“Uma cidade se faz por suas expressões. A cidade é também a construção de uma mentalidade urbana. A vida moderna vai pondo tudo em um tempo, um ritmo, umas imagens, em uma tecnologia, em um espaço que não é só real (como se diz daquele lugar onde cabem e se colocam as coisas), mas também simulado, para indicar o lugar da ficção que nos atravessa diariamente: os outdoors, a publicidade, os grafites, as placas de sinalização…”
Silva, Armando. Imaginários Urbanos. (São Paulo: Perspectiva, 2001, p. XXV).
Uma cidade se faz por sua forma de se promover, de ver e de ser vista. E esta promoção se dá tanto para dentro como para fora. “O papel da promoção é mudar comportamentos e motivar ações”, pontuou William Rose, presidente do júri no Promo Lions 2009, endossando a escolha da campanha vencedora no Promo Lions Grand Prix deste ano, um case que transformou Yubari de cidade falida a ponto turístico no Japão. Após diversos estudos da sociedade local descobriu-se que lá havia a menor taxa de divórcio do país. Este mote, bem divulgado, com mascotes bem desenhados e aplicados em peças promocionais e produtos, além de uma minuciosa estratégia comunicacional fez com que muitos casais do país passassem a optar pelo local para realizar suas bodas, transformando a região em um agitado destino turístico (veja o case na íntegra: http://work.canneslions.com/promo/?award=1).
Salvas as proporções, no Brasil há um interessante case que transformou mais uma praia do litoral brasileiro em uma fonte de desenvolvimento econômico importante na região no Nordeste do país. Já ouviu falar em Porto das Dunas? Que tal Beach Park, no Ceará? Inclusive, vale assistir a arretada defesa do cantor Falcão para a criação do “Ramubrinká, 24 metros, 7 toboáguas e emoção para todas as idades”, uma criativa forma de gerar identidade e promoção (http://www.beachpark.com.br/beachpark/home/home.asp). Sem contar a invenção do Seguro Sol, que atrai turistas de todo o mundo com uma proposta de “indenização” em caso de chuva por dois dias bem na hora de tomar sol: das 11 às 16hs. Isso significa voltar à localidade sem pagar nada, a não ser as taxas de embarque. É uma estratégia promocional do Governo do Estado, via Secretaria do Turismo, do mercado local e de uma operadora de viagens.
São estas histórias promovidas, divulgadas, que constroem o imaginário que se tem das cidades respondendo, nas palavras de Armando Silva, “por condições físicas naturais e físicas construídas, por alguns usos sociais, por algumas modalidades de expressão, por um tipo especial de cidadãos em relação com os de outros contextos, nacionais, continentais ou internacionais; uma cidade faz uma mentalidade urbana que lhe é própria.”
Falando em promoção e em construção de histórias, ainda sem grand prix e sem muitos anúncios, como se desdobrará a atuação das cidades escolhidas para sediar a copa do mundo de 2014? (listagem completa: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/fifa-revela-cidades-sedes-copa-mundial-2014-474109.shtml). Como adequarão sua infraestrutura? E que contos contarão para a sua população e para aqueles que ali virão – com marcas, marcos, sonhos, com realização e com ilusão?
Quer saber? É só esperar cinco anos para ver.
Enquanto aguarda, reflita na companhia de Witold Rybczynski: “As cidades são artefatos. Não são os maiores objetos feitos pelo homem no mundo, mas o que lhes falta em tamanho é preenchido por seu impacto.”