Não é todo mundo que sabe disso, mas em abril é celebrado o “Mês do Braille”, e a marca de tintas Coral decidiu homenagear o período com uma ação especial para indivíduos cegos.
Batizada “Cores que tocam”, a campanha criou tabletes cromatizados em 70 cores do portfólio oferecido pela empresa, mas há um detalhe especial: todas as peças são legíveis em braille, o método de leitura pelo qual deficientes visuais conseguem ler o mundo à sua volta. O mais interessante é que o projeto da Coral une ciência e capacidade lúdica para aproximar cegos de algo que, para pessoas com visão tradicional, é comum: escolher cores.
Campanha da Coral usa a ciência dos cegos “sentirem” cores de forma prática
Segundo diversos estudos, as cores também se manifestam no cérebro de pessoas cegas através de emoções, memórias e sensações. Uma pesquisa bastante específica, publicada na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) em 1999, viu um paciente que nasceu com deficiência visual associar cores a objetos, provando que o conhecimento conceitual de tons não necessariamente depende da representação visual deles.
Pensando nisso, a Coral firmou parceria com a Fundação Dorina Nowill para Cegos, criando uma forma de viabilizar a possibilidade de escolha de cores para pessoas com deficiências visuais de variados graus, por meio da leitura em braille. Até então, tal ação era possível apenas para aqueles com visão tradicional.
“Na Coral, acreditamos que as cores têm o poder de transformar ambientes e vidas. Essa crença se fortalece à medida que mais pessoas têm acesso a essa experiência”, diz Juliana Zaponi, gerente de Comunicação e Cores LATAM da AkzoNobel, dona da Coral. “Esse projeto dá um passo crucial na inclusão para garantir que mais pessoas possam sentir e escolher cores de uma forma inovadora, indo além da visão e explorando novas formas de conexão sensorial”.
Como funciona a ação “Cores que tocam”
A nova ação não apenas presta homenagem aos cegos no Mês do Braille, como também celebra os 70 anos de atuação da Coral no Brasil. De acordo com a marca, a “Cores que tocam” selecionou 70 cores em 9 escalas cromáticas, permitindo a exploração de inúmeras combinações. A partir disso, foram criadas iniciais em Braille, agregando valor gráfico e estabelecendo um caminho criativo único para a linguagem visual do projeto.
O primeiro passo foi traduzir os códigos dos sistemas de cores – a saber, CMYK, RGB e HEX – no que a Coral chamou de “Cromopoemas”: essencialmente, textos posteriormente gravados em áudio e que são capazes de evocar sensações, traduzindo cores em sentimentos. A partir daí, os cromopoemas da Coral foram dispostos em um leque de cores tal qual se encontra em lojas de materiais de construção, mas com o adendo de ser legível para cegos.
O ponto mais interessante disso é a diferença fundamental entre os leques normais e os cromopoemas impressos: pessoas com visão normalizada vão à loja e “vêem” os tons dispostos em várias cores. Os cromopoemas da Coral são totalmente pretos, visualmente falando, e os cegos enxergam as cores que eles representam por meio do sistema Braille de leitura.
A ideia é que as descrições dos poemas tragam à tona o conhecimento conceitual de cores. Por exemplo: o Laranja Cítrico virou a “vontade de morder uma fruta fresca no recreio. Deixar o suco escorrer pelo queixo e passar o dia com o perfume dela nas mãos. Essa cor é o Laranja Cítrico, um tom de laranja vibrante e quente”.
“Acreditamos que a inclusão acontece quando as diferenças são respeitadas e valorizadas. Projetos como o ‘Cores que Tocam’ representam um avanço significativo nesse caminho, pois permitem que pessoas cegas e com baixa visão tenham acesso a experiências antes restritas ao universo visual. Ao transformar cor em sensação, poesia e som, a Coral contribui para ampliar horizontes e reforça a importância da acessibilidade como parte essencial da inovação”, acrescenta Alexandre Munck, superintendente executivo da Fundação Dorina Nowill para Cegos.
Os cromopoemas também têm suporte à aceleração de áudio em duas vezes sem perda de qualidade, adicionando uma curadoria tecnológica ao projeto.