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Storydoing: o que é e como pode inspirar boas ativações

O Promoview conversou com cinco especialistas em brand experience para mapear essa estratégia que ultrapassa as barreiras do storytelling e promete ser o futuro do Marketing

Já ouviu aquela expressão “ações falam mais que palavras”? Por décadas, as estratégias de Marketing se basearam em “fazer propaganda” e contar histórias. Mas, com a crescente oferta de informações online e gerações cada vez mais engajadas, os consumidores passaram a cobrar ações concretas das marcas. Pouco vale comunicar que a empresa defende uma causa, por exemplo, se essa defesa não se materializa em apoio financeiro e colaborações. E, nesse cenário, surge o storydoing.

“Filho” da técnica de storytelling, que, em uma tradução livre para o português significa “contar uma história”, o storydoing é a técnica de “fazer uma história”. Para os setores de Criação, o desafio é descobrir como as pessoas se relacionam com a marca e encontrar essas histórias entre colaboradores e consumidores.

Grafitte inspirado na Coca-Cola em Buenos Aires, na Argentina
Grafitte inspirado na Coca-Cola em Buenos Aires, na Argentina. Foto: Hola Bosque™

Um exemplo de ação de storydoing é a campanha da Coca-Cola que está concorrendo ao Cannes Lions este ano. No filme “Thanks for Coke-Creating”, a marca compartilha grafites e artes urbanas com a logo da Coca-Cola por todo o mundo. Assim, quem conta – ou ainda, quem faz – a história são as pessoas, e não a empresa.

No campo do Live Marketing, no qual as ações encontram o público presencialmente, no dia a dia, o “fazer junto à marca” ganha força. O Promoview consultou cinco especialistas para entender como a técnica do Storydoing é incorporada dentro das agências de brand experience. Colaboram nesse artigo Bruno Pisanelli, Head de Planejamento e Criação da Eagle; Camilo Castro, Publicitário e Especialista em Branding; Elaine Rufato, Presidente da Avantgarde Brasil; Simone Malta, diretora executiva da Dot. Promo; e Ti Bernardes, diretor geral da Agência MAK.

Bruno Pisanelli, Camilo Castro, Elaine Rufato, Simone Malta e Ti Bernardes.
Bruno Pisanelli, Camilo Castro, Elaine Rufato, Simone Malta e Ti Bernardes.

Storydoing X Storytelling

Ao contrário do que pode parecer, o storydoing não substitui o storytelling, mas é um passo além na criação da estratégia de marca. “Enquanto o Storytelling narra uma história, o Storydoing convida o público a vivenciá-la. Além disso, o Storydoing empodera o público, transformando ele em protagonista e gerador de conteúdo autêntico, o que impulsiona o alcance da campanha de forma orgânica e original”, diz Ti Bernardes, diretor geral da Mak.

“Essa estratégia envolve os consumidores diretamente na narrativa da marca através de ações tangíveis. É sobre viver e experienciar a história em vez de apenas ouvi-la, complementa Bruno Pisanelli, Head de Planejamento e Criação da Eagle. “É importante ter uma história de verdade para contar antes de colocá-la em prática. Primeiro: pensa, cria e desenha para planejar e estruturar. Depois: dá forma para tornar tateável, real e concreto no campo físico para que seja perceptível e se torne memorável”, explica Camilo Castro, Publicitário e Especialista em Branding.

O Storydoing nas ativações de marca

Apesar da técnica ser utilizada em outras áreas, como no Marketing Digital, as ativações são o cenário ideal para convidar o público a “colocar a mão na massa”. “Imagine transformar uma convenção corporativa em um jogo interativo, onde os colaboradores se tornam protagonistas da estratégia da empresa. Foi exatamente isso que fizemos para a Coca-Cola FEMSA, criando uma experiência imersiva e colaborativa que fortaleceu os laços da equipe e impulsionou o engajamento”, compartilha o diretor da Mak.

Outro ponto importante é que o Storydoing parte da visão de uma pessoa, mas representa um coletivo. Dessa forma, ao mesmo tempo em que o cliente se sente único, ele pertence a um grupo. No evento de lançamento do Samsung Galaxy S24, em parceria com Vivo, a Avantgarde criou fotos individuais que representam o coletivo.

Fundo fotográfico criado por IA baseado nas respostas dos clientes da Samsung. A ação, idealizada pela Avantgarde, é um exemplo de Storydoing.
Fundo fotográfico criado por IA baseado nas respostas dos clientes da Samsung

“Os convidados respondiam 5 perguntas sobre seus gostos pessoais e a IA criava instantaneamente uma imagem única para a foto especial do evento. Foi um convite a co-criação, ao acesso a tecnologia e construir sua própria história, respeitando a individualidade de cada um que as duas marcas defendem e acreditam. As imagens representam a construção de um mundo mais diverso”, explica Elaine Rufato.

Também pensando em ações que refletem os valores da marca, a Eagle realiza ações conjuntas com a ONG Amor Philia. “O principal objetivo desta parceria é oferecer capacitação profissional a mães que enfrentam desafios socioeconômicos. Capacitamos essas mulheres para trabalharem em diversas frentes em nossos eventos, sendo eles, deste o atendimento ao cliente, serviço de A&B, na parte de hospitalidade e serviços, trazendo a responsabilidade social como uma narrativa em diversas frentes”, conta Bruno Pisanelli.

Ativação de Kuat com Dot. Promo no São João de Caruaru que utiliza técnica de Storydoing

Na ação da Kuat, idealizada pela agência Dot. Promo, as pessoas foram convidadas a sentir sabores tradicionais e, assim, vivenciarem a história local. Kuat apoia a culinária local e convidamos o público a vivenciar. Materializamos o “De volta ao gostinho do meu país São João” levando a maior e mais saborosa mesa junina ao São João de Caruaru”, compartilha Simone Malta.

Como aplicar o Storydoing na prática

Os especialistas trazem dicas para quem quer usar o Storydoing em suas criações. “É preciso desenvolver uma narrativa central que tenha início, meio e fim, criando elementos de conflito, desafio e resolução, pois assim tornamos a história mais envolvente”, explica Bruno Pisanelli.

O head da Eagle traz um exemplo figurativo: em uma campanha de tema “Promoção da inclusão e diversidade” podem-se identificar histórias, por exemplo, de funcionários e clientes que encontraram acolhimento e oportunidade através da marca. E, então, partir para uma ação concreta, como campanhas de conscientização e apoio a organizações de diversidade.

Outro ponto importante para a estratégia é a autenticidade da marca. Não faz sentido promover campanhas do tema do Orgulho, por exemplo, e internamente não possuir uma equipe inclusiva. “É importante que a história não seja apenas transmitida para o público final, mas também para os colaboradores da empresa. Assim, a participação ativa é sentida por todos os stakeholders e o engajamento se torna natural e parte do propósito maior da marca”, opina Simone Malta, diretora executiva Dot. Promo.

No caso das ativações, Elaine Rufato sugere a gamificação da experiência e a co-criação como estratégias para “fazer história”. “Utilizar elementos de jogos, como pontos, placares e rankings, desperta o espírito competitivo de forma descontraída, e, por isso, aumenta o engajamento. A co-criação, por sua vez, os convida a contribuir com ideias, conteúdos ou ações. Isso gera um senso de pertencimento que torna a experiência ainda mais significativa”.

Por fim, para identificar possíveis histórias, o diretor da Mak sugere a escuta ativa do público-alvo. “A narrativa precisa ser relevante, inspiradora e, acima de tudo, ter potencial para ser vivenciada. Acompanhe as conversas nas redes sociais, identifique os temas que geram mais engajamento e encontre formas autênticas de conectar sua marca a essas narrativas”, conclui Ti Bernardes.