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Medina anuncia Foo Fighters, Ludmila e pede que briga política fique longe do The Town

Grupo americano é a primeira atração do line-up internacional. Segundo o empresário, “não precisamos concordar, mas não podemos estar divididos”


Após a invasão golpista por bolsonaristas do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, Roberto Medina, presidente da Rock World, grupo responsável pelo Rock In Rio, afirma que não haverá espaço para rixas políticas em seu próximo festival, o The Town.

As declarações foram feitas junto ao anúncio do primeiro nome do seu line-up internacional: o grupo americano Foo Fighters, que se apresentará no dia 9 de setembro. O festival realizará sua primeira edição no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, nos dias 2, 3, 7, 9 e 10 de setembro, e já conta com Iza e Criolo como atrações confirmadas.

Fontes ouvidas pelo Promoview atribuem esta manifestação de Medina a uma avaliação feita pelos patrocinadores que demonstraram certo descontentamento pela associação de suas marcas com estes movimentos políticos. 

Todos sabem que as declarações do executivo terão pouco efeito caso a situação na época do festival leve a protestos. Mas pelo menos sinaliza a preocupação do mega empresário com esta situação, minimizando os ânimos e as decisões de investimento das marcas.

Na noite de quinta, o evento também anunciou outra atração: a cantora Ludmilla, a Rainha da Favela, que também se apresentará no Palco Mundo da edição de 2024 do Rock in Rio. No ano passado, ela foi uma das atrações mais aclamadas do palco Sunset do festival carioca.

The Town quer distância das lutas ideológicas

Às vésperas das eleições presidenciais, o empresário diz que ficou preocupado com o que poderia ter acontecido no último Rock in Rio. Não houve confronto, mas o que se viu nos palcos, e principalmente na plateia, foi uma prévia do que aconteceria nas urnas: mais apoio a Lula do que a Jair Bolsonaro.

A preocupação era legítima. Seis meses antes, o Lollapalooza tinha sido atravessado por uma guerra de liminares judiciais e uma tentativa de censura do governo Bolsonaro contra artistas, que se manifestassem politicamente depois que Pabllo Vittar fez o “L” com as mãos e exibiu uma toalha com o rosto de Lula.

Medina, que em 2018 colaborou brevemente com a campanha de Bolsonaro, com quem diz não manter nenhum vínculo, é da opinião de que política não se faz em cima dos palcos e de que a música tem o superpoder de unir todas as tribos, mesmo por uma noite.

“O Brasil ainda está dividido, mas a gente vai sair disso. Não somos um povo de briga”, afirma Medina à reportagem.

“Eu transmito a mensagem de paz e de que a música é sobre união, então não tem ambiente para briga. Não precisamos concordar, mas não podemos estar divididos. E não tem plano B para a democracia. A gente é democracia ou é democracia”, acrescenta o empresário, de 75 anos, que teve seu pai, Abraham Medina, torturado pela ditadura militar.

Um dos principais cuidados que vão ser tomados para evitar conflitos é manter a proibição da venda de bebidas alcoólicas além de cerveja na Cidade da Música, a versão paulistana da Cidade do Rock. “Nunca aceitei, desde o primeiro Rock in Rio, apesar de propostas muito lucrativas, porque [destilados] abre uma portinha para você mexer com o cara do lado”, diz.

Esta, porém, é só uma das medidas adotadas para proporcionar conforto, diz Medina, que negociou com Bruno Covas, falecido prefeito da cidade São Paulo, uma série de reformas no Autódromo de Interlagos, que deve receber 500 mil pessoas ao longo dos cinco dias do The Town. As promessas do então prefeito, morto no ano retrasado em decorrência de um câncer, foram mantidas por seu vice, Ricardo Nunes.

Entre elas, está a criação de uma rede de esgoto, para que o público não dependa mais de banheiros químicos, e a instalação de grama sintética sobre os 350 mil metros quadrados do autódromo, para que não haja lama caso chova. Tudo para melhorar a experiência com as marcas que estarão realizando ativações no festival.

As reformas pagas pela prefeitura, que o empresário diz terem começado agora, também devem criar tubulações subterrâneas, para que os cabos de eletricidade que mantêm a operação do festival não fiquem expostos sobre o chão.

Medina promete ainda que o metrô da capital paulista vai operar 24 horas nos dias do The Town, diferentemente do que acontece no Lollapalooza, que também é sediado no autódromo, mas mantém o transporte só até à 1h. A mudança, diz ele, valerá não só para o seu festival, mas para todos os grandes eventos da cidade.

O que não deve mudar muito em relação ao irmão mais velho carioca são os artistas contratados para o The Town, que ocorre nos dias 2, 3, 7, 9 e 10 de setembro e deve ter ingressos à venda a partir da primeira semana de março.

“Os artistas que podem ocupar um palco como o Mundo e o Skyline são 20 no máximo, então vamos beber da mesma fonte. Não nos preocupamos em repetir. Seria bobagem. Nenhuma banda grande é nova para o Brasil. Não tem como ter novidade. Todas as bandas importantes já vieram a São Paulo e ao Rio”, comenta.

O empresário diz já ter contratado três dos cinco headliners do festival, como são conhecidos os artistas principais de cada dia, mas faz suspense. A novidade é que a curadoria está de olho em artistas latinos, como Bad Bunny, mas por enquanto a única certeza é a de que, como no Rock in Rio, todos serão estrangeiros.

Isso pode reviver uma rixa antiga com artistas nacionais, que acusam o festival de não dar a devida importância aos brasileiros. No ano passado, Anitta afirmou que nunca mais se apresentaria no Rock in Rio, fazendo coro a críticas de figuras como Rita Lee.

Medina rebate os ataques dizendo que os palcos secundários têm quase o mesmo tamanho e estrutura de som e iluminação dos principais. “O Rock in Rio, desde que começou, é de shows internacionais, por isso que o headliner é internacional. Vamos ter bom senso. Eu precisava de algum artista brasileiro para lotar o Rock in Rio? Não. A gente contrata 300 artistas num festival. É natural que alguém se sinta incomodado”.

Esse frisson não é o único que atormenta a curadoria. No início da década passada, Roberta Medina afirmou que não havia espaço para o funk no Rock in Rio, mas seu pai garante que isso ficou para trás e que, na edição passada, por exemplo, o show de Ludmilla foi o mais visto na televisão.

“Não foi o Rock in Rio que mudou em relação ao funk. Foi o funk que tomou um tamanho no mercado brasileiro que a gente acompanhou. Nunca tive preconceito com nenhuma música”, diz Medina.

Confira os palcos de shows do The Town

Skyline: o maior palco do festival, inspirado nos edifícios de São Paulo The One: terá shows de conteúdo exclusivo do festival, bandas consagradas e novos artistas 

New Dance Order: dedicado aos gêneros house, techno, trance, bass e trap 

Factory: inspirado nos antigos galpões de fábricas, terá performances de street dance e shows de trap, hip hop e rap 

São Paulo Square: focado em jazz e blues, é inspirado em construções históricas da capital paulista como a Catedral da Sé, Estação da Luz e Teatro Municipal… 

O São Paulo Square, que levará ao Autódromo de Interlagos reproduções de prédios históricos de São Paulo, como a catedral da Sé, o Mercadão Municipal, a estação da Luz e a Pinacoteca do Estado, é o preferido de Roberto Medina.

Não à toa. É ele que, além de ser o mais instigante visualmente, revela a verdadeira tônica do The Town, diz Medina. “Música tem em todo lugar. Se você vai a um show do Coldplay em Detroit ou em Los Angeles, tem um palco e o cara canta. A diferença é o conjunto da obra. Quero criar uma experiência completamente diferente para São Paulo”.

O The Town terá sua primeira edição realizada nos dias 2, 3, 7, 9 e 10 de setembro de 2023, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. O festival promete ser do mesmo tamanho do Rock in Rio, além de carregar o mesmo ecletismo em seu lineup.

Por enquanto, Ney Matogrosso, Iza e Criolo são as únicas atrações confirmadas. De acordo com Medina, três dos cinco headliners já estão fechados e o primeiro grupo internacional presente no festival será anunciado nesta semana.