Eles iam chegando aos poucos, bem aos poucos. Ao ponto de sempre duvidar se viriam todos, mas quando menos esperava o local estava lotado, bombando, para ser mais exato.
E o maior ponto de interesse daquela festa não era eu, mas uma piscina de plástico (sim, daqueles Regan, de 1.000 L), lotada de gelo e bebidas.
As coitadas (foram várias durante esses anos) nunca viram água, brinquedos e crianças, mas só gelo e bebidas das mais diversas, que inclusive eram carinhosamente arrumadas, cuidadas e administradas pelos amigos que faziam dela o seu ponto preferido.
Foram inesquecíveis 11 anos de uma festa sempre cheia de amigos e muita diversão. Não dá para esquecer algumas como a que teve um campeonato de saltos em cima de pufes, as que tinham o futebol como o tema e o DJ colocava os hinos para que as torcidas se manifestassem.
A quantidade de brinquedos que recebia como um presente sugerido e que era doada, teve também uma com uma chuva torrencial e um barman enlouquecido fazendo caipirinhas na boca das pessoas (kkk), enquanto todos dançavam como se estivessem atrás de um trio elétrico, mas a que eu queria mencionar para dar um rumo de vez nesta coluna, foi a primeira.
Mas antes disso, e sem nenhum pudor, já feliz e agradecido, aviso: hoje é meu aniversário. E confesso que é estranho mencioná-lo, mas como afinal este texto está sendo publicado justamente neste dia ou melhor no meu dia, como leoninamente eu costumo dizer, vou me dar essa licença.
Mas esse lance de gostar de aniversário é relativamente recente e talvez algo que tenha contribuído e muito para isso foi por ter realizado por 11 anos seguidos uma festa para comemorá-lo: o ‘Churrasdilson’.
É só chegar julho para as pessoas começarem a me ligar e perguntarem ansiosas sobre ela. Afinal, todos anos 130/150 pessoas se divertiam na casa dos meus sogros, que por sinal sempre ajudavam e curtiam muito. E isso só confirma que conhecer a Lully foi, sem dúvida, a melhor maneira que tive em aprender a curtir, saborear e fazer celebrações.
Mas eu confesso, a festa foi ganhando corpo com o tempo e ficando inesquecível, ganhando muitos significados, mas a primeira delas foi um grito ou uma forma de basta, e eu decidi fazer porque queria ter a sensação de ter amigos.
Sei que soa meio deprê, mas certamente não sou a única pessoa do mundo que se viu pressionada, perdida e por isso buscou em algum momento compensar toda a pressão recebida, todas as dúvidas que te colocavam, as absurdas questões que te apontavam, todo os tipos de violência para com a autoestima, e, infelizmente, conviver com o jogo perverso que vemos em muitos mercados.
Enfim, todo o processo que castiga de uma maneira perversa as pessoas, tirando delas certezas, senso de pertencimento, autoconfiança, autoestima, amor próprio e inclusive questionando tudo aquilo que você faz com mais propriedade, com mais amor e dedicando um tempo maior do que deveria para realizá-lo: a busca do nosso sucesso como profissional e o esforço em mostrar o nosso talento da melhor forma e na mais perfeita tradução.
Eu nunca tinha dito isso, mas foi ao me sentir sozinho mesmo, cercado de inúmeras pessoas, sem voz, mesmo falando muito, sem ser visto mesmo estando visível e sorrindo para todos mesmo estando triste por dentro, que tive que buscar ajuda, terapias, apoio familiar e isso sem dúvida mudou minha vida. E o ‘Churrasdilson’ começou como uma forma de celebrar isso.
Naquela época, eu ouvi do querido mestre e terapeuta Omar Mustafá, palavras certeiras e duras, mas que me reencaminharam para o eixo certo, podendo olhar então o que acontecia e o que me atingia, mas buscando a consciência do que eu permitia que me atingisse.
E de todo esse processo, ganhei o presente de descobrir o poder das terapias, de cuidar da mente, das emoções e de nós mesmos, resolvi então aprender de mim para entender o outro. Hoje levo a tranquilidade do perdoar e de ser perdoado, até mesmo sem usar essas palavras.
A primeira festa foi a mais simples de todas, mas a mais significativa. Foi ali que eu decidi reunir a cada ano pessoas que me importavam.
Elas vinham de todos os lugares e democrática como era, reunia pessoas de todas as idades, origens, cores, credos, nível social, sotaques, enfim… antes mesmo da onda da diversidade, era assim que ela era.
Faz 5 anos que fiz a última festa. Estava na hora de repensar e guardar na memória as fotos impagáveis do querido Fabinho Nunes, o gostinho das caipirinhas do Bill ou do Uedson, o line-up sempre perfeito do Lala, o churrasco que foi mudando de mãos, mas sempre melhor, o inesquecível pernil do Estadão trazido pelo Ronaldo (Titous), a galera que ficava na segurança, as queridas que nos ajudavam na limpeza e no serviço, a amada família Aidar Guarino que sempre me tratou como um filho, o Seu Zé, que sempre esteve presente juntamente com a Dona Tetê e o Amilton, minha amada Lully, que sempre dividiu comigo todas as preocupações em decorar, preparar, produzir e depois limpar tudo. Mas, principalmente, todas aquelas pessoas que um dia foram ali, algumas que infelizmente não estão mais com a gente, outras que não chegaram a ir e ‘muuuuitas’ outras que hoje eu gostaria que estivessem ido.
Porque ali elas estavam celebrando não só uma amizade, um carinho, um sentimento fraterno de união ou de reconhecimento de valor, mas embriagadas pela alegria que sempre houve, sabiam que estavam em um ambiente de amigos, de pessoas que aprenderam a se reconhecer também como amigas e onde a única regra era não trazer cerveja ruim, respeitar, se divertir e celebrar a amizade.
As pessoas já não estavam ali para provar a mim mesmo que eu tinha amigos, mas porque eu sentia que melhor do que isso era eu sentir que era amigo delas.
Semana passada estive no mesmo Omar e ele me deu um presente, dizendo que: “O grande problema é procurarmos ou esperarmos dos outros, aquilo que deveríamos encontrar dentro da gente.”
E em um momento do mundo onde tudo aquilo que falamos do lado ruim das coisas se multiplica, vale neste momento de apagar as velinhas, que comemoram também 5 meses de uma mudança brusca no mundo, usar esta mensagem para trazer a nós mesmos uma consciência imensa, enorme, inatingível e nossa, muito nossa, de que não devemos aceitar que ninguém diga que não somos o melhor que somos, que duvidem do que criamos, do que pensamos, do que construímos e do que estudamos.
Vamos combinar em não aceitar cegamente que ainda não chegamos, que não estamos prontos e que falta algo. Chegou o momento de pôr dentro da gente aquela sensação gostosa do dia do nosso aniversário, aquele abraço de perto ou de longe que reverbera dentro da gente e que faz com que sintamos que realmente somos queridos, amados, ouvidos, vistos e aceitos.
Não vamos aceitar que nada que fira a essência do que somos encontre ressonância dentro da gente, pois como já diz o título do livro de Caio Carneiro: “Seja Foda!”.
Hoje, distante da impossibilidade de mais uma festa, mas ansioso para que ela possa voltar, talvez de outro jeito, com outro nome e em outra época, vale lembrar outro presente – este no sábado – quando assisti ao filme “Um lindo dia na vizinhança”, com Tom Hanks.
Leve e inspirador para o Dia dos Pais, “O meu dia” rs ou qualquer dia, ele deixa uma mensagem clara de que precisamos estar conectados com as pessoas, mas verdadeiramente, em carne e osso, em atenção e presença.
E em um mundo com tantas distrações, muitos pensamentos e múltiplas telas ligadas à sua frente, é importante que sejamos inteiros ao nos conectarmos, não dando às pessoas apenas uma parte da nossa atenção, mas toda ela. Afinal “O presente do presente é justamente estar presente”. E se tem algo que a gente precisa pertencer, é a nós mesmos.
O #MTT (MondayToThank) de hoje vai a todos os meus amigos. Obrigado!