me lembro de quando encarei o desafio de construir a Casa do Vôlei, durante os Jogos Rio 2016. A verba não era das maiores, o tempo era curto e o objetivo era estar na praia de Copacabana.
Nesse caso, o como foi o método que aprendi quando trabalhei na Cia. Atlantic de Petróleo, onde eles tinham o MBWA, isto é, managing by walking around, que tropicalizado significa “levanta da cadeira e vai procurar a solução”. E foi exatamente o que fiz, quando fui andar na Praia de Copacabana e resolvemos o problema.
Ainda na Atlantic, quando cheguei para assumir, havia uma questão para ser resolvida, mas que não haveria meio de solucionar, porque a decisão havia sido tomada no conforto dos escritórios refrigerados e sob a influência dos criativos que nunca saíam de suas mesas.
A companhia tinha um novo lubrificante para motores diesel, cuja embalagem era verde. Foi então feita a associação de que o óleo lubrificante era o espinafre do caminhão, e ninguém menos que Popeye era o astro da campanha. Até aqui, tudo certo. Mas faltava a presença no ponto de venda. Desenharam um display fantástico, lindo, um Popeye de uns dois metros de altura, que segurava uma lata do tal lubrificante. Mas esqueceram de uma coisa: fazer um teste na pista do posto para ver a resistência do material (o display era de plástico). Então o exército de Popeyes foi enviado para o campo de batalha, os postos de serviço de estrada. Resultado: cada vez que passava um caminhão, lá ia o Popeye atrás do bruto; não havia jeito de manter os displays de pé. Foi uma luta para trazê-los de volta ou sumir com todos eles.
Em outra empresa, mais tarde, um chefe meu me ensinou outra versão: a cabeça só pensa onde os pés pisam. Para aqueles que trabalham com eventos, live marketing, promoção, esse é um mantra que deve ser seguido ao pé da letra. Realmente não é possível. Para que possamos ter sucesso em eventos e /ou atividades ao vivo, precisamos, sempre, de fazer um reconhecimento do que vamos encontrar. Conhecer antes, planejar e reconhecer no momento da execução. Este é o segredo de quem diz que quem sabe faz ao vivo. Eu acrescentaria, com pelo menos um mínimo de controle e muito jogo de cintura para conseguir se virar.
Quando tiverem dúvidas, não deixem de testar e conhecer o local. É necessário saber tudo, sobre tudo, e eu sei que isso é impossível. Aqui surge um como muito importante. Envolva seu time, nunca deixe uma informação na cabeça de uma só pessoa, principalmente se for a sua. Você vai esquecer e, quando isso acontecer, precisa ter alguém para salvar a situação. Precisamos construir uma legião de anjos salvadores de situações de potencial risco. Isso é um como de sobrevivência valiosíssimo.
Eu tenho medo de algumas frases que por vezes ouvimos e que para mim soam como os clarins das más notícias. Prefiro no meu time aquele que faz perguntas consistentes e pertinentes do que aqueles que gostam de aparecer e se mostrar, e dizem coisas do tipo: “deixa comigo” ou “tamos juntos” ou, ainda, “eu adoro desafios”. Meus amigos, os únicos caras que conheci que adoram desafios são os repentistas, que duelam horas e horas cantando em prosa e verso suas grandes aventuras.
A verdade é que os comos estão diretamente ligados à propensão do líder de ter uma equipe de protagonistas, mas também de saber exercer o que chamo de liderança circular. Para definir esse conceito, vou lançar mão de algo que imagino que todos conheçam, o flash mob.
Nesse evento especial, em que uma quantidade razoável de pessoas treinadas cantam, dançam e interpretam em lugares públicos, a liderança do espetáculo vai passando de mão em mão pelos protagonistas de cada cena, até que o espetáculo esteja completo.
Indo um pouco mais a fundo. Temos que saber que o líder, antes de tudo, é um cara que serve ao seu time e deve estar sempre pronto para atender às necessidades que vão aparecendo. Caso contrário, não tem como as coisas darem certo. É preciso muita atenção para que nada escape e, mais uma vez, por isso você precisa contar com os seus anjos, para te ajudarem a tocar a vida.
É uma grande lição de liderança quando mostramos nossa vulnerabilidade, no sentido de que não sabemos tudo, e mais ainda quando isso fica claro para nossos times. Saber lidar com isso é também um como, muito importante.
Relembrando estes poucos, mas entendo que fundamentais, comos, para que possamos desenvolver um pouco mais nossos times.
1 – MBWA. Levanta e vai entender o que você precisa planejar. Nada de ficar olhando fotos e construindo regras sentado em seu confortável escritório.
2 – Nunca subestime o ponto de venda. Ouça quem lá está. Existe sempre um conhecimento tácito dos que estão na ponta que pode ser muito útil a você.
3 – A cabeça e os pés têm uma ligação simbiótica, que muitas vezes é imperceptível, mas é muito importante, sempre.
4 – Conheces com quem trabalhas e eu te direi qual o resultado de terás em termos de qualidade.
5 – Você é um líder ou não? Não há problema em não ser, mas, se quiser se desenvolver, exerça as passagens de bastão. Só assim você vai poder observar como os seus protagonistas agem. Aliás, livre-se dos coadjuvantes. É preciso atitude, e isso é algo que eles não têm.
6 – Mostre-se vulnerável quando não souber alguma resposta. Isso só vai fazer você crescer.
Sem a pretensão de esgotar os comos, mas com a intenção de compartilhar 6 dicas que considero muito importantes, tenho certeza de que este elenco de comos pode ajudar.
Se quiser, trocar algum tipo de ideia, compartilhar sua experiência, esclarecer uma dúvida, fique à vontade para entrar em contato pelo [email protected]. Sempre respondo a quem me procura.
Sucesso.
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