O-amparo às pessoas economicamente mais frágeis deve ser prioridade de todos nós.
Os efeitos da pandemia no bolso de quem precisa ganhar hoje o dinheiro para comer hoje manifestaram-se imediatamente após o início das restrições impostas pela política de combate ao coronavírus.
Nesse sentido o auxílio emergencial concedido pelo governo, e aprovado pelo Congresso, tem sido fundamental. E é excelente que seja mesmo estendido por mais três meses.
Como nada é perfeito, nessa gestão especialmente, a implantação do programa, num país que se orgulha do mais avançado sistema de automação bancária, foi vexame.
Milhões de brasileiros, “invisíveis” (e geralmente na ponta de baixo da miséria) não conseguiram se cadastrar.
Quem conseguiu precisou, em muitos casos, entrar na fila da contaminação, aglomerando-se horas a fio nas portas das agências da CEF. E, cerejinha do bolo, dezenas de milhares de patifes com renda, muitos deles fardados (ué? Não são à prova de corrupção?), descolaram suas parcelas de R$600,00 indevidamente.
É preciso louvar as iniciativas de empresas, associações e pessoas físicas que organizaram rapidamente doações e ações assistenciais. Elas também tem sido muito importantes para mitigar os efeitos da paralisação da atividade econômica sobre a grande massa de desprivilegiados.
Nesse caldeirão de demandas há outros personagens igualmente precisando de ajuda e atenção: os micro, pequenos e médios empresários, maiores empregadores do país.
Nem de longe comparo os graus de necessidade. Porém qualquer planejamento para sobrevivermos a crise com um mínimo de condições de retomar crescimento e desenvolvimento precisa levar as empresas em conta. De verdade.
No discurso é assim. Na prática simplesmente não acontece.
Dados do Banco Central mostram que de 16 de março a 29 de maio menos de 8% dos R$554 bilhões de crédito novo liberado pelo conjunto de bancos do sistema financeiro nacional foi direcionado a micro, pequenas e médias empresas.
É mais fácil achar o Wally do que um pequeno empresário que obteve recursos nesse período.
Segundo a FGV, entre abril e maio 38% das pequenas empresas nacionais buscaram empréstimo. Dessas, apenas 14% conseguiram. Ou seja, 86% saíram de mãos vazias.
Os bancos, que receberam centenas de bilhões de reais do governo para emprestar, entesouraram o dinheiro e diante de empresas necessitadas agem como se crise não houvesse, e exigem garantias e situações fiscais que, se existissem, tornariam desnecessário o próprio empréstimo.
Mais recentemente, já em junho, e para operações pequenas, o PRONAMPE surgiu com suas cartinhas de Papai Noel prometendo distribuir quase R$16 bilhões. A ver se nesse caso o bom velhinho existe. Seria ótimo. Mas é menos que pouco.
No Estado de São Paulo, para não dizerem que meu foco exclusivo é federal, o governo lançou duas linhas de crédito para micro e pequenas empresas. Uma garantida pelo próprio governo, outra pelo BNDES. O volume de recursos da primeira foi de R$500 milhões. O da segunda, salvo engano, de R$ 1 bilhão. Acabou em dias e não foi renovado.
A situação é de uma dureza tamanha que até economistas liberais (de verdade, não os liberais primitivos abrigados no Ministério da Economia) tem sido firmes na defesa da concessão maciça de crédito a CPFs e CNPJs.
Enquanto esse dinheiro permanece apenas nas manchetes e anúncios, e não se transforma em realidade no caixa das empresas, falta para despesas de custeio, folha de pagamento, quitação de parcelas de empréstimos e refinanciamentos (naturais na vida de empresas brasileiras de todos os portes).
Sem entrar no mérito do poder judiciário e sua realidade quase paralela, onde juízes, procuradores, promotores e estafetas em geral recebem salários integrais da viúva e seguem despachando e decretando execuções como se vivêssemos a mesma prosperidade que eles próprios usufruem graças ao nosso dinheiro.
O governo brasileiro, hoje sabujo dos americanos e responsável pelo vice-campeonato mundial de mortes pela Covid-19, poderia copiar o grande irmão também no que ele faz de bom.
Lá, na “América”, foram cerca de U$ 2 trilhões em linhas de crédito liberadas e coordenadas pelo FED. Dinheiro que chegou na ponta necessária e mostrou seus efeitos quase imediatos, promovendo o início de uma recuperação em “V” que já se comprova nos números de maio.
Evitar a quebradeira custa mais barato que recomeçar do zero. Não é nenhum favor. E preserva empregos, cadeias de valor, atividade econômica, enfim, esperança.