Live Marketing

Falta de profissionais qualificados no Live Marketing divide opiniões

O Promoview conversou com algumas das principais agências do segmento no Brasil, para saber o que pensam sobre o assunto.


Em 2023, após o fim da pandemia e a retomada com tudo do setor de eventos em 2022, o mercado de Live Marketing se vê às voltas com demissões em toda a cadeia produtiva do segmento, com os profissionais mudando para as mais variadas áreas, com remunerações próximas ou até mais elevadas do que antes.

Processos como desenvolvimento, organização, produção e execução de eventos e ações de live marketing são bastante dinâmicos e envolvem diversas áreas, o que requer um bom gerenciamento de equipe e tempo, isso sem falar nos prazos rígidos e na necessidade da entrega, com um salário que, em comparação com outras áreas, deixa a desejar.

Diversas agências relatam certa dificuldade em encontrar profissionais, de modo que muitos dos que estão sendo contratados se encontram em começo da carreira, sendo que a situação perfeita seria um ponto de equilíbrio entre profissionais com mais experiência e ingressantes no mercado, o que ajudaria a manter a qualidade das entregas. 

Com base em todas essas questões, o Promoview conversou com algumas das principais agências de Live Marketing do Brasil, para saber o que pensam sobre o assunto.

Batux

A Batux, à frente do Comitê de Relações Humanas de uma organização do setor, analisando o mercado de Live Marketing nesse sentido, durante e pós-pandemia se deparou com alguns cenários a serem considerados para escassez de mão de obra.

Eventos

De acordo com Jane Fernandes, vice-presidente de Operações e sócia da Batux, durante a pandemia, com a ausência de eventos presenciais, boa parte dos profissionais especialistas do segmento migrou para outras áreas de atuação e/ou se especializou nos virtuais, o que gerou falta de mão de obra no retorno em 2022.

Digital 

Segundo Jane Fernandes, no caso do digital, há uma migração de profissionais para o Live Marketing, mas o escopo de trabalho ainda está em desenvolvimento.

Jane Fernandes, vice-presidente de Operações e sócia da Batux. Foto: Divulgação

IA 

Para a vice-presidente de operações da Batux, a Inteligência Artificial veio para ficar e o mercado como um todo será beneficiado ou não com a ferramenta, e os profissionais da agência estão em momento de conhecimento e adaptação para esse novo momento.

Migração de profissionais

No caso do Live Marketing, com exceção de eventos e trade (ativação no PDV), a Batux enxerga migrações significativas dos profissionais de outras ferramentas como promoção, incentivo, trade, entre outras. 

O que notadamente ocorreu foi uma elevação do volume de promoção e incentivo nos anos de 2020 a 2022, trazendo a falta de mão de obra especialista nas ferramentas, gerando a necessidade de desenvolvimento aprofundado para suprimento do mercado nessas ferramentas. Outro ponto ainda a ser mencionado é que um percentual significativo dos profissionais de planejamento abriu seus próprios hubs e se juntou para atender as agências, trazendo os especialistas em eventos que ficaram com pouco ou nenhuma demanda durante a pandemia para se especializarem nas outras ferramentas, isso ocasionou falta de profissionais disponíveis para contratações fixas”, ressalta.

Fernandes destaca ainda, que, para atrair e reter profissionais experientes com remuneração adequada, ainda antes da pandemia, as agências começaram a entender que o profissional de RH era uma peça fundamental. 

Conseguimos ver aumento expressivo da busca desses profissionais, não só para a Administração de Pessoal (pagadoria e benefícios), mas para atuação estratégica em conjunto com o corpo de gestão, trazendo desde o mapeamento de clima, recrutamento e seleção com base na cultura, até partindo para um processo de desenvolvimento com base na estratégia do negócio. O Live Marketing vem se profissionalizando nesse sentido. Uma organização que representa esse mercado, traz representações significativas de agências em seus comitês, discutindo fortemente tais temas. De fato, não existe receita de bolo, mas, sim, um mapeamento preciso, desenvolvimento tailor made (cada um sabe sua necessidade) e uma boa pesquisa salarial para estarmos equacionados”, aponta.

Por fim ela reforça que fatores como budget, briefing e prazos estabelecidos pelas marcas têm influência na contratação de profissionais qualificados no Live Marketing.

Nos deparamos com prazos cada vez menores e negociações mais longas para fechamentos de projetos, fora os de pagamento, que chegam a ser superiores a 90 dias em sua maioria. Com esse cenário, as agências precisam de muito planejamento e utilização precisa de seu capital intelectual para dimensionamento correto do tempo em cada projeto. Como mencionado anteriormente, hoje temos uma atuação inicial de consultoria para desdobramento do pedido do cliente (briefing), a fim de sermos mais assertivos na entrega do projeto. Porém, isso toma bastante tempo da equipe, mas é o novo posicionamento do mercado. Precisamos entender e nos estruturar para entregar. O papel da liderança é de suma importância nesse sentido. Não basta ser especialista, precisa administrar e gerir de forma correta o tempo e entender o papel e a capacidade de entrega de cada um de sua equipe”, conclui.

AKM Performma

De acordo com Eduardo Andrade, Co-Ceo da Akm Performma, o Live Marketing é um mercado é muito abrangente, que utiliza diversas ferramentas de comunicação, o que gera uma busca maior por profissionais com diferentes habilidades e capacidades. 

Para ele, a partir do momento que as pessoas entenderam no pós pandemia que podiam trabalhar remotamente e com um modelo mais flexível e livre, muitos profissionais preferiram migrar para o processo de desenvolvimento de projetos e não um trabalho fixo.

Eduardo Andrade, Co-Ceo da Akm Performma. Foto: Divulgação

E claro, não temos ainda Universidades focadas em Live Marketing, o que dificulta a capacitação e o processo de seleção”, reforça.

O mercado de live marketing tem uma dinâmica exaustiva de concorrências por projeto, o que gera uma carga desnecessária de stress e exaustão muito grande em cima dos profissionais que acabam migrando para outras áreas. Essa mesma dinâmica de concorrências por projetos tira a oportunidade da agência de manter uma estrutura permanente de profissionais e fomentando capacitação, updates e planos de carreira”, acrescentou.

Eduardo Andrade ressalta também que i mercado de Live Marketing é um mercado de habilidades coletivas, de modo que todas as funções requerem um conhecimento bastante específico e profissionais extremamente qualificados para trabalhar. 

“Se fosse para destacar uma área entre as que mais necessitam de profissionais qualificados, eu acredito que a Produção necessita de profissionais mais atualizados e preparados para as novas tecnologias e formatos. Aqui na AKM temos um cuidado muito grande em manter um time de alta performance em todas as áreas da agência”, completa.

Para conquistar e manter profissionais experientes com remuneração adequada, Edu reforça que a AKM tem uma área de Gestão de Pessoas bem atuante e com um olhar focado na jornada de cada colaborador. 

Temos várias formas de atrair profissionais talentosos como: um forte programa de estagiários que trabalhamos em conjunto com Universidades para recrutar novos talentos; uma constante pesquisa e busca de profissionais focando em diversidade e inclusão; sempre divulgar nossos projetos como forma de mostrar a qualidade e relevância de nosso trabalho; e acima de tudo valorizar nossa equipe”, diz.

Para a retenção de talentos temos também várias ferramentas, mas nada supera o acompanhamento constante e proximidade na relação através do respeito e da valorização de cada um. Alguns pontos importante que colabora com nossa retenção são: temos um grande portfolio de clientes que nos permite desenvolver projetos diferenciados, criativos e com grande visibilidade; criação de um ambiente extremamente colaborativo com autonomia responsável para os nossos profissionais; e criação de uma plataforma de conhecimento e evolução com conteúdo de todos os nossos profissionais. Temos feito inclusive um trabalho de criação de base engajada em fazer parte dos nossos projetos e da nossa cultura”, comenta.

Pelo fato de o Live Marketing ser uma área em que o trabalho geralmente é de projetos e não de contas, budget, briefing e prazos influenciam pela alta flutuação de funcionários na estrutura. 

Para manter o equilíbrio entre estrutura e projetos, é necessário trabalhar com clientes que acreditam no longo prazo, de conta anual e não apenas de um projeto específico. Muitos dos clientes da AKM têm optado em trabalhar conosco com estrutura de conta fixa, com equipe dedicada e que olhem a estratégia dos seus negócios de forma completa”, finaliza Edu Andrade.

Elkis18

Para Fernando Elkis, CEO da ELKIS18 Amazing Brand Experience, antes da pandemia era possível encontrar profissionais de nível sênior com mais facilidade, pois o Live Marketing estava em um de seus melhores momentos da década, em relação ao volume de eventos., o que fazia os profissionais terem muito repertório. 

Com a pandemia, Fernando recorda que veio a desaceleração da área e a migração dos profissionais para outros setores.

Arrisco dizer que a falta de mão de obra especializada é uma causa pós pandêmica, mas também acredito que juntos, nós do C-Level e líderes, podemos criar um novo e forte movimento de profissionais adaptados á nova era, principalmente com a retomada desse ano que está demandando muita energia. Quem chega com pouco conhecimento em eventos e experiência está com muita sede de aprendizado e vontade de fazer acontecer”, afirmou.

Fernando Elkis, CEO da ELKIS18. Foto: Divulgação

Acredito que, como em 2020 e 2021 o Live Marketing teve um hiato muito grande com as restrições sociais, os profissionais precisaram se reinventar para lidar com a gestão financeira pessoal e, com isso, buscaram oportunidades em áreas como: digital, mídia e relações públicas”, acrescentou Elkis.

Na opinião dele, entre os cargos que mais precisam de profissionais qualificados no Live Marketing, a área de estratégia é provavelmente a que mais tem tido dificuldade em se ajustar ao novo cenário, pois os planners que foram desligados durante a pandemia migraram para o comms planning e com isso o segmento ficou com um gap de pessoas que sabem desenvolver narrativas envolventes para Live Marketing, que é uma área que lida com diferentes perfis de projetos, desde eventos, campanhas de incentivo e trade, diferentemente do digital ou mídia, que normalmente tem características similares. 

Em relação a como atrair e reter profissionais, Elkis destaca que a Elkis18 está com a missão de analisar um novo perfil de profissionais para se adequar e conseguir manter talentos que fazem a diferença, não somente para os projetos, mas no dia a dia, no convívio com outras pessoas. 

Nós não abrimos mão do presencial full time e sabemos que não oferecer o híbrido ou remoto como opção se torna uma yellow flag, mas em contrapartida todos os nossos colaboradores são contratados CLT ao invés de PJ, como costuma ser no mercado. Essa é uma forma não só de estimular a retenção de talentos, mas também de inspirar o setor a fazer diferente”, aponta.

Além disso, Fernando revela que a agência aplica outras medidas que ajudam a atrair e reter talentos, como oferecer bem-estar físico e psicológico, ter uma comunicação direta e aberta com todas as lideranças, proporcionar um espaço para escuta e visibilidade, oferecer um pacote de benefícios de alimentação e transporte, e uma remuneração justa, tentando sempre promover mudanças sugeridas pelos próprios colaboradores. 

Finalmente, Elkis pensa que os três fatores, budget, briefing e prazos, influenciam diretamente na cultura das agências, consequentemente na contratação. 

Quando temos – com frequência – briefings complexos, prazos curtos e budgets apertados, o cotidiano da agência pode se tornar um repelente de talentos e de qualidade de vida. Por isso, sempre tentamos agir de forma justa com nossos colaboradores e com nossos clientes, para que possamos ter prazos assertivos, briefings bem alinhados e budgets realistas”, conclui.

Hype

Conforme Alessandro Ortali, CEO e fundador da Hype, mesmo antes da pandemia de Covid-19, o setor de Live Marketing no Brasil já enfrentava desafios na oferta de mão de obra qualificada devido à escassez de talentos e da informalidade cultural do setor. Segundo ele, toda a cadeia produtiva da indústria requer especializações, que vão desde a criatividade e design até habilidades técnicas, de produção e comunicação, sendo altamente competitiva, o que torna encontrar e contratar profissionais com o perfil ideal algo que pode não ser tão simples.

Alessandro Ortali, CEO e fundador da Hype. Foto: Divulgação

São poucas opções de formação técnica e acadêmica, por isso os profissionais de LM, normalmente, migraram de outros mercados. É um segmento que oferece muitas oportunidades temporárias, os ciclos dos jobs são relativamente curtos e os profissionais conseguem adquirir um bom curriculum de experiência em curto prazo de tempo. A formação rápida pode ser uma vantagem para o contratado, mas geralmente é uma desvantagem para o contratante. Um bom CV não necessariamente representa um bom profissional. Por esse motivo, temos de ser cirúrgicos na hora de contratar os “especialistas” e evitar os “alpinistas profissionais”. Com o surgimento da pandemia, muitas empresas foram impactadas economicamente e fecharam suas portas, o que pode ter agravado ainda mais o problema”, ressalta.

Segundo Ortali, a migração de profissionais do Live Marketing para outras áreas pode ter diversas razões, como a instabilidade econômica gerada pela pandemia de Covid-19, o que pode ter levado muitos profissionais a buscarem empregos em outras áreas. 

O setor, que foi um dos mais impactados pela pandemia, sofreu com paralizações e adiamentos de eventos, o que também pode ter levado os profissionais a buscarem oportunidades com retorno mais rápido. A constante evolução do Live MKT, com novas tendências, tecnologias e abordagens, pode afastar muitos profissionais que não se sentem aptos a acompanhar essa rápida evolução”, acrescentou.

Alessandro ressalta que todos os profissionais envolvidos nos projetos e campanhas de Live Marketing têm sua importância e valor, sendo praticamente impossível descartar algum cargo ou até mesmo não se exigir alta capacitação e experiência em todas as funções. 

Com certeza, algumas tendem a ser particularmente importantes para o sucesso de um evento, como Diretor(a) de Criação, responsável por liderar a equipe criativa na concepção e desenvolvimento de ideias e conceitos. O(a) Produtor(a) de Eventos também tem destaque especial ao se encarregar do gerenciamento de todo o processo de produção dos eventos, desde o planejamento até a execução e desmontagem. Coordenador(a) de Comunicação, que se responsabiliza por gerenciar a comunicação com clientes, fornecedores e outras partes envolvidas é uma função que podemos, também, destacar como fundamental, além de Designer Gráfico, que se encarrega dos materiais criativos e Gerente de Projetos, que está presente do começo ao fim do projeto gerenciando todos os seus aspectos”, elenca.

Ortali alerta que atrair e reter profissionais experientes e com remuneração adequada no Live Marketing é uma questão, acima de tudo, estratégica. A base para se reter um talento, para ele, é oferecer um ambiente de trabalho agradável, fator valorizado pelos profissionais, além de sua própria valorização e respeito profissional. 

A criação de uma cultura corporativa positiva, que incentive o trabalho em equipe e a comunicação aberta são fundamentais. Proporcionar oportunidades de crescimento, com treinamentos e desenvolvimento de habilidades e oportunidades de progressão na carreira motiva e engaja os profissionais. Remuneração adequada e de acordo com o mercado é um elemento forte nesse cenário, assim como o reconhecimento por bons desempenhos. A empresa que proporciona equilíbrio entre vida pessoal e profissional, demonstrando preocupação com saúde e o bem-estar dos profissionais tem muito mais chances de reter um talento. Além disso, é importante investir em tecnologia e infraestrutura, garantindo ferramentas e recursos necessários para que o colaborador realize suas funções de maneira eficiente e eficaz”, encerra ele.

Sherpa42

João Ribeiro, sócio e head de novos negócios da Sherpa42, pensa que a mão de obra qualificada sempre foi um problema para o setor de Live Marketing, seja pela instabilidade e/ou imprevisibilidade da área e também, devido ao modelo de contratação, pois muitos preferem trabalhar sob demanda, outros fixos, e como sempre existiu oferta para a escolha, a dificuldade era latente.

João Ribeiro, sócio e diretor de negócios da Sherpa42

“No pós-pandemia, o mercado retomou com força. Por conta da demanda reprimida dos últimos anos, cresceu exponencialmente. Com isso, sentimos que a mão de obra está cada vez mais escassa. Ainda há mais oferta, mas no paralelo, há menos profissionais preparados, qualificados ou que abandonaram o setor. Isso acarreta em mais dificuldades para atender prazos, especificidades e complexidades que os projetos demandam. O mercado se descentralizou, desorganizou, alienou ou até “desprofissionalizou” ainda mais. Muitas agências e prestadores de serviços diversos, infelizmente, deixaram de existir e novos players apareceram com o intuito de se colocar no mercado a qualquer custo, impactando muita coisa”, declarou ele.

Segundo ele, tantos profissionais do Love Marketing migraram para outras áreas por fatores como instabilidade, pelo risco de não conseguirem corresponder com as obrigações em casa ou mesmo por limitar-se a exercer apenas uma função. 

Reforço aqui o cenário do pós-pandemia e todos os caminhos que desalinharam o nosso mercado de maneira direta ou indireta. Este período devastou o nosso mercado e a cadeia acabou sendo bastante impactada como um todo”, destaca.

Para atrair e reter esses profissionais cada vez mais em falta, João acha que é preciso ter foco na pessoa, no ser humano. 

É necessário ouvir e cuidar e não padronizar modelos. Se há pretensão de ter uma equipe melhor preparada, é preciso sugerir remuneração e participação efetiva no processo como um todo. Nosso segmento é muito orientado por iniciativas terceiras. Ou seja, nem tudo depende apenas da agência, do gestor ou líder do negócio. Então, há perguntas que sempre aparecem: como engajar sem a garantia de que será executado tal projeto? Como corresponder ou motivar briefings diante de prazos e processos de concorrência inadequados? Fazer o trabalho só pelo nome da marca, da companhia, do desafio ou segmento? Queremos só criar portfólio?“, indaga João.

Por outro lado, João ressalta que há este cenário positivo em que as demandas para eventos e Live Marketing estão com um crescimento gigantesco. 

Ao mesmo tempo em que a oferta/demanda cresce, cresce também o setor, o que gera ainda mais competição interna. Do outro lado da bancada, ademais, há da parte das marcas/empresas uma expectativa elevada para que seus eventos/projetos saiam do papel como nunca antes visto. E, assim, nos deparamos também com briefings, budgets e prazos muitas vezes não condizentes com a realidade atual, o que também gera um demasiado impacto na cadeia como um todo”, finaliza.