Experiência de Marca

Eu sei, mas mesmo assim...

Oh! Trocas mercadológicas… Não foi gentileza criar uma sacolinha de papel para quem não pode comprar a bolsa de verdade?

Por Marina Pechlivanis

Qual a magia que transforma uma sacolinha de papel, dessas de padaria, em um objeto de desejo valendo US$ 290,00? Pois a versão Vasari Sac esgotou na loja da Jil Sander no Soho. Mesmo a versão em couro esgotou, por módicos US$ 630,00 e uma presença discreta da marca. No passado, ela já lançou sacolinhas plásticas estilo supermercado por US$ 150,00. É a prova de que a marca tem o poder de mudar a materialidade das coisas.

Em sua obra Simulacros e Simulação, Jean Baudrillard aborda a questão da comunicação em circuito fechado como um logro, que tem a força de um mito. “A crença, a fé na informação agarra-se a esta prova tautológica que o sistema dá de si próprio ao redobrar nos signos uma realidade impossível de se encontrar”.

Trata-se de uma forma de adesão aos mitos contemporâneos tão ambígua quanto a existente nas sociedades arcaicas. É o que o autor chama de “Crê-se mas não se crê”, que faz com que alguém, pelo poder mitológico de uma deidade — ou uma grife — dote de valor algo que, tecnicamente, não tem este valor todo.

Hugo Chávez, por exemplo, colocou o endosso estatal nos sucos Los Andes, que agora aparecem com o selo: “Hecho en Socialismo” e o endosso “Lácteos Los Andes Misión Alimentación”, do Gobierno Bolivariano de Venezuela, associado ao Ministério Del Poder Popular para La Alimentación.

Aos interessados, há o link para a mensagem que os funcionários escreveram com votos de melhoras para o presidente.

James Bond, por sua vez, recomenda a linha Xperia, da Sony. Que na verdade é o “The Bond Phone”, telefone que aparece no filme 007 Operação Skyfall e que vem com diversos gifts e gadgets para os fãs do filme. A mensagem que aparece em um dos anúncios é “Agora, você sabe o que o espião número 1 do mundo faz entre uma missão e outra”.

Na avenida, durante o Carnaval, como sempre, interesses. E interessados. Nos sambas-enredo, nas fantasias, nos mimos, nas fragrâncias, nos aromas, nas memórias, nos protocolos, nas lendas… O desfile da Vai Vai, por exemplo, tinha como tema: “Sangue da Terra, Videira da Vida, um brinde de amor em plena avenida. Vinhos do Brasil”.

O apoio da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul, do Instituto Brasileiro do Vinho e das Associações Vinhos do Brasil e 100% suco de uva. Leques com o samba-enredo impresso — e mais todas as marcas de patrocinadores — foram distribuídos destacando a mensagem: “Se for dirigir, não beba”.

E as marcas estavam também nas bandeirinhas plásticas distribuídas para agitar a torcida.

Falando em bandeirinhas e bebidas alcoólicas, as distribuídas pela Rosas de Ouro tinham destaque do patrocinador Bejame, além da Linkplast. Já as distribuídas pela Mancha Verde davam destaque para o apoio do senador Antonio Carlos Rodrigues:

Oh! Trocas mercadológicas… Não foi gentileza criar uma sacolinha de papel para quem não pode comprar a bolsa de verdade? O celular do Bond não tem todas as funções para transformar as pessoas em espiões? Tomar o suco do Chávez tem sabor de socialismo? E as bandeirinhas e os leques, não eram gifts para mim, e sim merchandising?

Finalizo dizendo que são simulacros, e que nos acostumamos a eles. Como diria “O Eclesiastes”, “O simulacro nunca é o que oculta a verdade — é a verdade que oculta o que não existe. O simulacro é verdadeiro”.

Eu sei, você sabe, eles sabem. Mas mesmo assim…

Be gifted!