Os últimos dez anos foram marcados por uma mudança de estratégia notável dos clubes brasileiros. Como outros grandes do mundo, os nossos maiores times passaram a pensar em sua torcida como público cativo, um verdadeiro cliente a ser conquistado.
As equipes de marketing passaram a funcionar com uma força nunca antes vista. Adotaram planos até então inéditos no futebol nacional, com os mais diferentes intuitos: angariar mais torcedores apaixonados, conquistar os filhos destes e, naturalmente, o objetivo maior desta técnica relacionada aos bens e serviços: vender. E muito.
Camisetas, chaveiros e bonés ficaram para trás. Hoje em dia, é possível dirigir uma moto devidamente protegido com um capacete personalizado do seu time. Adquirir miniaturas quase perfeitas do seu ídolo. Ou quem sabe levar para casa as traves do estádio do seu clube do coração para deixar como escultura na sala de casa. Acredite: tudo isso é possível.
Mas, em alguns momentos, essas táticas de guerrilha por receitas podem afundar. Venda de espaço em camisetas, venda de pedaços e quinquilharias de estádios em reforma e até “tijolinhos” para reformar um espaço que pertence ao clube já chegaram aos torcedores. Que os consomem sem medo do investimento.
Veja qual foi o clube que convocou seus torcedores mais fanáticos a tatuar o próprio símbolo em troca de uma camiseta, ações de marketing de patrocinadores que quase se transformaram em desclassificação e outras iniciativas até hilárias, promovidas pelos mais diferentes times.
1) Nossa complexa língua portuguesa – Um aplique que poderia ser histórico acabou virando piada na última versão da camisa rubro-negra, lançada em março deste ano pelo patrocinador de material esportivo do clube. A frase “Campeão do Mundo, Tokio, 13 de dezembro de 1981” foi grafada incorretamente – em português, o nome correto da capital japonesa é Tóquio.
O presidente da Comissão do Conselho Deliberativo do Flamengo veio a público por meio de nota assumindo a responsabilidade e justificando a mancada com o fato de “não ser bom revisor na língua de Shakespeare”
2) Diamantes são eternos ou salgados?
Para os torcedores endinheirados do Santos, os dois. Apostando nesse nicho, o alvinegro contratou uma empresa especializada em produzir diamantes a partir de fios de cabelo para fabricar a estes fanáticos abastados diamantes feitos com a grama da Vila Belmiro. O processo não era nada simples: um forno especial extrairia de pedacinhos de mato uma pastilha de carbono, que se colocada a uma altíssima pressão, transformaria-se em uma “legítima pedra vinda da natureza”. O precinho da brincadeira varia em quilates de uma glória bem salgada: de 0.10 a 0.30, de R$ 3.250 a R$ 5.450.
3) Um registro de segunda
O lucro foi bom, mas o resultado visual… Em 2008, a diretoria de marketing do Corinthians anunciou que venderia espaço para torcedores estamparem suas fotos 3 x 4 na camisa da equipe. Pagando R$ 1 mil, eles teriam seu lugar garantido na peça que seria usada pelo elenco alvinegro na penúltima rodada do Brasileirão da série B, em jogo contra o Avaí.
No primeiro dia, 250 “lugares” foram comercializados. Como cada uma delas teria como padrinho um ex-jogador, Neto – o herói do primeiro Brasileiro conquistado pelo Timão – liderava as escolhas. A identificação de sua própria foto nessa doação/ato de amor é que não era nada fácil. E, para ajudar, o jogo foi duro e teve até socos trocados em campo – apesar da vitória por 3 a 2 da equipe paulista.
De carona no sucesso financeiro corintiano, a ação batizada como “Eu jogo junto” da Portuguesa pretende “eternizar” o nome de seus torcedores na camisa 3 do time. Sim, você desembolsa R$ 999,00 e o grava para sempre na terceira opção de peça a ser usada pelo time em jogos oficiais. O clube não revelou o número de adesões “por conta de uma cláusula contratual”. Agora, pense como será fácil encontrar o seu…
4) O verde leilão emocional
Para encerrar as atividades do antigo Estádio Palestra Itália em grande estilo, a equipe de marketing do Palmeiras resolveu primeiro investir para tentar recuperar depois. Um jogo contra o Boca Juniors em julho de 2010 foi o marco para o início da construção da chamada Arena Palestra – moderna e reformada.
Mas, depois de gastar mais de R$ 1 milhão com o que chamaram de “festa para a torcida”, os mesmos diretores resolveram “depenar” o estádio velho para vender e leiloar bancos de reservas, traves e até pedaços do gramado. Não se sabe bem do retorno da ação, mas esperto mesmo foi um comerciante paulistano que encontrou cadeiras da chamada “turma do amendoim” num ferro velho e tratou de vendê-las como uma relíquia. Resultado da ação paralela: 300 unidades vendidas a R$ 100,00 cada. Um sucesso.
5) Cedo demais para máscaras
Uma ação desastrada de marketing quase transforma o sonho da classificação do Santos na Libertadores em um grande pesadelo. Garoto propaganda de uma empresa de de comunicação via rádio digital e telefonia móvel, Neymar não teve dúvidas ao marcar um gol na Vila Belmiro contra o Colo Colo, em abril desse ano: pegou uma das milhares de máscaras com seu rosto, distribuídas pela empresa aos torcedores presentes, e foi comemorar.
Sem saber que, pelas regras do futebol, não se pode cobrir o rosto dentro de campo, foi expulso (já tinha um primeiro cartão amarelo) e não participou do jogo decisivo contra o Cerro Porteño, no Paraguai – onde o Santos tinha obrigação de ganhar para permanecer vivo na competição. Graças a Danilo, que foi o destaque da partida, Neymar e o Santos conseguiram respirar aliviados…
6) O 100º gol que vale 1000
Foi só marcar o centésimo gol de sua carreira contra o Corinthians para o São Paulo aproveitar a glória de Rogério Ceni também em seus produtos licenciados. Uma semana após o feito histórico, a fabricante de materiais esportivos do Tricolor fez sua parte: lançou no mercado um lote de mil kits que continham dentro de uma caixa uma réplica da camisa usada por Ceni em seu primeiro gol, em 1997, contra o União São João pelo Campeonato Paulista daquele ano e uma outra que reproduziana cor dourada a peça usada por ele no clássico de 27 de março de 2011 contra o rival alvinegro.
Um sombreado com a pose do goleiro em suas cobranças ilustrava o produto raro. Raro e caro: para ter essa recordação, o são-paulino teria que desembolsar R$ 999,00 na loja oficial do clube. Mas não se preocupe: ele pode ser pago em 12 vezes de R$ 83,25. E o frete é grátis. Sorte de Fernandinho, atacante que sofreu a falta que acabou em gol: ganhou o kit personalizado e assinado pelo goleiro artilheiro e não precisou desembolsar nada.
7) “O tijolinho que faltava na minha construção”
Era uma terça-feira e o Flamengo decidiu vender tijolos simbólicos para a construção de seu Centro de Treinamento. Em oito horas, a partir do lançamento da campanha “Rubro-negro para sempre”, 502 unidades foram vendidas, ao preço de R$ 250 cada. A média foi de mais de um tijolo por minuto e garantiu em tempo recorde 0,5% da obra. E até Zico, ídolo máximo do Flamengo, comprou sua peça número 10.
Mas nem tudo é sucesso: a obra de modernização do CT Ninho do Urubu, em Vargem Grande, no Rio, está orçada em R$ 25 milhões, e não será custeada apenas pela venda dos tijolos. Até o fim de dezembro do ano passado, cinco mil unidades tinham sido vendidas. Até o Carnaval, a expectativa era chegar aos dez mil. Mas não há notícias atualizadas sobre a comercialização, nem mesmo no portal oficial do clube.
8) Falsificando o passaporte
Virou piada na internet a venda do kit da República Popular do Corinthians. Segundo o site, ele consiste num conjunto que “reúne os itens necessários para que o Alvinegro registre seu nome na história centenária do clube e se declare oficialmente um cidadão corintiano”. Por R$ 79,90, que pode ser pago em quatro vezes, o clube disponibiliza uma camisa exclusiva da ação na cor preta, uma certidão de nascimento, um RG, uma carta de compromisso e um passaporte, “de nacionalidade corintiana”.
Não foi preciso muito tempo para que os torcedores rivais disseminassem que “somente assim os alvinegros conseguiriam ter um documento desses”, já que o Corinthians nunca viajou o mundo para disputar um campeonato mundial – ganhou o seu no Brasil. E uma curiosidade: na chegada do “imperador” Adriano, esse foi um dos presentes dados ao jogador pelo ex-craque Ronaldo: o kit de uma república que tem como líder principal o ex-presidente Lula.
9) São Paulo, orai por nós
O “Santo Paulo” é quem comanda a “cerimônia” do chamado Batismo Tricolor. Torcedores fanáticos pelo clube paulista se reúnem no gramado do Estádio do Morumbi desde 2005 para fazer a leitura do “compromisso de são-paulinidade”. O site do clube avisa que o ritual não tem nenhum conotação religiosa e qualquer pessoa que carregue o São Paulo no coração pode participar.
Os batizandos recebem a camisa oficial do projeto, um certificado oficial de torcedor, uma vela, fotos e até um DVD da cerimônia. O clube não divulga em seu site o valor desembolsado pelos fervorosos tricolores para participar da festa.
10) Sentindo na pele
O Vasco da Gama foi muito além: o clube quis bater um recorde mundial recrutando seus torcedores mais fanáticos a tatuar a famosa cruz templária, em troca de uma terceira camisa grátis. A marca a atingir: 801 tatuagens em 24 horas. Teve torcedor que esperou 14 horas só para ser o primeiro contemplado. A campanha, chamada “Vasco na pele” teve o apoio do presidente Roberto Dinamite e do ex-jogador vascaíno Carlos Alberto. E acredite: o clube conseguiu alcançar a meta!
Fonte: R7Esporte.