É desta forma que a chairman do Indianápolis Motor Speedway Board, Mari Hulman George, pede todos os anos para que os 33 pilotos que irão disputar uma das mais importantes e lendárias corridas do mundo, liguem seus motores e estejam prontos para as 500 Milhas de Indianápolis.
Passado o Carnaval, esse poderia ser também o chamado ideal para religarmos os motores (se é que eles foram desligados) para acelerarmos fundo, pois o restante do ano está à nossa frente. Mas além desta metáfora, eu queria falar hoje de uma paixão pessoal: o automobilismo.
E é este assunto que inspira este #MTT (MondayToThank) mais do que especial e cheio de gratidão a Waldner Bernardo (Dadai), Milton Santana, Sérgio Dias e outros amigos da CBA, pelo contado mais próximo que já tive com este esporte que amo.
#MTT também a todos aqueles que listarei na sequência e que estiveram envolvidos nestas histórias que eu sempre irei levar comigo (CF, Banco de Eventos, Super, Rock, Leon, Leka, Lully, Digo Leme, Marcel Sacco, Andy, Letícia e Galvão Bueno, Felipe Massa e o Seu Zé).
Afinal, desde criança me lembro de assistir à Fórmula 1, muitas vezes ao lado do Seu Zé, meu pai, naquelas manhãs inesquecíveis de domingo.
Foram muitos anos onde eu vibrava com Piquet, Senna, Massa, Rubinho, e, antes deles, Fittipaldi, e, até mesmo, o Moco – Antonio Carlos Pace – que dá nome inclusive ao Autódromo de Interlagos.
Para não falar de uns gringos que sempre gostei, como Gilles Villeneuve, Clay Regazzoni, Niki Lauda, Lewis Hamilton, Mika Hakkinen e outros tantos.
Lembro de cada pista, dos nomes de pilotos, seus capacetes e suas equipes. Colecionei revistas (tenho até hoje a coleção completa da Grid), álbum de figurinhas e até recortes de jornal das coisas mais importantes. E destas lembranças todas, queria dividir algumas:
1. Emerson Fittipaldi: Há alguns anos tive a oportunidade de conhecer o Emerson em um evento da Rock, não resisti em pedir uma foto e um autógrafo e comentei feliz que o acompanhava há muito tempo, desde os tempos de François Cevert, piloto francês que foi seu contemporâneo na F1, e que morreu em um acidente em Watkins Glen em 1973. Ao ouvir o nome do piloto, ele me olhou admirado e soltou um: Puxa, faz tempo hein?!
2. Mônaco I: Estava em Cannes com o pessoal da Super: o Leon e a Leka, mais a Lully. Fomos então conhecer o Principado. O Leon foi dirigindo até lá, mas lá dentro eu pedi para tomar a direção da nossa potente Scenic (rs) e foi assim que fizemos: chegamos, visitamos o Castelo dos Grimaldi e peguei o carro. Fui andando tentando me localizar, até que vi no asfalto as marcas do grid. Surtei! Dali para a frente fiz o circuito completo, sabendo exatamente onde era cada curva e inclusive nomeando-as: Saint Devote, mais a frente o Casino, a Mirabeau, o Túnel, Tabac e Rascasse até voltar para o início. Nesta “primeira volta”, tinha acabado de sair do famoso “hairpin” que hoje é chamado de Grand Hotel e já próximo ao túnel, com ninguém no carro entendendo meu delírio, alguém perguntou: o caminho não seria à esquerda? E eu respondi: jamais, a gente vai pela direita, passando bem aqui, onde o Senna bateu! (1988)
3. Mônaco II: Ainda nesta viagem, e do alto do Palácio dos Grimaldi, dava para se ter uma visão panorâmico do lindíssimo Principado. Era uma imagem muito parecida com alguns takes que vemos durante a transmissão do GP de Mônaco. Dali eu liguei para meu pai e sem conter a emoção e as lágrimas, disse que estava ali e vendo as imagens que a gente tinha visto inúmeras vezes e juntos pela televisão. Inesquecível.
4. Ferrari: Outro Cannes Lions, mas desta vez com o pessoal do Banco de Eventos, somos convidados para um jantar em Mônaco com o Galvão Bueno. Na realidade, o convidado era o Victor Oliva, mas que impedido de sair do Brasil por questões particulares, nos deu a oportunidade de representá-lo. Fomos então eu, Rodrigo Leme e Marcelo Sacco em mais uma Scenic, passamos por Cap D’Antibes para dar uma carona ao Washinton Olivetto e seguimos para Mônaco, onde além de muitíssimo bem recebidos, conhecemos ainda o simpaticíssimo Felipe Massa. O jantar foi em um restaurante, e, na chegada, ficamos nos divertindo pensando o que o serviço de vallet deveria estar pensando quando viu duas Ferraris chegando com nosso carro entre elas: se os batedores estão em Ferraris, imagina quem está na Scenic?
5. Senna: Não tive a oportunidade de vê-lo correr ao vivo, mas claro que como muitos da minha geração acompanhavam avidamente cada corrida, acordando de madrugada para assistir às corridas no Japão. Me sentia realmente próximo e foi devastador vê-lo naquela corrida em San Marino em 1994. Sua morte foi, talvez, o primeiro contato que eu tive com a perda de alguém próximo, mesmo sabendo que nem próximos éramos. Lembro das lágrimas, da tristeza e de como realmente as coisas deixaram de ser como eram antes. O mantenho como uma referência, e ainda vou ter uma réplica do seu capacete.
6. Treino com Chuva: A minha primeira vez em Interlagos foi com o pessoal da CF, numa ativação da Mobil que era patrocinadora da McLaren – na época com David Couthard e Mika Hakkinen como pilotos. Se seguiram muitas outras como um torcedor comum, inclusive vendo o S do Senna em posição especial ou acompanhando tudo do incrível Setor A e foi ali que tive uma experiência interessante assistindo a um treino confuso com um dilúvio caindo no autódromo (acho que em 2013). Eu e o Andy estávamos assistindo e quando o treino parou com a chuva, não nos restou outra coisa a não ser bebermos muita cerveja (ruim, mas era a patrocinadora e não tinha outra), conversarmos com torcedores do mundo todo e quando o treino recomeçou, eu vejo o Andy encostado no alambrado e chorando. Um pouco pela bebida e talvez pela emoção de ver aqueles carros na subida dos boxes com motor cheio, ele não estava contendo a emoção. Acho que nem eu.
7. Largada: O convite veio por intermédio do grande amigo Milton, poder trabalhar para a CBA – A Confederação Brasileira de Automobilismo. Foi um período breve, mas de um trabalho prazeroso e onde puder conhecer o incrível time comandado pelo incansável Dadai e que luta e batalha pelo histórico e vitorioso automobilismo brasileiro. E foi ali que tive a oportunidade mais incrível desta minha vida automobilística: poder assistir à minha primeira largada exatamente ali, onde ela se dá. Tenho até hoje o vídeo, o barulho dos motores subindo, e, ao largarem, não resisto a um sonoro palavrão gritado junto com a sensação mais incrível que eu podia estar sentindo.
Essa lista poderia se estender ainda mais. Da foto que consegui com Jackie Stewart, passando por ver um Copersucar tão de perto que deu pra tocar ou assistir a um treino na saída dos boxes de Interlagos com os carros passando a cerca de 1 metro de onde eu estava. Poderia falar também da experiência em assistir ou ter estado bem de perto de competições como a Stock Car, o Kart ou o BRVT (o Brasileiro de Velocidade na Terra), mas queria terminar este texto falando que enquanto estamos aguardando as luzes apagarem, porque na Fórmula 1 não temos uma luz verde, mas sim um conjunto de luzes vermelhas que se apagam para que a corrida comece, a gente pode pensar o quanto este esporte pode nos trazer lições neste restart do ano de 2020.
Primeiro que é isso: Não espere a luz verde. E o fato de várias luzes vermelhas começarem a serem acesas pode ser sinônimo de que, ao apagarem, você deve estar pronto!
E a inspiração deste texto deve ter vindo porque acabei de assistir ao filme “Ford x Ferrari”, baseado em uma história real da competição das duas marcas para ganhar a icônica 24horas de LeMans (o Ford GT40 é o carro que ilustra este texto).
Para quem gosta do assunto como eu, foi um prato cheio, mas não deixei de ficar muito incomodado com o corporativismo, e, principalmente, o marketing que, em muitas vezes, tentou de alguma forma ser mais importante do que o esporte.
A gente sabe que isso não é novidade e não vou aqui dar spoilers, mas é interessante pegar o exemplo do automobilismo onde inúmeras marcas e suas áreas de marketing se valeram dele e com muito sucesso para serem conhecidas e se tornarem ícones.
Afinal, quem não se lembra da Lotus preta dos cigarros John Player Special ou a Lotus Amarela dos cigarros Camel. Havia também a Ligier com a marca Gitanes, a McLaren com Marlboro e para sair dos cigarros que tinham aqui um grande espaço de exposição, dá pra lembrar da Benetton e da atual Red Bull (também como equipes), Copersucar, HSBC, Parmalat, Petronas, Elf, Martini, Rexona, Infiniti, Renault e tantas outras.
E é justamente na fiel medida entre onde entra e faz sentido o marketing atuar e onde ele deve deixar que os profissionais do esporte (ou de qualquer outra função específica) agir que eu queria me apegar.
Nesta relargada do ano, com os motores ligados e aguardando o sinal para acelerarmos com tudo, é importante sabermos que somos nós que estamos conduzindo o carro, acelerando, trocando marchas e sabendo a hora de certa de reduzir ou frear. E é esta consciência que pede que sejamos coerentes com aquelas empresas, marcas, produtos ou profissionais que acham que sabe, que teorizam o que pode ou não ser feito, e que dentro de seus escritórios modernos, confortáveis e atrás de dados e pesquisas que chegam a todo instante em seus vários devices, ainda insistem que sabem mais do que aqueles que conhecem todos os caminhos desta grande corrida.
Em meio a um forte conservadorismo criativo e um commodity processual que faz todos trabalharem em meio aos mesmos parâmetros, é triste ver o quanto estamos sendo pautados, ‘briefados’, julgados, questionados e muitas vezes avaliados por meio de uma visão fria e que desconsidera esta experiência de quem – como os antigos pilotos – têm a “mão suja de graxa” e sabem porque sabem, não precisando de um título, um cargo, um curso ou um termo em inglês para justificar isso.
Não existe nenhuma concorrência ou briefing que não peça que batamos um novo recorde, cheguemos na frente, façamos a volta mais rápida e possamos subir ao podium para estourar o champagne.
Isso também é o que queremos e não tememos aos outros competidores – apenas os respeitamos, não temos receios de novas pistas, trabalhamos pelo melhor acerto e pelo melhor trabalho, e sempre vamos querer olhar a corrida do primeiro lugar, vendo os outros pelo retrovisor. Mas receamos sim, pelas regras, pelos sistemas estranhos de pontuação e toda e qualquer forma de manipulação que desvirtue o nosso campeonato, a nossa corrida, disputa ou a concorrência que estamos participando, pois este negócio onde a gente se arrisca, dirige e busca ser o número 1, assim como o automobilismo ou qualquer esporte, precisa da lisura e do fair play em fazer com que a disputa seja limpa e que simplesmente ganhe quem for melhor para ganhar.
Senhoras e Senhores: liguem seus motores!