Diversidade e estereótipos são coisas que comumente se interseccionam. E eu vou explicar o porquê.
É comum que ao longo da sua vida você tenha símbolos ou padrões que foram colocados na sua mente ao relacionar com alguns perfis de pessoas. Antes de entrarmos mais a fundo neste quesito, devo lembrar que toda vez que eu falo de diversidade estou me referindo a visão mais ampla da palavra: Diversidade de raças, idade, gênero, corpos, territórios, narrativas, acessos, entre outras formas.
Dito isso, gostaria que você fechasse os olhos e imaginasse: Um homem negro correndo. E pensasse sobre o que vem a sua mente.
Agora te convido a uma outra cena: Mulher bailarina em apresentação. Você com certeza não pensou numa mulher gorda. Mais uma: Pessoa com deficiência no ambiente de trabalho. Muito provavelmente você pensou em uma pessoa de cadeira de rodas ou acessórios para mobilidade.
Não estou aqui para discutir as respostas do que veio a mente de cada um de vocês, e sim para convidá-los a repensar sobre o pacto que fizeram com os estereótipos criados. Sim, pacto.
Recentemente assisti a um filme que me fez refletir muito sobre isso. O tema em questão eram os estereótipos raciais, e os locais que automaticamente cada personagem deste grande sistema chamado sociedade era colocado para satisfazer o padrão comum da engrenagem.
Sutilmente o filme nos faz pensar na urgente necessidade de mudança, e nos faz caminhar junto ao protagonista na busca em não perpetuar este padrão, até que ele decide (sob uma forma de deboche/protesto), replicar o padrão e perpetuar os estereótipos apenas para provar que este formato não cabe mais atualmente. O que acontece a seguir é o puro reflexo da atualidade, o óbvio.
Meu intuito aqui não é comentar o filme, e sim te convidar mais uma vez a refletir se a diversidade que você está buscando ou sugerindo nas ações, projetos, publicidade, empregabilidade da sua empresa, não está atrelada a representatividade reforçando estereótipos.
O romper o pacto com os estereótipos e manter o distanciamento dele, é um movimento transformador. É onde você consegue começar a enxergar para além do dos padrões ou de uma premissa generalista.
No período da grande repercussão após o caso do George Floyd (e tantos outros que vieram antes e depois), eu participei de um processo seletivo onde a vaga presava pela inclusão de uma pessoa negra na liderança. Me candidatei por me encaixar no perfil da vaga, nos atributos, habilidades e também na afirmação de me autodeclarar uma mulher negra. Durante a entrevista, senti que o entrevistador ficou buscando “uma história triste” dentro da minha vivência pessoal e profissional, algo que ele não encontrou durante toda a minha fala. Senti que ao final da entrevista ele ficou um pouco frustrado.
Mais do que buscar uma pessoa para preencher a vaga, ele claramente estava buscando um padrão, que foi de certa forma incutido na cabeça dele, de que toda pessoa negra tem alguma história absolutamente devastadora para compartilhar ou que precisa se encaixar em algum contexto do pré-estabelecido pelo chamado estereótipo.
Promover a diversidade e inclusão é inserir dentro dos contextos, vivências diferentes, experiências de vida diferentes, trajetórias diferentes, mas sobretudo é estar aberto a ouvi-las.
Antes de planejar uma campanha, uma ação ou uma experiência, se questione primeiramente se há diversidade no contexto da proposta, se não houver, inclua.
Se de alguma forma você está tentando promover a diversidade dentro da sua empresa, planeje as formas de incluir os grupos diversos, mas parta sempre da escuta. Não apenas pressuponha, questione. Fuja de fazer reprodução de padrões.
Sabe a trend que está rolando nas redes sociais: “É claro que eu sou _______ e as pessoas __________”?
Parece óbvio, não é? Mas não é.
Se você romper o pacto, a gente pode começar a transformar.