Eu nunca soube o motivo, mas “Tente outra vez” é uma das minhas músicas favoritas do saudoso e genial Raul Seixas.
Ela tem uma cadência arrastada, uma pegada meio brega-gospel e uma letra de autoajuda; mas, quando a escuto me traz uma energia boa, me faz cantar e tem uma frase que sempre me chamou muita atenção: “Não pense que a cabeça aguenta se você parar”.
Passei a vida ouvindo falar e acreditando no contrário, que era a mente que controlava o corpo. Mas, como o profético Raulzito previu, o mundo parou, e, realmente, nossas cabeças não estão aguentando.
Uma pesquisa recente realizada pelo Instituto de Psicologia da UERJ mostrou que, durante a pandemia, o número de casos de ansiedade e estresse aumentaram em 80% e os de depressão em 50%.
O medo do vírus, a guerra política, e, principalmente, o afastamento social, estão dilacerando nossa saúde mental, e, para piorar, a crise econômica está nos impondo uma pressão por resultados imediatos e aprendizados urgentes.
Segundo o LinkedIn, para 2020, precisamos ser criativos, colaborativos, adaptáveis, persuasivos e emocionalmente inteligentes; ou seja, precisamos ser inovadores.
Realmente, tenho reparado uma busca implacável das empresas por cursos, metodologias e ferramentas que ajudem no desenvolvimento dessas e outras softskills em seus colaboradores. Mas, isso nos leva a dois grandes questionamentos:
1- Como ser inovador sem tempo e margem para erro, se a inovação nada mais é do que um processo contínuo de tentativa e erro?
2- Será que nesse momento, em que nossas cabeças não estão dando conta do básico, essas deveriam ser nossas prioridades?
Desde Maslow já sabemos quais são as nossas prioridades, e, mais óbvio ainda do que isso, é o fato de que medo, tensão, solidão e tristeza não se curam com mais trabalho, e, infelizmente, 100% das pessoas que conheço estão trabalhando muito mais durante a pandemia do que antes dela.
Para não ficarmos todos “malucos-beleza”, mais do que prioridade, a preocupação efetiva e constante pelo bem-estar de nossos colaboradores deve ser uma obsessão. E aí vem mais um questionamento: Será que sabemos o que verdadeiramente nos faz sentir bem e nos traz felicidade?
Na busca por essa resposta, a psicóloga e professora de Ciência da Felicidade em Yale, Dra. Laurie Santos, juntou os resultados de décadas de pesquisas sobre o tema e criou o curso “A psicologia e a vida boa”, o mais popular da história da universidade.
Em seu podcast, The Happiness Lab, ela mostra que felicidade é algo que pode ser adquirido, basta ser estimulada com a prática de alguns hábitos e comportamentos simples em nosso dia a dia. Os principais são:
1. Seja altruísta – Ajudar os outros te faz mais feliz do que a própria pessoa que foi ajudada;
2. Seja sociável (de verdade) – Saia das redes sociais; elas são tóxicas! Interaja ao máximo com amigos, familiares, colegas e até desconhecidos. Faça-se presente, apesar da distância;
3. Seja grato – Exercer gratidão melhora seu humor, sono e até sua imunidade. Agradeça e valorize as coisas boas que acontecem em sua vida;
4. Releve as coisas ruins – Principalmente aquelas sobre os quais você não tem controle, nem influência;
5. Mantenha hábitos saudáveis – Fazer exercícios, dormir bem e comer bem são os melhores remédios tanto para o corpo quanto para a mente.
Parecem práticas óbvias e clichês, mas são resultados de décadas de pesquisas, possuem base científica, e, repare, o isolamento social nos dificulta a exercer cada uma delas.
Além disso, a sobrecarga no trabalho e a falta de ações corporativas para estimular esses hábitos também não têm nos ajudado.
Estamos vivendo o momento mais complicado de nossas vidas, e, sim, precisamos trabalhar duro para superar essa crise. Mas, uma vez que nossas necessidades e prioridades já estão mapeadas, leve-as sempre em consideração em suas iniciativas.
A situação nos exige ser inovador e arriscar; mas, se algo não der certo de primeira, não se cobre tanto, respire, aprenda com os erros, peça ajuda e tente outra vez.