O mundo corporativo nunca foi tão high tech: o uso da Inteligência Artificial (IA) e da Web 3.0 está nas pautas, criando profissões e tornando profissionais e métodos obsoletos, em uma velocidade nunca vista. E como isso impacta as pessoas? Na perspectiva de ESG, tudo se conecta a uma questão de escolha: omissão ou mudança?
Vou embasar essa reflexão com o tema “Mulheres”, afinal acabamos de sair do mês de março. As águas de março dão o tom de homenagens em cores pastel, perfumes e presentes são oferecidos para dizer que as mulheres são importantes. Mas como você percebe esse movimento? Afinal, durante todo o mês houve homenagens e discussões das quais geralmente só mulheres participam.
O dia 8 ainda é um marco global para falar sobre autonomia e direitos femininos. Em alguns grupos, fala-se sobre as mulheres que não têm os recursos básicos, intensificam-se as ações para olhar aqueles direitos negados a muitas, como as escolhas sobre o próprio corpo; sobre as suas decisões de vida; sobre não seguirem o que é socialmente “correto”. Apesar de tudo isso, os dados acerca do feminicídio sobem todos os meses, mostrando que pouco tem mudado devido às várias omissões.
Apesar desse processo inovador, inclusivo e seus vários senões, ainda hoje, 91 anos depois, as mulheres são algumas das menores representatividades em cargos decisórios e de gestão em todos os âmbitos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. E, se migramos para os extratos da interseccionalidade e da transversalidade, a representatividade é ainda menor. Isso se reflete nas ações que deveriam ser mais efetivas para promover redução nos extremos sociais nos quais vivemos, e que sofrem com a omissão das pessoas envolvidas em cargos que definem metas e investimentos.
E é muito importante que as pessoas decisoras queiram sair da omissão!
Várias empresas entre as maiores do mundo só passaram a incluir mulheres em seus conselhos devido à pressão do mercado por políticas ESG mais efetivas. Foram anos de pesquisas publicadas mostrando quanto a diversidade incrementa a produtividade e a inovação, mas, mesmo assim, era mais fácil gerir com elas na linha de comando abaixo e não no mesmo nível. Ainda nesse tema, assisti a uma palestra de uma conselheira sobre sucessão familiar, que comentou que um dos mercados que mais sofrem com esse processo é o do agronegócio. Hoje há filhas e netas assumindo negócios multimilionários sem estarem casadas, ou seja, contrariando toda uma estrutura secular de poder masculino, e a etapa mais difícil é a de entregar esse poder a elas.
Recentemente, cocriei uma trilha para um evento, e o foco foi pensar em ações antirracistas, facilitar a inclusão e as mudanças. Na organização, havia pessoas do segmento de viagens e turismo para o ambiente corporativo. Foram propostas várias temáticas para criar momentos de reflexão e conexão, facilitar a busca de novos caminhos que poderiam reduzir a omissão e seus impactos, inclusive trazendo ações sob a perspectiva das melhores práticas em ESG.
O segmento tem boa representatividade feminina nos cargos até média gestão. No entanto, a baixa representatividade nos cargos de alta hierarquia impactou diretamente na presença de CEOs e pessoas de nível executivo nas discussões, pois tem-se a premissa do “se não sei, não me cabe”. Ou seja, dificilmente haverá mudanças que serão levadas adiante, por mais que as pessoas tenham saído repletas de ideias, porque a omissão permite que não haja mudanças.
Imagino você esteja pensando: “Ok, ‘dados’… Mas e agora? O que eu faço?”. Tem muita coisa a ser feita, quer ver?
Conecte-se!
A tecnologia é uma grande aliada para fomentar dados, trazer realidades fora de nosso cotidiano e criar ambientes mais acessíveis e que permitam atuar em equipes plurais de qualquer lugar do mundo.
Humanize-se
Precisamos cuidar das relações humanas, da comunicação fluida e não violenta, além de garantir o senso de pertencimento das pessoas, pois, sem isso, equipes inteiras adoecem, perdem produtividade e não inovam. Elas entram no modo de sobrevivência e isso é insalubre.
Não é apenas ter a ferramenta. É preciso fazer o melhor uso, porque nenhuma IA dará conta disso. Há urgência em fazer diferente! Precisamos mobilizar energias para promover mudanças reais. Sendo assim, não cabe mais ficar dizendo o que “o outro” tem de fazer. Mudar dói e precisa começar de dentro para fora. E como construir algo totalmente diferente se fizermos tudo igual? A solução dos grandes dilemas vem das ações coletivas. No entanto, a escolha entre omissão e mudança é individual. Se ainda não sabe como, #borasomar!