30 de abril

No Dia do Profissional de Eventos, especialistas debatem sobre mão de obra qualificada e desafios do setor

Mesmo com taxa de crescimento promissora, segmento ainda sofre com denúncias relacionadas a má remuneração e concorrências desleais

Dia dos profissionais de eventos. Promoview

São Paulo - Em 30 de abril é comemorado o Dia dos Profissionais de Eventos, segmento que aparenta estar em constante evolução. Somente em 2024 o mercado gerou mais de novas 76.537 vagas de emprego no Brasil, com o PIB do setor registrando alta de 2,7% em relação ao ano anterior de acordo com a ABRAPE.

Contudo, mesmo com números promissores, o segmento ainda enfrenta dificuldades, ainda mais quando falamos do retorno monetário, qualificação profissional ou desafios de escopos.

“O mercado de eventos vem crescendo exponencialmente nos últimos anos e a capacitação não segue a mesma velocidade. Falta gente preparada e com noção básica nos eventos, e isso acarreta em eventos com uma série de problemas e até mesmo fatalidades“, expõe Dani Martins, Diretora Educacional na Espe Educação, primeira escola de produção de eventos do país.

Percalços do setor

O relatório “Women in Eventos: The 2024 Career Progression and Satisfaction Report”, produzido pela Event Marketer e pela agência Sparks, traz um panorama sobre a participação das mulheres no setor de eventos, abordando temas como benefícios e remuneração, satisfação profissional, liderança e diversidade.

No estudo, que também monitora as tendências e insights sobre o segmento, é possível entender um pouco sobre os desafios enfrentados no dia a dia da profissão, incluindo:

  • Falta de mão de obra: as equipes muitas vezes não são suficientes para atender às demandas do setor;
  • Prazos curtos e orçamentos apertados: reflexo de reorganizações pós-pandemia e redução de recursos;
  • Expectativas elevadas de clientes: pressões constantes por resultados excepcionais, mesmo com recursos limitados;
  • Equilíbrio entre vida pessoal e profissional: as mulheres enfrentam dificuldades para conciliar trabalho, filhos e outras responsabilidades, agravadas pela falta de políticas flexíveis em algumas empresas.

Marcello Borgerth, CEO da Brandtruck, também elenca algumas situações recorrentes que fazem parte da realidade do mercado de eventos e acabam por refletir o segmento, como a concorrência desleal e os pagamentos realizados à longo prazo:

“Os eventos exigem investimentos antecipados em materiais, equipamentos, transporte, alimentação, equipes e pagamentos prolongados podem comprometer as entregas. Neste caso, preferimos declinar o job, mas nunca comprometer a entrega. A recusa consciente a contratos com prazos abusivos é necessária e fortalece o setor.

O cliente precisa estar ciente que não existe almoço grátis. A conta de fornecedores que fazem milagres pode chegar lá na frente e ser dolorosa, pois eventos não dão a oportunidade de errar e corrigir ‘ah, na próxima faço com outra empresa’, a coisa acontece em tempo real, tudo tem que dar 100% certo naquele momento, não existe outro dia para consertar.

Marcello Borgerth, CEO da Brandtruck

Falta mão de obra?

Ao mesmo tempo em que os profissionais alegam um possível descaso, os empregadores, e a Secretaria de Cultura de São Paulo, falam sobre a falta de mão de obra qualificada. Um diagnóstico realizado pela instituição, revelado dia 30 de janeiro, durante a divulgação do CULTSP PRO, encontrou um déficit de mão de obra habilitada para as funções técnicas e operacionais; necessidade de lideranças capacitadas e uma deficiência na formação de habilidades comportamentais. E, por esse motivo, resolveu lançar cursos gratuitos de acordo com essas demandas.

Essa carência não acontece só na capital, mas em todo o estado. “O setor tem uma desestrutura. Não falo de desestrutura organizacional, mas sim de mão de obra. E, cada vez que falávamos sobre eventos, percebemos isso. Há algum problema de comunicação entre as oportunidades de negócio e de emprego no interior. E isso abre, sim, uma grande lacuna”, explica Marília Marton, Secretária da Cultura de São Paulo.

Porém, esse “problema” não é uma questão que pode ser cobrada apenas dos profissionais, mas de todos os envolvidos no ecossistema dos eventos que acabam contribuindo direta ou indiretamente para a piora da situação.

“Justamente pela falta de profissionalização, boa parte do mercado de eventos ainda atua de maneira informal. Temos sim hoje muitos avanços no setor, como por exemplo as contratações CLT como coordenador de eventos, reconhecida pela CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) e há tramitação de nomear os produtores de eventos também, mas ainda falta a conscientização de quem faz parte da cadeia, quem contrata muitas vezes nem sabe o que faz um profissional de eventos“, argumenta Dani Martins.

Dani Martins fala sobre o Dia do Profissional de eventos

Quando eu comecei, há mais de 20 anos atrás, evento era visto apenas como bico, e hoje quem pensa assim, tira muitas oportunidades no mercado e isso faz com que os valores de cachês e salários sejam “leiloados” e tenham pessoas aceitando trabalhar por qualquer preço. A classe em si, precisa se unir mais e a ajudar a educar o mercado, contratando iniciantes que querem fazer carreira na área e não o primo ou o amigo próximo. Se cada um fizer sua parte, a qualificação, valorização e transformação do mercado vem.

Dani Martins, Diretora Educacional na Espe Educação

Existe salvação para o setor de eventos?

A CULTSP vem com o intuito de fomentar a empregabilidade, fortalecer o mercado e impulsionar o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria criativa e iniciativas como essa podem ser um bom começo para minimizar as dificuldades e melhorar o mercado de trabalho de eventos.

“É extremamente necessária que estas iniciativas aconteçam, pois profissionais de eventos precisam estudar, aprender, se aprimorar antes de iniciar. Evento não é brincadeira, de uma hora para outra pode dar tudo errado, principalmente quando estamos recebendo pessoas e vidas. Portanto, é importante se preparar muito, ter conhecimento, buscar experiencias, saber lidar com imprevistos, rapidez em tomar decisões, ser muito apaixonado por eventos e ter o prazer em entregar com excelência, opina Marcello.

A Diretora Educacional da Espe também concorda com a eficácia da criação de mais instituições para o desenvolvimento desses profissionais, mas alerta para possíveis complicações que podem surgir durante os cursos:

“Eu bem sei a dificuldade em absorver alunos para esta área, que muitos acham que não precisa de teoria, apenas prática, porém engana-se quem pensa assim. A teoria vai dar toda a base e direcionamento para que este profissional possa ser mais assertivo em suas escolhas e evitar muitos problemas na hora de produzir um evento e até mesmo contratar fornecedores”.

E finaliza: “incentivo vindo do governo pode dar mais amplitude e difundir mais a necessidade dessa capacitação, assim como meios para dar oportunidades para jovens aprendizes, fomentar mais eventos com qualidade e segurança em espaços públicos e privados”. 

Beatriz Maxima

Repórter

Formada em Jornalismo pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) e Pós-graduanda em Jornalismo Cultural e de Entretenimento, possui mais de cinco anos de experiência em produção de conteúdo.

Formada em Jornalismo pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) e Pós-graduanda em Jornalismo Cultural e de Entretenimento, possui mais de cinco anos de experiência em produção de conteúdo.