Que o poeta Fernando Pessoa perdoe a minha ousadia, mas, o título do poema justifica e autoriza a navegação a todos que gostam do mar.
Para justificar o meu artigo vou utilizar o mar, ou melhor o poema, como uma analogia com o mercado.
“Navegar é preciso” reafirma as diferenças e a importância do saber navegar em qualquer circunstância.
Navegar é uma ciência exata que exige precisão, coragem, e, acima de tudo, respeito a tudo o que o mercado não nos oferece.
No mar ou no mercado, tudo pode mudar num instante, numa fração de tempo, transformando planos em grandes frustrações.
Diferentemente do mar, onde ainda pode haver uma previsão de tempestade e nos preparamos, no mercado não podemos prever o futuro, ainda que alguns achem que existe essa possibilidade.
Talvez aqui resida o problema na segunda parte da estrofe “Viver não é preciso”.
Viver era uma necessidade secundária sem muita importância para os navegadores, que priorizavam a navegação em relação à vida.
Porém, aqui o poeta se refere à improvisação do viver sem garantia, viver no futuro incerto do amanhã, da imprecisão, do temor, do nunca saber o grande segredo, saber viver.
O mar é desafiador, exigente, mas nos ensina a respeitá-lo, preparando-nos para enfrentá-lo, com respeito e sem medo, na igualdade das condições que enfrentamos, diferentemente de um mercado que não contempla, que não divide, que desperta ansiedade, raiva, um mercado onde viver só é importante se houver resultados
Respeitamos as diferenças, a importância do resultado, do lucro, porém, em qualquer dos casos devemos respeitar o conhecimento do tempo, sem ir além dos nossos limites.
Ir além dos limites, baixar a guarda, e, deixar de navegar apenas por um segundo, o resultado é óbvio: O naufrágio.
Viver cada dia como se fosse o último não é racional, ainda mais em dias iguais aos que estamos vivendo.
Felizmente ainda estamos focados no futuro.
Focados no crescimento, focados em absorver toda a tecnologia disponível, focados em sobreviver, mas, sabemos quanto isso é difícil de conciliar.
Navegar é preciso, mas, não podemos continuar pensando no dia de ontem e vivendo no de hoje. Temos que mudar o rumo, sabemos que navegamos num mar agitado, num mercado sem bússola, sem GPS, sem empreender, sem ousar, sem fazer algo diferente, sem desafiar a própria vida.
Assim, navegar é preciso. Viver também!
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