Vamos falar hoje de diversidade, mas queria não me ater ao conceito dela pelo seu sentido mais direto: a de gênero, social, racial, cultural, biológica, étnica, linguística, religiosa, enfim… quero falar hoje sobre o seu significado mais abrangente que é a própria multiplicidade.
E não existe dentro do conceito múltiplo da diversidade e sua leitura como algo que também significa variedade, pluralidade e diferença, nada mais diverso, diferente e divertido no mundo do que o pensamento.
Sim, o pensar. Podemos até entender que esta “clusterização” que determina as diferentes formas de diversidade e suas infinitas combinações e subdivisões, determinem grupos. Pequenos ou grandes e eles estão em toda parte.
Mas o pensamento é algo individual, e, sim, cada um tem o seu. Por mais que as vezes alguns movimentos busquem direcionar grupos para uma abordagem similar, não tem jeito: simplesmente temos no mundo hoje cerca de 7.2 bilhões de pessoas que pensam diferente e de uma maneira particular. Simples assim. Isto sim é que é diversidade!
O que isso tem a ver? Tudo! Significa que a gente não deve estranhar quando todos não torcem para o mesmo time, votem no mesmo partido, sigam tal corrente política, tenham a mesma religião, compartilhem da mesma opinião ou simplesmente pensem como a gente.
Isto também quer dizer em outras palavras que mesmo pensando de uma forma “errada” ou de um jeito que a sociedade não pensa, a pessoa ainda tem – por default – o direito de pensar assim. Arcando obviamente com as possíveis consequências deste livre pensar e a principal delas é o desconforto de ser julgada.
Em tempos de um mundo excessivamente binário, onde só existe um lado ou outro: ou você é a favor ou é contra, ou está em cima ou embaixo, ou vai para a direita ou esqueda… O que importa é entendermos que uma pessoa que não pensa como você ou como a maioria, que eventualmente tenha uma posição não muito ortodoxa ou até mesmo politicamente incorreta, ainda que sendo passível de questionamento e condenação, estará no gozo do direito de pensar do jeito dela.
E isso não tem lei que faça o contrário, tá muito mais dentro de um conceito de um livre arbítrio e de um respeito integral ao conceito de diversidade que permite às pessoas simplesmente pensar diferente.
Ok, você já deve ter “pego” a provocação de hoje: Quer dizer que uma pessoa, que de uma forma polêmica ou contestadora, tem uma posição contra algo que todos resolveram seguir como uma tendência, um pensamento comum ou um código moral determinado, têm o direito de pensar assim? Sim. É isto. Se por outro lado, isso é certo ou errado, é de bom tom ou não, é coerente, justo, faz sentido… aí são outros quinhentos e não estamos falando disso!
Cutucando mais ainda a polêmica, isto significaria dizer que uma pessoa que pensa de uma forma diferente da sua (mesmo que isto exploda todo os seus sentidos), tem este direito “diverso” de pensar, mas não tem o direito de fazer algo em defesa da sua visão que gere algum problema, dano ou ato deliberadamente hostil a quem pense diferente! A tal história do direito dela terminar onde começa o seu.
Recentemente, comemoramos o Dia da Independência e acho que vale aqui esta provocação porque muitas das defesas legítimas do respeito às pessoas como elas são, naquilo que lhes competem ser, pensar, agir, professar, acreditar ou fruto do que são, não podem jamais tirar da gente uma independência de ter um olhar mais aberto, onde a lógica seja uma visão que não busca analisar se é certo ou errado, mas aceitar que sempre existirá uma visão individual, mesmo que contrária à sua, à maioria ou ao mundo.
Talvez estejamos vivendo um momento onde a necessidade de respeitar todas as formas, manifestações, tipos, grupos, subgrupos e tendências seja ainda importante como forma de visibilidade e de um conceito de aceitação do quão aberta é a questão da multiplicidade, mas isto não pode jamais ser mais importante do que podermos um dia enxergarmos as pessoas sem todos estes rótulos e tags que denunciam suas “possíveis” diferenças.
Diversidade antes de mais nada é aceitar o diferente. E quanto mais diversa, mais pode ser divertida, pois cada pessoa diferente que você conhece certamente vai acessar uma parte sua que nunca ninguém havia acessado, da mesma forma que esta nova pessoa lhe oferecerá algo que nunca ninguém te ofereceu. Taí talvez a coisa mais incrível e divertida desta liberdade e independência do pensar: saber e conhecer como as pessoas pensam ou tentar isso ao menos. E, claro, tudo isso ainda lhe dá o mais completo e total direito de discordar também. Faz parte!
Vale o convite e o desafio de uma visão aberta, não direcionada e que aceite o pensamento diverso como uma forma de ver o todo e as pessoas como elas realmente são – seja isso bom ou ruim. Afinal, toda onda pode muitas vezes pautar comportamentos e desaconselhar manifestações de opinião pessoal, mas não determina necessariamente a mudança de mindset profunda como pensamos.
Imagine então que combustível fantástico podemos ter com no aprendizado de uma questão como esta? Definitivamente, chegamos ao momento de uma “diversidade criativa” – citando o conceito “imperdoavelmente bom e oportuno” (rs) da agência um.a, dos amigos Claudia e Ronaldo, e talvez este seja o segredo de uma verdadeira, divertida, irresistível e inevitável forma de exercitarmos a diversidade não mais como um substantivo, mas a partir de agora como um verdadeiro verbo.