Juliano Kimura*
Recentemente, ouvimos falar mais e mais sobre jogos que agregam valores às nossas vidas, muito mais do que apenas uma história interativa muito bem contada. Esta é uma mudança, ou melhor, uma evolução, muito importante, já que muitas pessoas têm a sensação de perda de tempo quando o assunto é games. Pura bobagem.
O que estamos presenciando já faz alguns anos envolve várias plataformas e é muito mais evidente nos PCs do que nos consoles. Quando falamos em agregar algo, queremos dizer recompensas na vida real, não coisas materiais. Conhecer pessoas, reencontrar conhecidos de longa data ou mesmo apenas interagir com os amigos de uma forma divertida, só pra não perder contato. Bem-vindo ao mundo dos jogos sociais.
Nesse tipo de jogo, temos uma experiência de interação muito interessante, que basicamente permite você utilizar seus amigos e informações existentes na rede social de uma jeito diferente. Imagine utilizar sua quantidade de amigos como um atributo de batalha. Ou talvez verificar a soma de idades para saber a quantidade de experiência adquirida. Quem sabe até dar preço para seus amigos e vendê-los em um mercado de brincadeira. Isso tudo é possível e já foi feito, mas as possibilidades ainda são infinitas.
Utilizando muito mais do que apenas as informações disponibilizadas pelos usuários, esses games ainda usam e abusam das ferramentas da rede social. É possivel interagir com seus amigos por meio de notificações, atualizações de status, mensagens privadas, solicitações e diversas outras ferramentas. Isso torna o jogo extremamente viral.
Um bom exemplo é “Mafia Wars”, da Zynga, em que o número de amigos que você possui é um fator importante no seu poder de ataque e defesa. Dessa forma, o game força você a recrutar mais e mais amigos para aumentar sua “máfia”. “Atualmente, estamos iniciando as operações internacionais, mas o Brasil ainda não é um dos locais escolhidos”, explica Lisa Chan, porta-voz da Zynga. “Gostaria de acrescentar que estamos trabalhando ativamente na melhoria das formas de pagamento locais. Nesse caso, vocês do Brasil estão inclusos.”
Todo esse investimento envolve riscos, a Electronic Arts sabe muito bem que o cenário pode mudar a qualquer momento e o surgimento de algo inovador pode colocar tudo a perder. Mas a própria empresa garante que nada impede que uma mudança brusca aconteça nos seus planos, se necessário. Esse é um posicionamento louvável, especialmente para nós, no Brasil, afinal, no mercado brasileiro muitas empresas ainda sofrem com uma gestão de negócios muito tradicional e pouco flexível.
Porém, os holofotes estão mesmo voltados agora para os games sociais. Uma prova disso é que em novembro a EA anunciou a compra da Playfish, uma das duas empresas que disputam a liderança no mercado de jogos sociais, por aproximadamente US$ 275 milhões. A aquisição milionária faz parte de uma decisão estratégica da EA, que acredita em todo o potencial das redes sociais, inclusive confiando que isso influencia na compra de seus outros produtos e na retenção de clientes.
“Jogos sociais, com ênfase em amigos e comunidade, estão apresentando um enorme crescimento e agora é a hora certa para investir no fortalecimento de nossa participação nesse espaço”, diz Barry Cottle, vice-presidente sênior e gerente-geral da EA Interactive.
A EAi, divisão da empresa responsável por web e wireless, trabalhará diretamente com a recém-adquirida Playfish. Kristian Segerstrale, CEO e co-fundador da Playfish, confirma o alinhamento de visão das duas empresas e vai além: “Juntos, nós estamos em posição de definir novas e criativas experiências que mudarão a maneira com que as pessoas jogam.”
Com os jogos sociais se espalhando desas forma como um vírus, resolvemos bater na porta de Edney Souza, do site interney.net, um especialista quando o assunto é internet, para saber a opinião dele sobre o assunto. Ele explica que jogos sociais não são nenhuma novidade: “Demorou pra chegar no Brasil devido a soberania do Orkut”, explica ele.
Edney é um entusiasta de “Fighters Club” (2007) e “Friends for Sale” (2008), que foram dois jogos que antecederam à febre de “Farmville” e “Mafia Wars” aqui no Brasil. “Resumindo, o impacto é o começo da virada e em breve o Facebook será a nova maior rede social brasileira”, defende ele.
Mas, cá pra nós, o que o Facebook faz de tão diferente que as outras redes sociais não fazem? A resposta está na programação, no suporte ao desenvolvimento e nas ferramentas que são disponibilizadas aos desenvolvedores. Orkut, MySpace, LinkedIn, Plaxo, Ning e outras redes sociais utilizam o OpenSocial, do Google. Por outro lado, o Facebook utiliza suas próprias APIs (ferramentas que permitem interação muito maior), com uma atenção especial aos desenvolvedores. É mais ou menos o que faz a Nokia no campo de jogos e aplicativos para celulares.
Ainda que os jogos sociais estejam crescendo cada vez mais sem nenhum sinal de que essa expansão vá parar, fatalmente ela pode encontrar algo inovador no caminho. Essa “mania” ainda é alavancada por outros pontos estratégicos das próprias redes sociais, como é o caso do próprio Facebook, que está passos a frente de seus concorrentes quando o assunto é parcerias.
Um bom exemplo é a parceria Nintendo e Facebook que os felizes proprietários do novo DSi podem desfrutar. A partir da versão 1.4U do pacote de atualizações do portátil, é possivel enviar as fotos diretamente para sua conta no Facebook, bastando um simples toque na tela. Se isso já é possível, nada impede os jogos sociais de embarcarem nessa onda. E já que o assunto é onda, você já ouviu falar do Google Wave?
*Juliano Kimura é profissional da área de marketing com especialização em inovação digiral e redes sociais.