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“OROBORO” estreia no CCSP refletindo sobre corpos pretos e suas subjetividades

O espetáculo busca nas orixalidades dos corpos cotidianos uma forma de devolver o grito a corpos pretos que foram historicamente silenciados e obrigados a se moldar.


De 27 de abril a 21 de maio de 2023, de quinta-feira a sábado às 21h, domingos às 20h, com entrada gratuita, acontece a temporada de estreia do espetáculo “OROBORO”, na Sala Jardel Filho, no Centro Cultural São Paulo – CCSP, que fica na Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso, São Paulo. A temporada conta também com apresentações no período da tarde, nos dias 28, 29 e 30 de abril, às 16h, e as apresentações de sextas e sábados às 21h contarão com interpretação em Libras. 

Idealizado pelos artistas Thais Dias e Jefferson Matias, o espetáculo “OROBORO” tem dramaturgia inédita de Tadeu Renato, encenação de Felipe de Menezes e direção musical de Fernando Alabê

OROBORO” remete ao símbolo da cobra que morde o próprio rabo, mas também à concepção de povos africanos – como Bantu e Iorubá – em um tempo circular ou cíclico, que sempre acaba por retornar. 

Unindo elementos presentes em clássicos das tragédias gregas com universos do real, o espetáculo reflete sobre os arquétipos dos orixás, o terreiro e os corpos dos povos originários afro-atlânticos, que foram apartados de suas tradições sendo obrigados a se moldar a uma sociedade conduzida a partir de costumes e embasamentos eurocêntricos, remoldando-se de tempos em tempos, dentro desses mesmos padrões, afastando-se cada vez mais dos fundamentos afro-atlânticos.

Uma mistura entre cruzos que além de trazer a noção da orixalidade nos corpos do cotidiano, faz nascer uma cena polifônica e anti realista que discute, também, outras formas e conteúdos para a cena preta contemporânea. 

“Um ponto de encontro entre o pensamento e a cena para resgatarmos aquilo que ficou preso no passado, desenterrar nossas ancestralidades e devolver o grito aos corpos pretos que foram silenciados ao longo da história econômica e social de nosso país. Buscamos trazer à cena um imaginário fora do senso comum em relação aos arquétipos dos Orixás, buscando viabilizar um espetáculo cheio de potência e um verdadeiro chamamento público para a exumação do que não foi dignamente enterrado” explica Felipe de Menezes, responsável pela encenação do espetáculo. 

O espetáculo transita pelo tempo de vida de Amara, que após muitos anos de separação, reencontra seu irmão Akin e acaba estabelecendo um vínculo que traz ao presente acontecimentos do passado, como a loucura da mãe, a separação da família e os cuidados de seu tio Benin. É nesse retorno conflituoso do que parecia esquecido, que ela começa a compreender as visões vindas de outro plano que a assombram, como um pedido do mundo dos mortos. 

“Assim como nas tragédias gregas, a peça lida com poderes diferentes ou superiores. Há uma discussão sobre se enredar nos poderes do mundo espiritual, para o enfrentamento contra o esquecimento da história, refletindo sobre os poderes do Capital sobre nossas subjetividades”, comenta o dramaturgo Tadeu Renato.

Em uma espécie de embate entre a estrutura clássica (tragédia grega) e elementos das culturas iorubás e bantos, a peça tem uma escolha pela forma poética dos Orikis, que são poemas-orações desses povos já citados e que tem uma estrutura própria, muito imagética e sonora, por vezes até misteriosas, apontando para uma investigação de uma estrutura mais “brasileira”, se valendo de algo comum do samba que é a repetição, em um jogo entre pergunta e resposta.

Com canções originais escritas por Tadeu Renato e por Fernando Alabê em parceria com Melvin Santhana, “OROBORO” conta com uma trilha musical inserida na construção da cena. 

A bem de compor a dramaturgia musical ao lado de Melvin Santhana, Thiago Sonho e Jess, todo caminho sonoro foi feito a partir dos sambas, jongos, maracatus, funk, soul, spiritual, rumbas, amapiano, semba, kuduro, sabar, orikis, orins, aduras, angorossi, sassanhas, loas e lundus em instrumentos de couro, metal e cordaoamentos convencionais e digitais em nosso Eletro-Xirê. Onde dubsteps, ragga e hip hop se infiltram e são permeados pelos movimentos da palavra e do corpo, atrelados a um conceito de “Modernidade Preta Atemporal”. Toda a nossa ancestralidade é vanguarda e dá os contornos do caminho musical, apoiado no conceito ioruba nagô no qual nossos odus (destinos), dispostos de forma espiralar, estão integrados ao universo. Exú é a boca e o sentido/caminho avante, nas encruzilhadas que são nossas propostas, inclusive nas fusões musicais como passos e elementos que se completam a criar novas possibilidades de elevar as tradições e ao mesmo tempo trazer novidades“, comenta Fernando Alabê que assina a direção musical. 

A peça integra o Projeto “Desvelando Encruzilhadas”, contemplado pela 15º Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. A Cooperativa Paulista de Teatro integra a realização em parceria com o Plataforma – Estúdio de Produção Cultural, responsável pela produção do projeto.

Fotos: Divulgação