Durante a pandemia de Covid-19, quando foram postos em prática vários protocolos sanitários e de isolamento e as pessoas se viram obrigadas a ficar em casa, as lives tomaram conta do mundo inteiro.
As lives não eram grande novidade na época, pois redes sociais como YouTube, Instagram, Facebook e Twitch já tinham disponível a função de transmissão ao vivo. Mas foi devido à pandemia e às medidas de isolamento social da quarentena que elas tiveram um boom especialmente como solução para continuidade dos eventos corporativos.
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Artistas, músicos, celebridades, influenciadores ao lado de marcas dos mais diversos portes passaram a realizar transmissões ao vivo para manter a conexão com seus públicos, ampliar mensagens, lançar produtos transformando a atividade na tábua de salvação do mercado de live marketing que, até então, vivia básicamente de aglomerações.
Percebendo estas ações como única solução para aquele momento, agências da área passaram a investir no formato apostando que, com o fim da pandemia e o retorno dos eventos presenciais, isso continuaria como uma tendência em uma série de eventos híbridos, ou phygital (físico e digital).
Porém, ao que parece, o formato não tem sido usado com a frequência esperada. Com o retorno dos eventos presenciais e o fim da pandemia, as lives parecem estar diminuindo muito em algumas áreas e regiões do Brasil, apesar de ainda serem realizadas em outros.
Em um podcast da série Estúdio Promoview, Julio Feijó conversou com empresários tanto de agências como de fornecedores sobre este tema além de outros como a escassez de espaços para realização de eventos, falta de profissionais e as velhas dores do mercado que, ao que parece, não mudou absolutamente nada em relação ao pré pandemia.
O episódio está no ar mas a gente antecipa aqui um dos temas mais comentados no podcast: a redução drástica das lives.
Para Rodrigo Vianna, founder e sócio da Produz.tv e da IPX o momento é de ajuste e ele não aposta na predominânica de nenhum dos formatos. “Estamos basicamente numa entresafra, as grandes convenções já foram realizadas no primeiro semestre utilizando o formato de lives e este recurso deverá seguir como um outro business dentro do setor.
A Produz.tv assim como as outras estruturas que já trabalhavam com o formato vídeo foram fundamentais como apoio para que as agências pudessem entregar lives logo no primeiro ano da pandemia.
“O fato é que o setor já realizava lives antes disso tudo. Basta vermos as grandes coletivas no Salão do Automóvel além dos congressos internacionais realizados no Brasil. Mas a utilização era restrita pela falta de conhecimento dos agentes de mercado, observa Rodrigo. “Então nós participamos da primeira turma de lives e agora temos que passar pela graduação onde vamos entender e praticar para a melhor entrega do que ficou convencionado como hibrido” completa.
Renato Amaral, CEO da TSB, acha que as lives diminuíram por conta dessa fase de relaxamento das restrições da pandemia.
“Depois de dois anos de proibição, o presencial era algo muito aguardado. Era um desejo das pessoas voltarem ao tão importante face to face. Esse contato estava fazendo falta, tanto nas relações pessoais como no networking. E eu acho que isso fez com que o mercado voltasse a aquecer pata os eventos presenciais de uma maneira que fazia algum tempo que a gente não sentia. Aqui na TSB, por exemplo, nosso volume de primeiro semestre foi desproporcional entre o presencial e as lives. Eu diria que numa proporção de oitenta/vinte, mas eu acho importante destacar que todos os clientes fizeram adaptações, seja com redução de participantes, seja com testagem de Covid-19, seja aplicando eventos híbridos onde a gente tem uma parte das pessoas presenciais e as outras conectadas on-line”, destaca ele.
“Então, o cliente também se adaptou né? Nós temos uma operação de MICE aqui, além do Live Marketing, e a gente está enfrentando uma indisponibilidade de datas em hotéis e espaços que a gente nunca tinha visto. Aliado a isso, a gente tem o custo de passagem aérea que nunca foi tão alto no país nos últimos vinte e cinco anos, então isso tem feito muitos clientes considerarem um formato híbrido como solução, explica Renato.
“Recentemente, por exemplo, nós fizemos um lançamento para a indústria farma onde o evento principal ocorreu em São Paulo, foi transmitido ao vivo para outras nove capitais, com a reprodução total de cena, o formato de projeção, decoração, cardápio. Então, com certeza esses foram os meios encontrados para seguirmos na retomada completa dos eventos presenciais, pensando em mais segurança. Nesse último susto, ou nessa última onda de maio, junho, alguns projetos foram novamente colocados em stand by, e eu acredito que essa será uma tendência ainda para os próximos meses”, conclui.No momento da pandemia, segundo ele, a Diferencial operava 100% em live. Hoje, a agência está operando com 50% em lives, 30% só presencial e 20% no híbrido.
Na opinião dele, isso ocorre porque os clientes também aprenderam a trabalhar com as lives.
“Então, hoje, dentro de um planejamento tem a expertise em enxergar o que que realmente a gente consegue fazer através de live o que que é evento híbrido e o que vai ser evento presencial. O mercado realmente está mudando, está voltando, mas acredito que a tendência do híbrido é se manter pela forte tendência de atingir o maior número de pessoas, de impactar e também, dependendo do perfil, contribuir com a redução de custo”, conclui.
Por outro lado, segundo Liliam Maia, diretora executiva da Núcleo de Produção, o setor de eventos foi bastante afetado com a pandemia, o que fez com que fosse preciso que a agência ficasse atenta às tendências e se reinventasse a todo momento.
Para Liliam a redução do formato streaming não foi a única ferramenta que surgiu com a pandemia. Formatos como gamificação, microversoe cenarios virtuais são inovações que ampliam a oferta de recursos para inovações que sempre são necessárias neste tipo de produção.
“Os eventos on-line acabaram sendo uma alternativa, o que nos obrigou a pensar em milhões de soluções digitais como lives, gamificação, plataformas 3D e até mesmo metaverso, né?”, afirma ela.
“A gente passou por muitos questionamentos, os eventos on-line pareciam ter vindo para ficar. O tempo inteiro era falado como iria ser esse futuro, uma vez que os estudos apontavam a eficácia da transformação digital e desse modelo de eventos”, acrescenta.
Porém, segundo ela, todo mundo sabe o quanto é diferente a experiência on-line da presencial. Mesmo com um investimento muito menor dos clientes dos eventos on-line, muito era escutado sobre a importância da retomada dessas atividades presenciais, dos eventos presenciais e que essa vivência jamais seria substituída por um evento on-line.
“E acredito muito no híbrido. A mistura do presencial com o virtual, que nunca foi uma novidade, mas pouco era falada, essa sim veio para ficar, conectando ambos os formatos, o presencial e o on-line, com todos os recursos tecnológicos. Acredito que, dificilmente, os eventos cem por cento on-line acontecerão, pois os eventos presenciais voltaram com força”, finaliza Liliam.
Feijó foi ouvir também empresários com grande parte de suas operações fora de São Paulo. Na região sul, Tiago Fattori, CEO da Diferencial Live Marketing, de Florianópolis, aponta que por lá todo setor também ficou dois aos trabalhando em função da live.
“Em nosso mercado, muitos conseguiram entrar nesse nicho, se reinventaram. Com a retomada do setor, consequentemente, as lives deram uma diminuída em algumas regiões, drasticamente, em outras nem tanto, falando mais especificamente aqui de Florianópolis”, afirma ele.
No caso da Solution Off, uma agência de solução em marketing integrado que surgiu durante a pandemia, a maioria dos projetos no início eram todos on-line e as lives foram uma grande aposta.
“Mas a gente foi migrando para o híbrido. Entre híbrido e on-line, a gente ficou com 50% em cada formato. Hoje, 90% dos nossos eventos e projetos são presenciais e a gente tem 10% de híbridos, e quase nenhum completamente on-line mais”, revela Wagner Zaratin, sócio-diretor da Solution Off.
Sobre o cenário atual, Wagner pensa que a gente está em um momento de aquecimento, e o presencial mostrou que ninguém troca o presencial por nada, pois as pessoas precisam ter esse contato com o consumidor.
“Claro que a gente traz muito aprendizado do momento do on-line para esse momento do presencial, a gente aproveita muita coisa da prateleira que a gente teve que criar e se se reinventar, mas ninguém troca o presencial por nada, por isso que está essa febre de eventos estourando em todos os lugares, né?”, conclui.
Para Serge Crespin, diretor de atendimento da Red Door Agency, uma agência de live marketing de São Paulo, o mercado realmente achou que essa retomada teria mais a presença do digital do que realmente está acontecendo.
“Por acaso, a gente tem um evento agora no começo de julho que vai ser cem por cento presencial, mas a gente se preparou para fazer a transmissão dele, caso algumas pessoas não possam comparecer”, disse ele.
Durante a conversa, Julio Feijó questionou sobre alguma frustração pela expectativa criada pela realização de ambos os formatos, o que poderia ampliar a receita. Mas Sergio Crispim vê com naturalidade esta transofrmação:
“Não houve realmente uma frustração. A gente sempre acreditou que haveria essa volta porque as pessoas realmente vão sempre preferir fazer o olho no olho, apesar do digital realmente abrir oportunidade para pessoas que não participavam de eventos por questão de distância, de custo participarem”, completa.
Para ele, o boom das lives e dos eventos on-line ampliou o mercado no sentido de quem atende a eventos.
“A gente nunca sabe o que vai acontecer daqui para frente. Já se fala em outras variantes, outras pandemias, por isso acho que esse aprendizado que a gente teve nesse período, mesmo que talvez não esteja sendo utilizado na maneira como a gente imaginou, agora na retomada, é um aprendizado que pode ser utilizado em outros momentos. Isso tudo vai ter o seu valor em alguns momentos específicos e em algumas oportunidades específicas”, disse ele.
Tati Calvo, da TACC88 empresa de tecnologia e arte é diretora artística e especialista em ambientes imersivos. Ela aponta que o boom das lives na pandemia foi devido a um contextoem que todo mundo precisava se comunicar com muita gente em muitos lugares. Ela considera esta situação positiva.
“A partir do momento que veio esse boom das lives, teve uma técnica, tecnologia e profissionais, que se habilitaram com esse novo jeito que são lives e transmissões ao vivo. Não deixa de ser um programa de TV. Então, eu acho que foi muito bom, eu acho que as lives vieram pra ficar. Não daquele volume já que aquele era o único canal. Então teve um boom mesmo. E agora vai ter que se readequar, o mercado vai ter que entender que não é a mesma coisa presencial e online. O presencial tem uma força muito forte, de presença né? Você trocar com o outro fortalece os negócios, fortalece as conexões, o networking e o que seja”, afirma ela.
“Mas as lives vieram sim pra dar uma capilaridade para esse conteúdo, para essas informações e eu acho que vieram pra ficar. Mas o contexto é outro. Né? Hoje a gente vai ter um misto, vai ter presencial junto com o on-line”, conclui.
Rafael Porto, diretor de marketing e um estudioso do mercado também comentou no podcast. “Não acho que o evento on line vai morrer mas não vai ser mais uma solução para substituir o evento presencial e sim para uma demanda específica apesar de que é um formato espetacular, mais viável e com maiores possiblidades de avaliar engajamento, retenção da mensagem e também o ROI.