Percebo o Carnaval como uma das festas mais apoteóticas e experienciais que temos no mundo e no Brasil uma manifestação cultural sem precedentes e com suas particularidades regionais. Assim, o carnaval não significa apenas um grande festejo, mas toda sua preparação. No caso dos desfiles da Avenida, representam agremiações/comunidades e ao longo da qual o enredo gradualmente se transforma em samba-enredo, depois temos os carros alegóricos e fantasias (CAVALCANTI, 1994).
O ritual dos desfiles de escola de samba, onde as pessoas e as alas tem um papel e um significado específico é muito organizado e assistindo as imagens dos últimos dias, vi como isso tudo tem relação com o cotidiano dos eventólogos e mais do que nunca pode inspirar com uma criatividade refinada, elucidativa, poética e não óbvia.
Criamos nossos EVENTOS para serem campeões, brilharem na avenida e tirarem nota 10 em todos os quesitos, pode até oscilar uma nota ou outra em alguns décimos, mas perder muitos pontos significa sair da elite e estar no grupo de acesso, dificulta participar de certas concorrências, não é mesmo?!
O carnavalesco desde o tema enredo (conceito criativo) comanda a equipe idealizando a linha mestra do desfile (projeto) a partir do samba enredo (briefing) que balizam as fantasias, decoração dos carros alegóricos, acessórios e divisão de alas.
As-alas traduzem o samba enredo nas suas várias fases da história e dentro de obrigatoriedades como comissão de frente, baianas, mestre sala/porta bandeira. Equivale a seguir a temática de um festival ou de uma convenção e desmembrar isso na programação, brindes, uniformes, etc. Sem falar que os carros alegóricos emolduram e reforçam certos aspectos do samba com uma estrutura glamurosa e metafórica, que nada mais é que nossa arquitetura cenográfica, iluminação e decoração de nossos ambientes.
O samba enredo é a trilha que conta a história num texto musicado, numa crescente e com um refrão marcante que resume toda a potência da temática. Vemos isso nos slogans, sub títulos, mascotes, vídeos que apoiam toda a tônica do evento.
Meu batuque é resistência, sou Mocidade
Trago na pele a força pra vencer
Meu samba é luta e voz, fala por todos nós
Bendito seja o seu poder – Yasukê
O pessoal da harmonia (coordenadores e supervisores) se esmeram para selecionar, treinar e acompanhar a evolução dos integrantes, bem como coreografar e manter a animação de todos à contento. Seriam nossas reuniões de alinhamento, seguir o tempos & movimentos e o ensaio para lapidar a atuação de todos, independente que estes fiquem nos holofotes ou no backstage, TODOS são importantes no processo e devem vestir a camisa para a entrega com excelência.
São meses de preparação com pessoas da comunidade (da agência) ou integrantes turistas (temporários/freelas) que devem estar na mesma cadência, no ritmo de uma bateria que traz o pulsar da escola e de um puxador de samba que traz a constância (motivação) para o desfile todo.
Toda a montagem do desfile segue um planejamento que tem uma previsão orçamentária e a busca por patrocínio. Entretanto, na produção do desfile, materiais podem não ser encontrados ou obtidos na quantidade necessária; já no decorrer do desfile, problemas técnicos podem acontecer com os carros alegóricos. Imprevistos acontecem e é preciso ter know-how e não se deixar levar pela emoção e resolver da melhor maneira sem que o público e os jurados percebam.
A cada evento, ops desfile, as pessoas se emocionam, sofrem, vivem o momento de modo intenso e singular. No “esquenta” da bateria, na concentração para o desfile, as incertezas misturam-se com a esperança de que vai ser um sucesso. E após 75 minutos cravados, não pode atraso (trans evento) – a alegria da entrega, depois a expectativa da apuração (avaliação). Ao final a certeza que logo virá o próximo carnaval/evento e vamos começar tudo de novo e melhorando cada vez mais.
CAVALCANTI, M. L. V. C. Carnaval carioca: Dos bastidores ao desfile. Rio de Janeiro: Minc/Funarte, 1994.