Uma mistura entre balada 24 horas, sauna, opção para hospedagem e motel — com a diferença que não é preciso estar acompanhado. No dia do desfile da Banda Mole, bloco que tem por tradição homens se vestirem como mulheres, Belo Horizonte ganhou um espaço voltado, exclusivamente, ao público gay masculino e destinado à diversão e à “pegação”.
O proprietário Douglas Drumond explica que o empreendimento tem um conceito particular, e, justamente por isso, na marca, a palavra “hotel” vem seguida pelo adjetivo “single” — solteiro ou singular, em inglês. “É uma festa dentro de um hotel, para sempre.”, diz.
No espírito “desculpe-nos o transtorno, estamos em obras” e sem necessidade de reservas, o hotel abriu as portas no dia 7 de fevereiro. “Aqui em Belo Horizonte, como é uma coisa nova eu falei: ‘Deixa eu precipitar tudo, mas ter essa junção de atração turística, que é a Banda Mole’. Então, eu quis fazer nesta data da Banda Mole, eu antecipei tudo.”, justifica.
Fotos: Raquel Freitas.
Em 2015, o tradicional bloco do carnaval belo-horizontino completa 40 anos. Desta vez, uma das novidades da Banda Mole também teve a participação do empresário Douglas Drumond. O desfile, que é realizado no Centro, contou com um trio elétrico comandado pelo DJ Anderson Noise e montado pelo hotel e por uma marca de óculos.
Depois da Banda Mole, a festa pôde continuar no “Baile do Lobo Mau”, que marcou a inauguração do espaço. A estrutura está incompleta, mas já são oferecidos ao público duas saunas a vapor, uma a seco, armários, bar, música assinada pelo DJ Anderson Noise, além de 35 cabines.
Nos dias seguintes à abertura do empreendimento, o clima de Carnaval continua; pelo menos é o que promete o nome das festas programadas. Entre elas, estão o “Baile da Pegada Louca”, a “Sexta na Paixão”, e a “Quarta de Cinzas na Folia, Meu Bem”.
Balada Constante
Há cerca de quatro anos, o empresário, que já tinha um clube gay em São Paulo, pôs em prática a ideia de criar um hotel para o público homossexual na Capital paulista. Agora, ele abre uma filial do negócio só para homens do Largo do Arouche na Capital mineira.
Ele conta que, além dos hotéis-capsula da Ásia, inspirou-se em um hotel-balada da ilha de Ibiza. “Não sou muito da noite, mas fui lá conhecer e falei: ‘isso é um bom negócio’. Mas eu fiquei trancado dentro do quarto porque é muito engraçado você acordar e estar dentro de uma boate.”, diz.
Em Belo Horizonte, o local escolhido para o novo empreendimento é um prédio tombado, situado em uma das principais avenidas da cidade — a Contorno –, e em um dos bairros mais tradicionais da Região Leste — a Floresta.
De acordo com ele, o imóvel era, inicialmente, um cinema. Depois, como tantos outros espaços para exibição de filmes que fecharam às portas em Belo Horizonte, foi transformado em uma igreja evangélica. Com o encerramento dos cultos, o local passou a abrigar uma sauna gay, que terá parte da estrutura e do público aproveitada por Drumond.
Aos 43 anos de idade, o empresário mineiro tem familiaridade com o ramo da hotelaria desde a infância. O pai dele, José Décio Drumond, fundou dois motéis e o único hotel cinco estrelas de Belo Horizonte, dos quais hoje é acionista. “Meu pai sempre trabalhou com o ramo da ‘pegação’. Minha história é igual à dele, só que gay.”, brinca.
Drumond diz que o ponto alto do entretenimento no espaço é o desfile dos frequentadores pelos corredores e o trânsito entre as cabines. Ele ressalta que a “pegação” entre os hóspedes é um dos objetivos da estada.
A expectativa é que o espaço esteja totalmente pronto até agosto, quando será realizada a parada gay na cidade. Dentro destes seis meses, passarão a funcionar a piscina, outras 45 cabines e cinco suítes — entre elas, uma presidencial e uma com acessibilidade para portadores de necessidade especiais. De acordo com Drumond, inicialmente, estão sendo investidos R$ 3 milhões, quantia que pretende recuperar dentro de um ano.
O empresário afirma que a intenção é receber, em média, 200 hóspedes por dia, totalizando seis mil a cada mês. Em geral, o tempo de permanência é de quatro horas, mas Drumond também quer atrair o público para uma estadia maior.
“Eu tenho os armários. Então, muitas pessoas vêm para usar como um clube. Essa minha rotatividade, de curta estada, e de alta rotatividade dos armários e das cabines de solteiro, é o que me incomoda mais. Mas, nas suítes, as pessoas se hospedam por mais tempo.”, pontua o empresário.
Além dos interessados apenas na balada, o hotel terá como foco moradores da Região Metropolitana, que enfrentam dificuldades na volta para casa após as festas de madrugada, e também os hóspedes do turismo de negócios que querem esticar a estada na cidade.
Fonte: Raquel Freitas/G1-MG.