Luiz Fernando Coelho

A bizarra glória eterna feminina

O colunista Luiz Fernando Coelho reflete sobre a falta de estrutura por trás da "Glória Eterna" do futebol feminino na América Latina, expondo as falhas no investimento, apesar das grandes conquistas em campo

Corinthians conquista vitória e leva taça da Libertadores Feminina
Foto: Reprodução X / Conmebol Libertadores Femenina

Vamos falar de futebol feminino.

É aquilo que escrevi, numa crônica em que mostrava quantas medalhas as atletas tiveram que ganhar, para chegar no ouro, na prata ou no bronze olímpico. Em especial nosso time de futebol feminino.

Por isso não é uma conquista simples. Nenhuma delas.

Neste final de semana, com o título alcançado pelo Corinthians, o Brasil soma 13 títulos, em 16 disputados (Corinthians 5, São José 3, Ferroviária 2, Santos 2 e Palmeiras 1). “A Glória Eterna” está, mais uma vez, de posse de um clube brasileiro. Com a mais absoluta certeza, motivo de orgulho para sua torcida e para nós brasileiros.

Mas em que condições?

Um torneio de tiro curto, disputado quase em sua totalidade em um gramado sem quaisquer condições; atletas sendo transportadas em ônibus que já não oferecem um mínimo de conforto; jogos sendo realizados com o estádio praticamente deserto.

Já conhecemos o organizador da Libertadores masculina, com seus mandos e desmandos. Mas não tínhamos a noção de até onde estas atitudes poderiam ir.

Mais uma vez, e neste espaço precisamos falar de patrocínios. Fui atrás de quem banca esta aventura esportiva.

Com certa dificuldade, encontrei os 6 mais 1, sim porque este sétimo assinou a pouco tempo como patrocinador. São eles: Amstel, Bwin, Coca Cola, EA Sports, Mercado Libre, MG Motor e Ueno Bank.

Quanto será que estas empresas não deixam nos cofres da CONMEBOL, e nem por isso querem controlar para onde estes recursos vão. Que direitos foram comprados? Logo no back drop, placas no campo, logo no site? Bem uma coisa é certa, no site não tem logo de patrocinador.

Caminhando um pouco mais; olhando os quadros da CONMEBOL, percebe-se que em seu staff principal temos 11 homens, 0 mulheres, e em suas comissões, são 34 homens e 2 mulheres. Não gosto desta guerra dos sexos, mas, convenhamos, é muito pouco. E só de olhar o perfil de nosso Presidente da CBF, que é um dos poucos executivos brasileiros que tem assento na CONMEBOL, fico imaginando quem são seus companheiros.

Além disso, em meu trabalho de pesquisa, vi que a referida entidade aceitou a troca de sede, faltando 40 dias para o início da competição, que seria no Uruguai e passou para o Paraguai.
Não me cabe analisar as perdas e ganhos desta mudança do ponto de vista esportivo, mas cabe sim, olhar primeiro para o público – será que este campeonato não vale pelo menos o respeito àquele torcedor que estava se programando para ir assistir o torneio; será que os patrocinadores também, nem ligaram para o valor investido, que para eles tanto fazia ser no Paraguai ou no Uruguai?

Meus amigos, se o poder da indústria de patrocínios não vê nenhum valor no evento, porque então tivemos, por exemplo, a transmissão dos jogos no Canal SPORTV?

Ao lermos o site da entidade CONMEBOL, ficamos impressionados com sua missão, seus valores e seus programas de desenvolvimento do futebol, para torná-lo o melhor de todos os continentes. No caso do feminino, existe um programa de difusão do esporte, levando a Copa Libertadores para ser disputada, a cada vez, em um país da América Latina, como um programa de desenvolvimento do mesmo.

Olhando para as fotos dos jogos, quase que sem público algum, é de se perguntar ao sujeito que fez este planejamento, como ele acha que estádios vazios possam oferecer este desenvolvimento.

Em minha opinião, falta vergonha de lidar com o dinheiro alheio.

Mas falta, principalmente coragem para estes patrocinadores, retirarem seu apoio e viessem a público dizer o porquê. Se uma estrutura de um evento desmorona, mesmo que ninguém seja atingido, é um problema. E é mesmo. Mas se uma jogadora, se machuca, e fica impossibilitada de continuar jogando, se é numa fase intermediaria deste torneio, ninguém vai ficar sabendo, nem mesmo o patrocinador.

Realmente, o exercício do patrocínio é um ato de coragem de assumir riscos, neste campeonato da tal “Glória Eterna”.

Não por falta de recursos. A confederação é riquíssima, e nesta cruzada de desenvolver cada vez mais o futebol, sempre distribui prêmios maravilhosos aos vencedores. A equipe vencedora da Libertadores feminina, leva 1 milhão de dólares a menos que a equipe do masculino. Além disso, as benesses 5 estrelas, de primeira classe, são fantásticas, e o transporte das atletas não oferece nenhum conforto.

Insisto, é necessário que patrocinadores se envolvam no acompanhamento de como esses recursos são investidos, pois em algum momento muita coisa vai aparecer, e daí os dólares remanescentes irão para o gerenciamento da crise.

Parabéns ao Sport Clube Corinthians Paulista pelo pentacampeonato na Copa Libertadores de Futebol Feminino.

Em tempo. Em 2027, a CONMEBOL estará a frente da Copa do Mundo de Futebol Feminino, que se realizará aqui no Brasil. Senhores, se tomarmos cuidado, seremos nós, brasileiros, os gestores destas patacoadas sul americanas.