Uma das maiores polêmicas da primeira rodada do Brasileirão foi a determinação da CBF, por pressão da RGT, de cobrir os banners localizados nas entradas de acesso com o nome de nosso estádio: Allianz Parque.
A alegação é a de que somente os patrocinadores oficiais do Brasileirão podem ter as marcas exibidas nas transmissões.
As especificidades jurídicas determinam que as placas de “primeira linha” e de “segunda linha” obedeçam a esse critério. Desconheço o que caracterizam tecnicamente as tais linhas, mas duvido que as placas que ornam as entradas de acesso ao gramado sejam enquadradas nesse critério. E caso sejam, fica clara a necessidade de ajuste, cercear os direitos dos clubes de auferir renda extra é mesquinhez e covardia.
Foto: Gazeta Press.
A situação fica mais vergonhosa ainda porque um dos patrocinadores da CBF é a Unimed Seguros, concorrente da Allianz. Ironicamente, a empresa patrocinou a camisa do Palmeiras há poucos anos e certamente teria ficado bastante contrariada caso seu investimento em esporte não pudesse, por algum motivo, ser exposto.
O que evidencia que o problema é especificamente com o estádio do Palmeiras, é o fato de que, no Maracanã, onde jogaram Fluminense e Joinville, a publicidade do Guaraviton, que fica em local equivalente às placas do Allianz Parque que foram cobertas, não foi incomodada. O problema era com o Allianz Parque e com o Palmeiras.
Não se sabe exatamente o que ocorreu durante a semana; se o Palmeiras foi notificado ou não, e se concordou com o veto. O fato é que funcionários do clube cobriram as placas; e depois retiraram as tarjas após uma intensa revolta nas redes sociais – tudo isso antes do jogo começar.
O vídeo registrado por um torcedor mostra claramente uma moça se identificando como funcionária do clube, explicando o temor pela perda de mando de jogo – o que, sabemos, significa bastante para o fluxo de caixa do clube – a renda bruta ultrapassa constantemente os R$ 2 milhões.
A Fifa costuma exigir em contrato que os estádios de seus eventos sejam “envelopados”, para preservar os interesses de seus patrocinadores. Não consta que a CBF tenha isso no regulamento do campeonato. Logo, há um conflito.
A soberania do Palmeiras em seu próprio espaço tem que ser respeitada, mesmo que as filigranas jurídicas dessem aos censores essa prerrogativa. Diante de tamanho clamor popular, com o apoio de toda a imprensa, a tendência era de recuo da RGT/CBF. E de fato, já arrumaram alguém para colocar a culpa de tudo: uma “empresa terceirizada” que não tem nome.
O grande vencedor de toda esta história, certamente foi a Allianz. Uma empresa que investiu R$ 300 milhões para ter sua marca exibida, teve seu direito tolhido, virou vítima nas redes sociais e ainda teve, no final, a marca exibida na transmissão e uma repercussão extremamente positiva.
A RGT e a CBF saíram como os grandes vilões, como entidades abusivas, mesquinhas e autoritárias. Até a Unimed Seguros saiu chamuscada, mesmo que não tenha tido nada a ver com tudo isso – afinal, não basta ser, tem que parecer. Se de fato a empresa não pediu à CBF que tomasse a atitude, terá bons motivos para chiar com a entidade.
Que o episódio reforce a ideia geral de que os rumos que a RGT e a CBF estão dando ao futebol, de forma ditatorial, está agradando cada vez menos. Que os dirigentes não tomem o ocorrido como algo isolado, e que seja mais um combustível para que os clubes se unam para preservar seus interesses, visando melhorias no calendário, na distribuição dos recursos dos direitos de transmissão e nas regras gerais, decididas antes de tudo para atender os interesses da TV.
A emissora alega que coloca muito dinheiro no espetáculo e que tem esse direito. Mas esquece convenientemente que graças à visibilidade que só os clubes proporcionam, vende cotas publicitárias que cobrem com folga o investimento. Está na hora dos clubes baterem o pé e se valorizarem mais – e para isso os cartolas precisam, uma vez na vida, remar todos na mesma direção.