Em meio a conceitos como aprendizado de máquinas, inteligência artificial, plataformas, carros autônomos, entre outros tantos, a tecnologia é vista como caminho crítico para a evolução do trabalho, das empresas e da própria sociedade.
A transformação digital é um conceito que integra tecnologia, mas também infraestrutura e cultura. Seja no âmbito das organizações, seja na perspectiva da sociedade e dos locais onde ela vive.
É uma jornada que já começou, sem volta. Segui-la não é, contudo, nada trivial, se o foco é somente na evolução tecnológica, descolada das questões culturais, das reais necessidades da sociedade ou empresa e da sua maturidade em termos de acesso à infraestrutura de qualidade.
Podemos discutir a transformação digital em termos globais, em como ela se desenvolve nos países ricos e mais desenvolvidos ou em como aplica-la em países como o nosso. Com enormes contrastes culturais, sociais e econômicos.
Edmar Bacha mencionou em texto de 1974, "O Rei da Belíndia", que o regime militar estava criando um país dividido entre os que moravam em condições similares à Bélgica e aqueles que tinham o padrão de vida da Índia.
Trazendo para os dias atuais, guardadas as proporções devidas, será que não estamos, em nossas discussões sobre a transformação digital, criando condições para aprofundar contrastes em nosso país?
Por exemplo: na medida em que discutimos a inexorabilidade e as vantagens dos carros autônomos, mas não colocamos na mesa sob quais condições – culturais e infraestrutura – eles funcionariam como esperado ou não, estamos favorecendo a criação de ilhas tecnológicas e guetos de atraso?
No contexto das empresas e do trabalho, quando falamos em um futuro onde possivelmente as pessoas irão ser substituídas por robôs, mas não em como prepará-las e educá-las para superar esses desafios e para essa transição, não estamos criando condições para a formação de castas profissionais (tecnológicas ou não) ou potencializando abismos que poderão se tornar intransponíveis?
Inovação e tecnologia são e serão, sem dúvida, protagonistas no processo de mudança que irão transformar empresas em organizações rentáveis, enquanto promove mobilidade, conforto, qualidade de vida e inclusão para as pessoas.
Não se trata de um ideal utópico, mas de um propósito tangível e um objetivo a alcançar nesta jornada. É preciso tomar cuidado, contudo, com o canto da sereia do oportunismo, tão comum em nosso país quando grandes transformações estão por acontecer e tratar o assunto de forma séria e realmente comprometida com o futuro das pessoas. É essa nossa obrigação como consultores e formadores de opinião.