Eu, desde muito cedo, fui bombardeado por expectativas, todos nós fomos. A primeira delas foi a horrenda “O que quer ser quando crescer?”, e, sem perceber, fomos incutidos com a ideia de que para ser alguém, você tem que ser algo.
Eu, filho da classe média brasileira, obviamente, fui para a tríplice coroa do tradicionalismo – Engenharia, Medicina e Direito.
Este ex advogado que vos subscreve tomou muitos desvios e retornos. Se me perguntam: “Foi difícil abrir mão de uma carreira, graduação, pós e mestrado?”. Não, não foi.
Normalmente, a pergunta que segue é: “Mas, por que Publicidade?”.
Por quê?
Porque eu preciso da constante lembrança do fracasso, algo que, convenhamos, não seria lá boa ideia caso me tornasse médico. O fracasso é parte da vida, pessoal e profissional. Quem trabalha com Publicidade conhece bem.
Demorei a tomar a decisão de não superá-los, mas colecioná-los.
Entenda, o fracasso traduz-se de várias formas, uma campanha que não “converteu bem”, uma ideia que o cliente “matou”, e, o pior deles, ter sua ideia escorraçada em praça pública.
Sempre me vem na lembrança a campanha de Carnaval realizada pela Skol, anos atrás, “Deixe o não em casa”, um marco para a marca, e, como amamos dizer, posterior turning point em sua comunicação.
Um fracasso que se tornou pedra angular para criar uma comunicação elogiada, invejada e até imitada por alguns, permitiu que a marca pudesse, inclusive, revisitar peças antigas e se retratar.
Fomos habituados a exaltar nossos sucessos, e, em mundo de Instagram, Facebook, Twitter, e, claro, LinkedIn, essa cultura good vibes, superman que tudo faz e tudo conquista é um must, tal qual publicitários em brainstorm utilizando termos em english. É briefing, deadline, budget, target e tudo isso em um único meeting de toró de ideias.
Esse texto não é uma crítica à nossa profissão, mas um elogio à nossa habilidade de conviver, diariamente, com o nosso fracasso, por mais simples que ele possa vir a ser. Somos especialistas em aprender com nossos erros e insuperáveis quando se trata de aprender com o erro dos outros.
Meu primeiro contato com Publicidade foi na Miami Ad School, um local em que a cultura do sucesso com pastas impecáveis e megacriativas é incutida já na primeira aula, algo que aprendi com relativa velocidade. Aprendi que como publicitário eu sou meu próprio produto e o mundo precisa conhecer os “features” deste que aqui vos redige.
O que eu não aprendi lá foi tão importante quanto.
Para nos tornarmos melhores profissionais temos que experimentar e colecionar os fracassos. Seja quando recebemos um job que temos que refazer de novo (sim, somos a profissão a qual o pleonasmo se curva), ou nos rebriefings.
São nas pequenas derrotas, alterações do cliente, nas médias, como falta de budged, ou baixa conversão, e nas grandes, como uma expressão de empoderamento negro numa campanha de papel higiênico, que vamos aprendendo, melhorando e criando uma casca, para quando acertarmos um golaço possamos comemorar, celebrar, e, no dia seguinte, se necessário, fazer um post de Dia do Cliente no Facebook.
Não vivemos de Leões. Vivemos de clientes e ideias.
Se não colecionarmos os fracassos e criarmos repertório, as chances de errar continuarão pairando nossas pequenas cabeças de onde tantas grandes ideias vêm.
Ilmos. Senhores Doutores Jovens Publicitários, venho por meio deste requerer o que segue.
Vendam lindas pastas e portfólios, valorizem-se.
Mas, em sua caminhada colecionem fracassos, espero que não sejam diários, pois são eles que vocês vão usar para construir uma carreira digna de orgulho, e, quando chegar a hora, reconhecida.
Nestes termos pede deferimento.