Eu confesso: em adoro coentro! Pronto, começamos a polêmica! Por mim, eu colocaria coentro em tudo o que eu como, sem receios e considerando que tudo pode ficar ainda mais gostoso com ele. Simplesmente porque, para mim, “coentro é vida”, é confort food, é aquele saborzinho que faz tudo ficar bom, é aconchego doméstico e tudo isso vem da culinária da Dona Tetê (minha mãe) e da Dona Maria (minha vó), com uma riqueza típica e nordestina cheia de cheiros, sabores e temperos.
Coentro é algo polarizante, eu sei: ou você gosta ou não gosta. Alguns, como a Lully (minha amada), dizem que ele mascara o sabor de qualquer coisa. Ela só aceita, e, em pouca quantidade, em um peixe ou frutos do mar, já eu colocaria no feijão, no arroz, no ovo e até em uma sobremesa se coubesse.
Muitas bebidas têm o coentro como ingrediente, como o caso de alguns gins e vodkas, já em drinques é sempre uma delícia. Quer dizer, para mim, claro!
Eu nunca soube aceitar ou entender o porque da resistência ao coentro, até conseguir traçar um paralelo dele com outros conhecidos sabores e temperos.
Por exemplo, eu adoro comidas juninas, principalmente as que vêm do milho. Entre elas a que mais gosto é canjica (que em alguns lugares do Brasil é conhecida com mugunzá).
Eu gosto do sabor, da textura, até como algumas que vêm com amendoim, mas a clássica, branquinha, com aquele creme branco é a que mais gosto. Mas com um detalhe: por favor, sem cravo e canela!
Tá aqui a conexão que me faltava e agora eu entendo quem não gosta de coentro, pois pra mim, o cravo e a canela são o coentro das iguarias juninas, das sobremesas e das delícias doces.
Eles tiram todo o sabor do prato original e então eu acabo comendo um doce de cravo e canela, sabor canjica. Imagino que seja assim que os detratores do coentro pensam.
É claro que eu respeito o gosto e a opção de todo mundo, valorizando ainda as nuances incríveis destes elementos da culinária mundial e que são importantes ingredientes na cozinha originária de muitas regiões.
O coentro, por exemplo, não tem uma origem certa, mas já era usado pelos egípcios, além de gregos, romanos, indianos, árabes e portugueses. De onde deve ter vindo a influência que acabou chegando no Brasil e de quebra na minha família.
O cravo (também conhecido por cravo da Índia), veio das Ilhas Molucas, na Indonésia, mas também tem uma história rica junto aos árabes, romanos e povos europeus, sendo muito utilizado também como medicamento e até repelente de formigas.
A Indonésia consome cerca de 50% da produção de cravos do mundo, mas a gente reconhece fácil sua presença em pratos indianos, por exemplo.
Por fim, a canela é também originária do Oriente, fruto de grande comércio marítimo que levava muitas navios especialmente para o Ceilão (hoje chamado de Sri Lanka), nos séculos XIV e XVI, já como um condimento e aromatizante popular, muito usado em doces e na culinária em geral.
E antes que este texto se transforme apenas numa ode ao coentro em detrimento do cravo e da canela, é importante lembrar que juntamente com outras especiarias, como o cravo, a pimenta-do-reino e a noz-moscada, esses temperos e condimentos foram utilizados como uma verdadeira moeda de troca para pagar serviços, impostos, dívidas, acordos, obrigações religiosas e serviam até mesmo como dotes, heranças, reservas de capital e divisas de um reino.
E isso é incrível! Imaginar que um tempero, condimento, em grão, casca ou simplesmente em pó, se transformasse num verdadeiro pó de pirlimpimpim não só de receitas culinárias, mas das receitas comerciais.
E é aqui, justamente aqui, e em meio destes cheiros e sabores maravilhosos, que eu queria fazer uma conexão e também uma metáfora:
Qual é o seu tempero especial? Qual é a pitada diferenciada que você tem e que faz com que tudo tenha uma personalidade própria?
Afinal, em um mundo repleto de padronização e commodities, se dar quase ao luxo de ter uma característica especial ou um sabor, cheiro ou acento diferenciado que faça com que você seja marcante é essencial.
E falo isso com o peso de imaginarmos que o mundo, a partir de agora, vai precisar muito de um comércio ávido por temperos e condimentos diferenciados e inovadores. Aqueles capazes de transformar qualquer prato, negócio, projeto e necessidade em algo inesquecível e marcante.
E este tempero vem das pessoas, dos profissionais e de todos que buscam não sucumbir diante da possibilidade confortável de ser mais um – não que isso seja necessariamente uma opção errada – mas que define pra si o papel de ser marcante, como um coentro, um cravo ou uma canela. Ou como qualquer sabor pronunciado que determine uma característica de diferenciação impossível de passar despercebida.
E se tem algo que sobra como tempero e condimento para o brasileiro no geral, é a criatividade, o talento, a flexibilidade e a incrível capacidade de dar a volta por cima – e tudo isso sempre embalado numa sempre presente aura de generosidade – e de querer fazer bem.
Dentro deste cenário, desde a semana passada eu e meu amigo pra lá de gente boa, Júlio Andery, um premiadíssimo e conhecidíssimo publicitário que tem como lema e proposta profissional que “propaganda (e aqui você pode colocar comunicação, live marketing, experiências ou qualquer outra palavra do nosso mercado) boa pra todo mundo”, e é justamente este o tema de um projeto que estamos encabeçando às quartas-feiras, sempre às 21h, propondo que esses temperinhos incríveis que temos de sobra no nosso mercado e em incríveis profissionais, como a criatividade, talento, experiência e vontade de ajudar, estejam à disposição de pequenos negócios, de empresários em dúvida para qual caminho seguir, profissionais procurando recolocação, estudantes querendo desenvolver seus portfólios e toda e qualquer dúvida de quem já entendeu que é justamente a comunicação que fará com que ele possa reavaliar a si próprio e seus business e buscar se recolocar no novo cenário.
Mais do que uma live, é uma proposta, um projeto ou um “coworking do bem”, que busca aproveitar o excedente de qualidades que temos em um mercado que não está, infelizmente, absorvendo todo esse material humano e podermos direcioná-lo para causas nobres, fazendo com que o mundo – ainda que numa visão mais estreita – possa retomar seu caminho.
Se você gosta de coentro, cravo ou canela, mas principalmente, se você sente que tem um temperinho especial ou a medida certa de uma pitada mágica que faça com que as coisas aconteçam, considere-se convidado. Vamos ajudar o mundo com nosso tempero.