Muito provavelmente (a julgar pelas decisões que vem tomando), o poder público ignora que o calendário das feiras de negócios em São Paulo se inicia em março e termina em novembro, com uma ou outra exceção, como é o caso da grande Couromoda, que normalmente acontece no mês de janeiro.
Em 2020, março estava pela metade e o lockdown foi decretado. Primeiro vieram o susto e a incredulidade, que aos poucos deu lugar à expectativa de que a pandemia não fosse tão grave, e que depois foi seguida pela torcida do surgimento de alguma medicação eficaz.
Primeiro setor a ter sua parada forçada foi o de eventos.
O tempo foi passando, medidas tomadas, hospitais de emergência foram levantados, e as pessoas foram se acomodando como podiam.
Logo, logo vai passar, era a esperança de todos. Dizia-se então “Estamos todos no mesmo barco”, mas aos poucos fomos descobrindo que não era bem assim. Nem mesmo a tempestade era igual para todos, quem dirá o barco. E o setor de eventos permanece parado.
Tempo passando, atividades essenciais retomando primeiro, claro, supercorreto, assim que tem de ser numa situação como essa. A seguir, uma flexibilização começa a acontecer de modo a não travar a economia o que pode ter consequências para a sobrevivência das pessoas tão cruéis (porém menos visíveis) do que a própria pandemia. E o setor de eventos permanece parado.
Aí vieram as medidas que mostraram claramente a falta de rumos e a falta de bom senso para acelerar a flexibilização. Libera shopping center (ahn???), libera academia de ginástica (ahn,ahn???), libera igrejas, libera salão de beleza, bares, restaurantes, comércio lojista de quinquilharias… E o setor de eventos permanece parado.
Estamos encostando em 6 meses de paralisação. Acho que só o setor de eventos permanece parado. Não me ocorre nenhum outro. O resto todo pode. Milhares de trabalhadores e centenas de empresas já quebrados. São 6 meses, não há fôlego para mais nada. O setor já respira por aparelhos. Pouquíssimos sairão da UTI vivos.
Destruir sempre foi mais fácil do que construir. Nos últimos 50 anos saímos praticamente do zero, e, antes da pandemia, estávamos entre os 8 países do mundo que mais e melhores feiras de negócios realizam. Agora, bem, veremos. O tempo dirá.
Uma coisa é certa, em 11 de setembro, uma infeliz coincidência, São Paulo recebeu uma bomba lançada sobre o setor pelo próprio Poder Público, que dele deveria zelar em respeito ao trabalho, a dignidade e a cidadania. E o setor de eventos continuará parado.
Mas quase me esqueço de destacar uma exceção: O evento Eleições Municipais vai acontecer, já tem dia e horário marcados. Afinal, é o maior evento, movimenta milhões de pessoas que, em regime obrigatório, devem sair de suas casas e enfrentarem transporte público cheio, ruas cheias, filas de espera nas seções de votação, e vai por aí, mas não para aí. Só no Estado de São Paulo serão 33 milhões de pessoas nas ruas indo “cumprir a obrigação de votar”. Agora vem o pior dos absurdos:
“Comícios – A realização de comícios e o uso de aparelhos de som serão permitidos de 27 de setembro a 12 de novembro entre 8h e a meia-noite, exceto o comício de encerramento da campanha, que poderá prosseguir até às 2h da manhã”.
Eu só queria entender a lógica. E o setor de eventos permanece parado. Ah, já disseram que será liberado depois das eleições, ou seja, quando o calendário de feiras da cidade já está praticamente encerrado. Liberar em novembro, não apenas mata o 2020, como compromete também boa parte de 2021.
Eu só queria entender. Mas, por mais que me esforce, não consigo.