Vamos falar hoje de super-heróis, super poderes, vilões e da luta por justiça?!
Apesar do título, não falaremos hoje da DC Comics, Inc., esta incrível editora americana de histórias em quadrinhos (subsidiária da Warner Bros), proprietária e produtora dos mais incríveis conteúdos dos icônicos heróis do mundo mágico das HQs e filmes como: Batman, Superman, Wonder Woman, The Flash, Green Lantern, Aquaman, Shazam e outros tantos.
Falaremos de uma metáforica Liga da Justiça e de uma Legião de Super-Heróis que se reúnem em torno de um DC: de um Diretor de Criação. E nas mais variadas empresas que trabalham com criatividade, conteúdo e até mesmo no universo amplo da inovação e tecnologia onde mesmo sem este título, temos aqui o personagem da gestão de processos que buscam novos conceitos, ideias, produtos, estratégias, caminhos e negócios que movimentam inúmeros mercados.
Por mais que seja quase irresistível não pensar em Comics como algo engraçado e divertido – uma das suas possíveis traduções, mas com um grande risco de cairmos num falso cognato – queria falar aqui do que acontece em torno das histórias desse cara, o Diretor de Criação e que, às vezes, tem outros títulos como head, coordenador, gerente, VP ou CCO.
Este é um cara que se vê constantemente desafiado a buscar seus superpoderes contra a vilania que anda à solta por aí e os inúmeros processos, empresas, clientes, jobs, colaboradores, líderes, gestores, empreendedores, investidores, fornecedores e briefings que travestidos de Coringa, Lex Luthor ou Sinestro, travam verdadeiras guerras contra a continuidade de processos settados em criatividade e inovação, impedindo que projetos diferenciados sejam criados, impondo que os jobs sejam sempre realizados sob um grande e desnecessário estresse, conspirando a favor de uma insegurança generalizada, desconsiderando expertises e referências, espalhando um clima de pressão insustentável e batalhando ardorosamente para trabalharmos em função de necessidades pessoais e satisfações egoicas, buscando uma padronização perigosa e disfarçada de segura, mas que esconde um direcionamento exagerado pela democratização de algo que tem em cada um sua própria expressão: o seu superpoder em criar, fazer, realizar, concretizar e inovar.
Que me desculpem aqueles que estão felizões porque leram o último livro que revela os segredos dos maiores criativos do mundo, os que fizeram cursos da técnica mais falada dos últimos tempos e onde encontramos nos post its a solução de todos problemas do mundo e a todos vocês que acham moderno, lindo, inclusivo e democrático colocar 32 pessoas dentro de uma sala para fazer uma sessão de ideação (que p… é essa?) achando que a massa crítica e a pluralidade são por si só a fórmula ideal para trazer as melhores ideias e soluções.
Olhem o mundo ao seu redor e vejam como as ideias estão muito parecidas hoje em dia e o quanto se vem discutindo nos últimos anos sobre vivermos uma crise criativa sem precedentes, navegando em cima dos mesmos temas, bases e pesquisas, discutindo sobre os mesmo assuntos, mas continuando a deixar um monte de gente feliz por se sentir empoderada participando de um processo onde não precisavam estar e sabe por quê?
Porque não tem problema nenhum em você não fazer parte da Liga da Justiça e não ser um super-herói com capa de invisibilidade ou o raio congelante da criatividade.
Da mesma forma como o mundo não é feito só de super-heróis, ele também não é feito só de criativos e isso realmente não é um problema. Que bom que ele é assim!
O mundo precisa e pede pessoas que tenham bons insights e uma boa dose de criatividade, mas acredite: isso não significa que todos sejam criativos funcionais: aqueles criativos de carteirinha, profissionais e que se reúnem dentro da Sala de um DC para discutir como resolver os inúmeros problemas que chegam diariamente nas mais diferentes empresas e para serem solucionados das mais diferentes formas.
Você conseguiria imaginar Leonardo da Vinci, Michelangêlo, Santos Dumont, Thomas Edison ou Albert Einsten bookando uma reunião de brainstorming ou fazendo um call democrático – inclusivo – empoderador – vem você também – para ter uma ideia?
O que estamos fazendo? Convidando todo mundo para uma festa ou definindo claramente o papel de cada um? Exigindo que cada um faça o seu ou querendo que todo mundo faça tudo ao mesmo tempo e agora?
Cada super-herói tem seu papel, sua função, e, sim, podem funcionar em conjunto, mas ninguém passa na frente de ninguém, ninguém precisa ter vontadinha de fazer o que o outro faz e cada um tem no seu mindset que é importante porque ele é daquele jeito. E é assim que um DC (Diretor de Criação) cria e faz a gestão do seu time, buscando equilíbrio, as melhores pessoas nos melhores papéis, os melhores superpoderes aplicados nos casos mais coerentes e um olhar sistêmico de fazer com que tudo isso funcione com final feliz, derrotando todo e qualquer tipo de vilão, mesmo aqueles que se mostram um fogo amigo, e trazem dentro de suas próprias estruturas o medo, a desconfiança, a insegurança ou um processo interno mais desafiador do que sua venda para o cliente.
No meio disso tudo está o DC, um cara que não pode errar, não pode mostrar fraquezas e que esprimido por sua equipe e o board acima dele, tende a se isolar, se tornar mais sozinho, perdido na insegurança que todo herói tem, nos seus questionamentos e na busca de recursos, poderes ou conselhos de algum mestre que ele espera que apareça e possa ajudá-lo a saber como suportar tudo isso e prosseguir liderando seu time nessa cruzada contra “o mal”.
Fugindo da criptonita deixada intencionalmente próxima de si, ele é um cara que merece o meu mais profundo respeito, ainda mais em um tempo onde o que mais se vê são pessoas se pondo na sua posição sem saber exatamente do que se trata, afinal, você pode ir na Ladeira Porto Geral e comprar uma fantasia do super-herói que você quiser, mas isso certamente não o transformará e nem lhe trará algum superpoder.
E é assim, como esse jeito de Festa a Fantasia, que vemos todos os mercados de trabalho tendendo ao risco zero, à estigmatização do erro, ao receio em inovar, ao acordo tácito em se curvar a qualquer vontade, a uma postura medrosa e por vezes covarde em não se impor, a uma mediocridade crescente e um lamentável aceitar de verdadeiras figuras de outras HQs como o Pateta, os Metralhas, a Madame Mim, o Pato Donald ou o Professor Pardal como protagonistas das melhores histórias que poderíamos construir e é aí que de comic tudo vira cômico.
Se você trabalha em algum lugar que tenha um DC ou alguém que ocupe um cargo/encargo semelhante, olhe ele hoje com mais cuidado e entenda: ele não quer que você resolva os problemas dele, só quer que você o deixe fazer seu trabalho. No geral, ele tem superpoderes para isso!
Por Dil Mota.