Brigar com o poder público para liberar eventos com público similar ao de anos anteriores parece ser a tônica dos grandes promotores de feiras de negócios no Brasil e mundo afora, como forma de retornar “ao normal”.
Acontece que não existe mais “aquele normal”, aquele que prevaleceu até o final de 2019, início de 2020. Existe uma coisa que não podemos ignorar que é ter de lidar com um momento anormal, quando comparamos com aquele normal que conhecíamos.
O negacionismo praticado por muitos visa unicamente a manutenção da zona de conforto na qual se encontravam até então.
Assim como adotar soluções comoditizadas de transmitir seus eventos de forma digital também significa manutenção da zona de conforto. Algo como “Bem, todos estão fazendo assim então também vou fazer…”
O cenário que começou a ser desenhado em 2020 e que, muito provavelmente, ainda se estenderá por um longo tempo, não se esvairá por conta do surgimento de uma vacina ou de um medicamento para um vírus.
O-mundo acordou para a possibilidade de ter de conviver com imprevistos, especialmente nessa questão de endemias ou pandemias.
Mas que também pode ser estendido para guerras, debacles econômicas, desastres naturais, etc. Ou seja, olhar para trás e desejar que tudo volte a ser como antes não é uma opção.
Então, novos caminhos precisam ser buscados, em todos os setores e em todas as atividades. Mas buscados com muito mais velocidade e foco em soluções criativas e viáveis no setor das feiras e eventos de negócios, por uma razão fundamental: É um segmento no qual a principal variável da equação são as pessoas.
Então, antes de qualquer outra ação, é preciso aprender a ouvir as pessoas que integram o público-alvo dos eventos de negócios.
Passado quase um ano, essas pessoas já têm opinião formada sobre os eventos digitais, e, pesquisas realizadas mundo afora, indicam que o que até agora foi feito não proporciona uma experiência semelhante àquela obtida nos eventos presenciais. Nem para quem é expositor (leia-se fornecedor) e nem para quem é visitante (leia-se comprador).
Ora, se estamos diante dessa constatação, por quais razões estamos insistindo em tornar os eventos de negócios uma “Second Life”?
Por quais razões estamos investindo dinheiro em, cada vez mais, robotizar uma ação que tem como principal diferencial o relacionamento humano?
Não sou contra a digitalização do conteúdo dos eventos, mas só consigo enxergá-la como eficiente se for aplicada com extensão e não sincronizadas com os eventos presenciais.
Curioso é que essas mesmas pessoas clamam por se libertarem do isolamento, clamam por mais liberdade para realizar as coisas como elas eram antes…
Então qual pode ser a solução? Uma só: Bom-senso e planejamento para ações que permitam crescimento gradual. Ações que sejam COMPATÍVEIS com o cenário.
Eventos menores, capazes de atender uma determinada comunidade e que mantenham essas comunidades conectadas de modo perene, e, aí sim, o digital é bem-vindo.
Ao longo da minha vida profissional já promovi ou participei de eventos de todos os portes. Desde os muito pequenos até os megaeventos. Vi e vivenciei sucessos e fracassos em todos os portes.
Não é o tamanho de um evento que atesta sua eficácia para os negócios. É a relação custo x benefício que, quando positiva, permite que a ação se repita e se repita e se repita… E só é possível ter custo benefício positivo quando se tem qualidade. Para todos os participantes.
Então, no momento atual, diante das circunstâncias nas quais nos encontramos, está proibido olhar para trás. Não é uma opção.
Temos de olhar para o que é possível. Temos de encontrar soluções que tenham foco em resultados. Se, no momento, só é possível realizar eventos de pequenas dimensões, então vamos realizar eventos de pequenas dimensões que realmente tragam resultados.
É possível. Dá trabalho? Dá, claro que dá (Talvez esse seja o problema…dá muito trabalho).
Ah, a propósito: 92% dos eventos de negócios já realizados no virtual em 2019 não foram monetizados pelos seus promotores…
Foto: Reprodução.