O #takeover é um movimento que vem se consolidando para dar voz às pessoas negras em redes sociais de pessoas não negras.
Dentro do movimento algumas hashtags surgiram como #vozesnegrasimportam, grupos se organizam para denunciar e enfrentar os acontecimentos que vêm matando massivamente vidas negras, debates são promovidos para falar sobre o racismo estrutural e sobre pessoas negras com perfis que devem ser conhecidos por mais pessoas, acabando com a lenda de que “não há negros capazes”.
A meta é conscientizar e parar o apagamento sistemático das vidas negras em todos os lugares nos quais vivem ao redor do mundo, onde são considerados “intrusos”, mesmo que tenham chegado lá pela força da diáspora, ou que seja sob constante ataque em seu berço originário no continente africano.
Há anos vemos um constante movimento de embranquecimento das identidades ao redor do mundo que vem massacrando as pluralidades. As diversidades provocam estranhamento e incomodam.
Muito desse estranhamento vem das mídias e das construções dos ícones de beleza e força, modelos de caráter a seguir, com olhos e peles claras, cabelos reluzentes e lisos, capazes de fazer o mundo girar sobre seu próprio eixo ou mudarem o destino, antecipando seus desdobramentos.
Nesse processo, os microcosmos que são as empresas, as escolas, enfim, as instituições de convivência pública, aceitaram esses modelos por padrão de sucesso, beleza e inspiração, nas histórias míticas ensinadas e propagadas por filmes, livros e vídeos, são essas referências que preenchem o inconsciente coletivo com jornadas do herói recheadas de viradas épicas em que todas as dificuldades são superadas, vidas salvas e vilões são punidos.
E porque trazer esse contexto? É preciso consciência do viés inconsciente que praticamos, das construções alimentadas pela mídia, dos modelos de identidade construídos para nações inteiras.
Identificar nosso lugar em relação a esse poder é um primeiro passo para entender o movimento #takeover que está apoiando a hashtag #vozesnegrasimportam.
Temos muitas pessoas não negras enquanto referência de ideal, são ídolos, são influencers, e, em sua maioria, hoje, são ideais que estão nas mídias, seja pela TV, pela internet, em nossos celulares no Instagram, TikTok, entre outras redes de contato nas quais tantos de nós estamos navegando, e, muitas vezes, inconscientemente, pelas quais estamos sendo influenciados por modelos que vemos com tanta frequência que se normalizam para nosso cérebro, e o que não está dentro desses padrões repetitivos, é que passa a nos causar estranhamento.
As empresas conscientes dessa força, assim como faziam pelas TVs quando a rede aberta estava em todos os lares, e pagavam fortunas para anunciar e ter a identidade do ídolo vinculada a sua identidade de marca, hoje entendem que precisam ser diversas, que precisam estar em outros meios de comunicação, pagando por milhares de views em segundos, ao alcance de um click na tela do celular ou do mouse. E onde estão os grupos minorizados nesse cenário? I-N-V-I-S-Í-V-E-I-S !
Por essa, entre outras razões, mulheres e homens negros da área de comunicação reajustaram às ações de sua presença digital para mostrar as potências da comunidade negra, por intermédio das redes de pessoas aliadas não negras.
No LinkedIn, um dos executivos mais respeitados na temática de Diversidade @Theo van der Loo cedeu seu perfil, para a subsecretária Estadual Empreendedorismo, Micro e Pequena Empresa |Dir Executiva Banco do Povo|TEDx @jandaraciaraujo, nesse processo colaborativo há debates relevantes para o mundo corporativo com um viés de dar voz à negritude e destacar perfis como da Viviane Elias Moreira @vivianeeliasmoreira que é uma executiva, especialista em Gerenciamento de Riscos entre outras competências essenciais para empresas que pautam Governança, Risco & Compliance.
No canal de seu YouTube, Jandaraci Araujo vem publicando várias conversas com mulheres negras que são protagonistas em liderança feminina, finanças entre outras competências do ambiente corporativo.
No segmento de comunicação, Felipe Silva é um dos líderes do grupo @clubedecriação que apresenta lives no Instagram entre pessoas negras da área de comunicação para discutir as questões da diversidade e a realidade que vivem no segmento.
Outra iniciativa que merece ser visitada para entender o impacto do movimento #vozesnegrasimportam é observar um dos youtubers mais conhecidos que se engajou nesse movimento de conscientização. Felipe Neto fez uma live em 11/06/2020 com mais de 87 mil likes, durante uma hora com a hashtag #ConversasQueImportam: ele, homem branco, ouviu e interagiu com outros dois youtubers Gabi Oliveira e Yuri Marçal, ambos negros, sobre o tema do racismo estrutural no Brasil.
Outras iniciativas antirracistas podem ser vistas no Instagram e em outras mídias web usando a hashtag #vozesnegrasimportam para mostrar que as pessoas brancas que estão conscientes de seus privilégios, que possuem uma gama de seguidores para os quais são ídolos, podem agir no enfrentamento ao racismo, mostrando que admiram pessoas negras, e que acreditam em suas potências.
Ao atuar de forma coordenada, podem abrir espaço para trazer mais pluralidade e humanização nas relações, criando novos “role models” porque se 54% da população é composta por pessoas negras, precisamos que elas se identifiquem, que parem de sofrer porque não se veem nesses lugares de sucesso, de reconhecimento e de voz.
Vale visitar algumas ações como do influencer Enzo Raia que cedeu espaço para duas influencers negras inspiradoras Inaiara Florencio e Lisiane Lemos chegando a mais de 10 mil likes.
Não podemos mais “esperançar” o futuro, temos de fazer um novo futuro do presente e para isso #vozesnegrasimportam e muito.
Eu, Samanta Lopes, sou coordenadora MDI da um.a #DiversidadeCriativa e estou na Ocupação Promoview.