Não tem jeito de não falar do assunto vírus: como quase o mundo todo, fui atropelada pelo tsunami do Covid-19… Justo no mês em que que completo 50 anos… Cinquentenário inesquecível…
Este período pandêmico e de pânico (palavras semelhantes apesar de etimologias diferentes) me fez refletir o home office não do meu ponto de vista, e já o explico daqui a pouco, mas o das demais pessoas.
Meu caso é muito particular e acho que vale dividir com vocês, pois tenho percebido alguns desesperados por aí e não pela doença ou pelo caos econômico que se instala, mas pelo seu cotidiano.
Nos anos 90, na microdivisão da empresa em que trabalhava, que na ocasião incentivava muito a autonomia, os riscos, a criatividade e a tomada de decisões para a solução dos problemas, acabou com o escritório – estabeleceu o home office!
Todos nós, 20 e poucas pessoas munidas de notebooks e celulares, itens raros na ocasião, com encontros semanais na fábrica, muita presença no mercado e rotina em casa.
Deu supercerto e só acabou porque o par do meu superior topou reduzir custos e migrar para um escritório muito menor e dividir conosco; então, em uma decisão colaborativa com os pares, voltamos a ter um “office”, mas os aprendizados do “officeless” foi incorporado por mim. Isso foi há 30 anos…
Em 2007, quando decidi empreender, passava 15 dias em Belo Horizonte, onde ficava meu comércio, e 15 dias em São Paulo, na minha casa, buscando outras oportunidades de negócio.
Nesta época, voltei a ter a rotina do trabalho em casa e todas aquelas dicas de autoajuda sempre pratiquei fácil: horário de acordar, atividade física, roupa, rotina, separação particular/profissional, etc, etc. A partir de 2008, com a aquisição do Comida di Buteco, meu negócio atual, cuja sede também fica em Belo Horizonte, mas os clientes em São Paulo (patrocinadores), o home office se fez mais importante, e, com a entrada do meu sócio duplo (sócio e marido), demos uma reformada no nosso espaço de trabalho, e, desde então, somos felizes, saudáveis e produtivos!!!
Reuniões presenciais com equipe uma vez por mês, semanais por Skype (hoje Teams), visitas aos clientes, prospects, parceiros e muitos cafés agradáveis.
A paranoia de ficar em casa, com o marido ou mulher, filhos, comer, trabalhar para nós simplesmente não existe… Neste período faço exercício cedo no condomínio ou ando na rua e nossa ajudante vem uma vez por semana de Uber para dar um jeito melhor na casa.
Portanto, meu dia a dia, há 13 anos, já é de 24 horas com o meu marido e sócio. Como não temos filhos, o cenário fica mais fácil ainda.
Então penso das outras pessoas:
- Os trabalhadores de maior nível social e hierárquico, em sua maioria ficam incomodados de estar em casa porque em duas semanas talvez terão a sensação de não ter trabalho, afinal, as pessoas hoje em dia nas grandes organizações passam mais tempo em reuniões do que produzindo o que foi demandado nas ditas reuniões; falo que são fábricas de linhas – alinhamentos sem fim. Aí vai bater o desespero de perder o emprego.
- Os trabalhadores com baixa escolaridade e qualificação que recebem salários próximos do mínimo já começam a perder os empregos.
- Os micro e pequeno empresários, os maiores empregadores do país, se veem mais estrangulados ainda e demitindo. No nosso entorno: os ‘butecos’ participantes do Comida di Buteco – 650 em todo o Brasil – apenas eles devem gerar uns 3.500 desempregados, fora a inadimplência geral; não sabemos quantos sobreviverão até julho, data para a qual postergamos o concurso 2020.
- Os trabalhadores informais, esses já estavam em crise e agora não têm alternativa senão a fome.
Quem corre mais risco? Seja da doença ou da decadência econômica? Claro que os mais pobres. Por isso, faça sua parte, cuide do seu ecossistema: seus funcionários, seja na empresa ou em casa; negocie pagamentos, redistribua as tarefas, mantenha comunicação com clientes e fornecedores e oriente a todos para tentar ficar em casa neste momento porque se ele não for breve, a realidade da desigualdade do Brasil vai falar mais alto e ela é maioria.
Que a ciência, a responsabilidade e a maturidade orientem as decisões e um pouco de bom senso, sempre!
Respiremos fundo e vamos em frente!!
Sugestão de leitura: Escravidão – Vol I – Laurentino Gomes. Para entender nossas origens e seus impactos.