ESG

ESG: empresas mais conscientes mudam o mundo!

Qualquer ação para implementar as boas práticas de ESG precisa entrar no planejamento anual e ser desenvolvida de forma integrada nas empresas.

Participo de um grupo que estuda caminhos para implantar boas práticas de ESG (Environmental, Social and Governance, em inglês, ou Ambiental, Social e Governança, em português) no mundo corporativo e, nos encontros com especialistas, percebemos que as empresas mais conscientes mudam o mundo! Sempre há uma onda de insights sobre como o propósito e as pessoas são componentes essenciais para garantir uma identidade saudável e sustentável que gere lucro para as marcas e qualidade de vida para o máximo dos stakeholders envolvidos.  

A esta altura, consigo até ver os olhos revirando e ouvir daqui: “Ihhh! Mais uma defensora ambiental!”. Calma, vamos juntos entender tudo isso?  

Um caso que estudamos recentemente foi o da Mercur, quase centenária, fundada em 1924 na cidade de Santa Cruz do Sul (RS). A empresa é grande usuária da borracha retirada de seringueiras, um recurso não renovável no curto prazo, além de ter sido consumidora, por um bom tempo, da borracha sintética, entre outros materiais que geram resíduos em larga escala e demoram anos para se decompor. Seu portfólio é amplo na área de materiais escolares e produtos fisioterapêuticos. 

Em-um movimento que, nos estudos afrocentrados, chamamos de Sankofa, em 2008 a empresa optou por olhar sua caminhada, observar o que precisava melhorar e reorganizar o caminho à frente. Revisou toda sua cadeia produtiva para reduzir o uso de materiais não renováveis e se tornar uma empresa carbono zero. Ampliou sua proximidade com as comunidades indígenas, ribeirinhas e de seringueiros que cuidam e dependem das florestas na Amazônia, além de revisar seus valores e mudar toda a estrutura interna, alinhando as pessoas colaboradoras para um sistema horizontal e circular.  

Esse olhar para as três letras permitiu a transformação completa de equipes, de produtos e até de metas, e cada uma delas tem destaque nos processos:  

(E) Ambiental: entender que internamente era preciso dar liberdade às pessoas para que pudessem ser colaborativas e criativas, em vez de hierarquizar as relações; escolher produtos com menor impacto ambiental; criar relações humanizadas e sustentáveis com os fornecedores e aprender, com eles, como realizar as atividades sem ser uma empresa predatória. Conforme disse Jorge Hoelzel Neto, em um TED: “deixar de ser batedor de carteira.”  

(S) Social: entender que produtos, como armamentos, entre outros que não valorizavam a vida, estão fora da proposta das empresas e declinar dessas linhas, inclusive de produtos licenciados, pois foi identificado, com interações em grupos de pais e educadores, o quanto esse tipo de produto gera impactos negativos e diretos em jovens e crianças, criando um mercado consumidor altamente excludente e, muitas vezes, de consumo exacerbado, com modelos de identidade que reforçam diversos tipos de preconceito.  

(G) Governança: reorganizar as políticas de compra e venda, usar materiais com origem reconhecida e sustentável, além de garantir ações para ser uma empresa carbono zero, com políticas transparentes para todo o mercado. Delimitar uma política interna de participação colaborativa e inclusiva de todas as pessoas que de alguma forma interagem com os produtos da empresa, incluindo a comunidade geral, para criar produtos condizentes com a missão e a visão do grupo.  

A partir disso, percebe-se que exercitar o ato de pensar em alternativas de processos, materiais e políticas internas é fundamental. Pense comigo: existem materiais que podem servir a várias finalidades nos eventos e no cotidiano das comunidades, gerando ações com as quais todos ganham.   

Um exemplo é o uso de ecobags feitas a partir de fontes renováveis e com baixo impacto de carbono (CO2), como fibra de malva e juta, entre outras fibras vegetais; ecobags de garrafas pet, ou de outros materiais considerados eco friendly que estão em desenvolvimento nas regiões do Norte e Nordeste do Brasil e vêm se tornando mais acessíveis. Também cito os ecoblocos, que usam resíduos da demolição como parte de sua estrutura, além de fibras de coco ou resíduos da castanha. Esses materiais oferecem melhorias para a obra e reduzem a poluição por CO2, porque não precisam ser curados, diminuem a poluição sonora, aumentam a proteção térmica e minoram o descarte indevido de resíduos.   

Apesar da dificuldade de acesso e dos valores mais caros a procura desses produtos justifica-se devido ao seu menor impacto ambiental. Esperamos que o aumento da demanda faça com que os preços se tornem cada vez mais competitivos, beneficiando famílias inteiras que vivem dessas culturas em pequenas propriedades e empresas que atuam em sua manufatura e em toda a cadeia produtiva e gerando impacto diretamente proporcional aos investimentos em todo o ecossistema.  

Qualquer ação para implementar as boas práticas de ESG precisa entrar no planejamento anual e ser desenvolvida de forma integrada nas empresas. É importante investir tempo para a aprendizagem e as adequações, revisar valores, treinar times, e é também fundamental conhecer a cadeia de fornecedores e lhes garantir remuneração digna e sustentável. O trabalho é contínuo para reduzir o impacto ambiental e aumentar o social, praticando o cuidar das pessoas e do planeta, alinhado às regras de governança que precisam proteger todos os envolvidos. Por isso, a gestão precisa estar totalmente alinhada.  

Um dos fatores que percebemos ser a maior barreira, no entanto, é o ser humano. Muitas pessoas têm questionado o porquê de terem de se preocupar com isso agora. E sempre foi assim! Os desastres climáticos estão por todo o mundo e, se queremos ser parte da mudança para uma vida mais longa das pessoas e de toda a fauna e flora no planeta, precisamos agir escolhendo o que fazer com o papel de bala, o carro, o celular e cada item que consumimos e descartamos, porque o impacto desses destinos reverbera em todos nós. E aí, quer mudar o mundo? #borasomar #borafazer