A Globo Comunicação e Participações (GCP), maior grupo de mídia do Brasil, alcançou lucro líquido consolidado de R$ 167,8 milhões em 2020. A queda foi de 77,7% em relação aos R$ 752,5 milhões registrados em 2019.
Apesar das dificuldades causadas pela pandemia, a empresa manteve, no ano passado, investimentos de R$ 4,5 bilhões em conteúdo e de mais de R$ 1 bilhão em tecnologia para dar continuidade à estratégia de “media tech”.
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O conceito combina a produção de conteúdo com tecnologia, para ofertar produtos e serviços, de acordo com as preferências do consumidor.
A queda no lucro foi motivada, sobretudo, pelo efeito da desvalorização do real sobre a dívida em dólar da empresa, sem efeito caixa.
A GCP fechou 2020 com uma posição econômico-financeira sólida, com um caixa robusto de R$ 13,6 bilhões, equivalente a 2,5 vezes a dívida da companhia no fim do ano, de R$ 5,4 bilhões.
O diretor-geral de finanças da Globo, Manuel Belmar, disse que o resultado foi positivo em um ano adverso, marcado pela pandemia que levou à paralisação parcial da atividade econômica. A redução de receitas foi parcialmente compensada por corte de custos.
“Apesar de todos os sacrifícios, foi um ano de grandes realizações para a Globo”, disse Belmar. “Apesar da pandemia, todos os investimentos em tecnologia e conteúdo, que alimentam o Globoplay [plataforma de streaming da Globo] e as plataformas digitais e canais lineares que desenvolvemos, não foram interrompidos. Mantivemos o plano original porque acreditamos que é a estratégia a ser perseguida.”
A receita líquida consolidada da GCP foi de R$ 12,5 bilhões, com queda de 11% em relação aos R$ 14 bilhões de 2019. A redução maior foi na publicidade, que responde por 60% da receita total.
Neste segmento, as receitas caíram 17% em relação ao ano anterior. Já nas receitas de conteúdo, que são os restantes 40% do bolo, o desempenho ficou “em linha” com 2019.
O desempenho operacional foi consistente com o ano atípico. O lucro da GCP antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi de R$ 688 milhões, queda de 26% sobre os R$ 933 milhões de 2019.
A margem Ebitda foi de 6% ante 7%, no ano anterior. O resultado operacional líquido foi de R$ 366,3 milhões, 36% abaixo dos R$ 573 milhões de 2019.
O fato de o resultado ter ficado em “terreno positivo” em ano “único” é motivo de comemoração, disse Belmar, considerando, inclusive, a estrutura de custos fixos que caracteriza a indústria de mídia.
Foi a economia de custos que permitiu compensar em parte a queda de receitas. Houve redução de 11% nos custos relacionados com vendas e de 7% nos custos gerais.
A redução no lucro deve-se, em especial, ao impacto da desvalorização do real ante o dólar. A GCP tem dívida em dólares e a desvalorização do câmbio tem efeitos no item despesa financeira. Essa linha do balanço, que havia sido negativa em R$ 411,8 milhões em 2019, subiu para R$ 1,9 bilhão em 2020.
A companhia tem dívida atrelada a três emissões de bônus que vencem em 2025, 2027 e 2030. Belmar disse que a situação do endividamento é confortável uma vez que a empresa tem capital próprio para suportar as operações.
A dívida conta ainda com “hedge” (cobertura contra risco) e parte dela tem “swap” (contrato de troca de moedas) para reais.
Segundo o executivo, o segundo e o terceiro trimestres do ano passado foram “muito difíceis”, com a paralisação quase total da economia, adiamento do calendário esportivo e, no caso da Globo, do fechamento inédito dos estúdios de gravação. “Todos esses foram aspectos únicos que tivemos que lidar e demos resposta rápida para proteger nossos colaboradores”, afirmou Belmar.
Ao todo, a Globo tem cerca de 14 mil colaboradores. Em março de 2020, cerca de 75% dos funcionários passaram a trabalhar de casa. Os restantes 25% continuaram no trabalho presencial. Eram os profissionais direta e indiretamente ligados às operações de jornalismo, que não parou um minuto, disse Belmar.
No terceiro trimestre, subiu para 45% as pessoas na linha de frente. O percentual se manteve até a publicação recente dos decretos no Rio e em São Paulo.
A Globo afirmou: “Em decorrência do agravamento da crise pandêmica, a Globo se antecipou e definiu que, a partir do dia 23 de março, as gravações das obras de dramaturgia serão interrompidas. Séries e novelas só deverão voltar a gravar no dia 5 de abril, ao final do prazo decretado pelas Prefeituras do Rio de Janeiro e São Paulo.”
Quando do fechamento dos estúdios, em 2020, a Globo passou a exibir reprises, com o “conteúdo vencedor que temos”, disse Belmar. Ele afirmou que não havia condições de produzir conteúdo original naquele momento.
Diante das dificuldades sanitárias, produções foram interrompidas ou adiadas para 2021 e 2022. “Agora aguardamos um cenário mais benigno [da pandemia] para desenvolver novos projetos de conteúdo para todas as plataformas”.
Mesmo forçada a exibir algumas reprises, os Canais Globo falaram em 2020 com 100 milhões de pessoas por dia. Já os produtos digitais de jornalismo (G1), de esporte (GE) e de entretenimento (Gshow), o Globoplay e o “fantasy game” Cartola FC alcançaram, em média, 100 milhões de pessoas por mês.
Um dos destaques em 2020 foi o Globoplay. No ano passado, a plataforma aumentou o volume de assinantes em quase 80%, enquanto o volume de receitas mais do que dobrou em relação a 2019.
“Isso foi importante para compensar a tendência declinante do mercado de TV paga, que tem sofrido com a perda de renda e aumento do desemprego, que afetaram o brasileiro em 2020”, disse Belmar.
O objetivo, afirmou, é consolidar o Globoplay como plataforma de streaming relevante para o consumidor brasileiro dentro da estratégia da Globo de alavancar modelos de negócios que privilegiam a relação direta com o consumidor, o D2C (Direct to Consumer), embora o B2B (Business to Bussines) também seja importante.
No ano passado, a Globoplay anunciou parceira com a Walt Disney Company pela qual o consumidor pode ter acesso aos serviços de streaming das duas companhias em uma só oferta. O combo reunindo Globoplay e Disney+ ficou disponível a partir de novembro.
Belmar disse que também se avançou na distribuição de canais Globo na plataforma de streaming. Em outra frente, a Globo já vinha desenvolvendo parcerias com fabricantes de televisores desde 2014, o que permitiu ao Globoplay vir embarcado nas TVs das marcas Samsung, LG, Sony, Panasonic, Philco, Philips, AOC e TCL, além de ser compatível com Roku, Android TV e Apple TV Ger4.
Outro destaque foi a incorporação pela GCP, em 1º de janeiro de 2020, da Globosat, divisão de conteúdo de TV paga do Grupo Globo, e da G2C, comercializadora de conteúdos.
A operação permitiu eliminar diferenças entre os resultados consolidados e da controladora GCP. Até 2019, a GCP, uma holding operacional, refletia os resultados das empresas TV Globo (aberta), Som Livre, Globo.com. e Globoplay.
Já os números consolidados incluíam a Globosat e a G2C. A partir de 2020, os negócios foram fundidos na controladora. A integração permite ter a visão de empresa única, que é a Globo, e alinhar estratégias de conteúdo e de negócio.
Fora da estrutura da GCP estão a Editora Globo, braço de mídias impressas do Grupo Globo, do qual o Valor faz parte, e a Globo Ventures, voltada a investimentos em portfólio digital.
(Foto: Leo Pinheiro)