Experiência de Marca

Fair Play. Só mais uma jogada de Marketing

Casos como o do goleiro Emiliano Martínez são tratados com mais importância do que o de Daniel Alves, por exemplo.

Meus amigos.

Cada vez mais acredito que o tal FAIR PLAY que a FIFA tanto proclama, nada mais é do que uma ação do politicamente correto.

Outro dia li um post de uma pessoa que respeito muito, por toda a sua trajetória no meio do esporte. Alicia Klein fez uma reflexão importantíssima sobre os acontecimentos envolvendo dois capítulos da história de Daniel Alves. 

A comparação feita por ela nos traz à memória a repercussão ocorrida quando Daniel foi convocado para integrar o time do Brasil na Copa do Catar e o atual episódio que envolve uma acusação de estupro. Exatamente como ela muito bem escreveu, a diferença de reação de não aceitação dos dois fatos tem uma diferença assustadora.

O mundo da bola, e aí envolvo todos os participantes, desde o gandula até o ponta esquerda, passando por dirigentes, comentaristas e torcedores, colocou mais foco na questão do merecimento ou não da convocação do que no caso envolvendo o jogador e Maria Clara Batista. Antes que eu tome uma pedrada, claro que existem exceções.

Mais um caso terrível, mais uma história infeliz.

Quero pedir licença a Alicia para trazer outro episódio, que serve para demonstrar o pouco caso, ou a total falta de critério, com que os envolvidos com o futebol se permitem conviver. Não é de hoje que aponto para uma regra grosseira existente nos campeonatos da modalidade.

Regra disciplinar: três cartões amarelos, suspensão de um jogo. Perfeito? Engano total. Marcou um gol, comemorou tirando a camisa, cartão amarelo. Três finais de semana repetindo a mesma ação, um fim de semana em casa descansando.

Quem perde com isso? 

O torcedor, que paga ingresso e é privado de assistir aquele jogador realizar o que se espera dele – jogar; o patrocinador, que deixa de ter retorno, primeiro porque o cara tirou a camisa no momento em que todas as câmeras estão voltadas para ele, e segundo porque o dito está fora no fim de semana seguinte; o clube, que paga o salário; e a federação ou confederação que organiza o campeonato, pois terá um artista a menos no próximo espetáculo. É um contrassenso, que realmente não faz sentido.

A esta altura, o leitor deve estar se perguntando: mas o que tem a ver uma coisa com a outra? Simples. Uma palavra chamada impunidade.

Nem clubes, nem instituições, nem patrocinadores são capazes de ações positivas para resolver esses fatos tenebrosos que acontecem. Pouquíssimas situações foram tratadas com rigor. E tudo começa com aquela atitude que parece uma brincadeira de mau gosto e acaba tomando proporções gigantescas.

Quando o atleta eleito melhor goleiro da Copa do Mundo da Fifa (faço questão de frisar que é a Fifa, a entidade maior do futebol mundial) recebeu o seu troféu, diante de milhões de pessoas ligadas pelo mundo inteiro, e o colocou na posição de um pênis ereto como atitude de comemoração, o que foi feito?

Nada. Simplesmente nada. Nem naquele momento, nem depois. Fair Play?

A ação do atleta percorreu o mundo a cores, por todos os ângulos. Que belíssimo exemplo, não acham? Será que não é pela total omissão dos envolvidos nessa indústria do esporte que o menino ou a menina começa a raciocinar: se sou famoso, famosa, posso tudo, nada vai me acontecer?

No caso Daniel, Maria Clara já se posicionou que não quer dinheiro. Afinal, não há quantia no mundo que compense a nefasta experiência a que ela acusa ter sido submetida pelo jogador.

No caso do Sr. Emiliano Martinez, tomei conhecimento apenas de medidas burocráticas da Fifa em relação à confederação que representa esse senhor e umas poucas declarações.

Meus amigos, se a coisa fosse séria mesmo, se os homens dirigentes ali presentes tivessem coragem de agir, revogariam a premiação por conta do ato. Na hora. O troféu retirado do atleta, e o atleta banido das competições, pelo menos das que a Fifa tem sob seu comando. Simples assim. E, nessa linha, a Afa deveria puni-lo por manchar a conquista da Argentina como legítima campeã do mundo e o clube Aston Vila, da Inglaterra, deveria ter rescindido seu contrato. Afinal, em seu site está publicada uma declaração de boas práticas: 

“We believe that every person who engages with the Club has a right to be treated fairly, with dignity and respect.” 

Como se diz no popular, deve ser somente para inglês ver.

E se formos mais a fundo e pesquisar como os patrocinadores se posicionam a respeito desses temas, encontraremos frases lindas, mas que só ficam mesmo na “lindeza”.

Até quando, meus amigos?

São tragédias anunciadas. Não quero, não devo, não posso e não vou julgar ninguém. No entanto, principalmente neste mundo tão masculino, se coloquem no lugar de Maria Clara e de tantas outras. Se você fosse uma mulher e tivesse acontecido com você? Como seria?

E o Sr. Emiliano, para usar um termo de baixo calão – desculpem –, será que não tirou sarro do que fez com o troféu que recebeu da Fifa? 

Tantos casos não relatados, desconhecidos no dia a dia. Tenho certeza de que essas e outras coisas acontecem por influência das tais brincadeiras inocentes, sarros indecentes, chutes na bandeira de escanteio, simulações de metralhadoras, na comemoração dos gols.

Essas atitudes deveriam causar total indignação na comunidade do futebol, mas acabam sendo varridas para debaixo do tapete, de forma consciente.

Melhor esquecer, ou melhor, omitir-se.

Seguimos com muito fair play.