Faço então um flashback para lembrar do meu primeiro prêmio: uma coleção de livros do Monteiro Lobato. Mas apesar do orgulho com os livros, confesso que pouco os li, talvez porque seu maior significado fosse mais a sua forma do que o seu conteúdo.
Fui daqueles jovens sonhadores e românticos, expressava meus sentimentos escrevendo. Eram estrofes, rimas e poesias. Nem sempre as musas caiam neste argumento, mas era meu conteúdo, era assim que eu fazia.
Me formei em design de produto, poderia ter optado por humanas, mas escolhi a forma novamente.
No primeiro estágio em publicidade, tive a chance de treinar a redação e a direção de arte, pois até ali, eu – nos meus devaneios – achava que faziam parte de um processo mais conjunto. Até que tive que decidir e escolhi a Direção de Arte. Vamos lá para a forma novamente.
Meu #MTT (MondayToThank) de hoje vai com meu irrestrito respeito, minhas sinceras homenagens e minha gratidão aos Diretores de Arte e Redatores: a dupla mágica que faz tudo acontecer dentro da comunicação e que hoje se vêem diante de inúmeros dilemas, inclusive o da construção de uma comunicação efetiva e criativa, que fuja dos cânones mais baixos de um mundo carente em saber ler, entender e aceitar novas ideias. Eles por si só são base da forma e do conteúdo e sabem o quanto isso está cada vez mais difícil.
Como Diretor de Criação pude entender que forma e conteúdo se conectavam de forma imprescindível, mas eu tinha que as vezes pensar mais no conteúdo no que na forma: “não podia olhar apenas para o bom ou ruim, mas para o certo ou errado”.
Me aproximei do universo humano, das abordagens sistêmicas, terapias quânticas e da possibilidade de entender a mim e ao outro de forma verdadeira. Ali, não havia lugar apenas para a forma, mas para o mais puro conteúdo.
Chegamos definitivamente ao futuro que vira presente ao questionar os layouts requintados, a direção de arte esmerada, a apresentação cheia de referências, estudos e execução extremada, os videos mais legais e os discursos mais inflamados. Pois infelizmente as pessoas não têm mais a atenção com a forma como a gente gostaria que tivessem.
São horas e dias gastos para um único click e para encontrar um ar desprovido de emoção que simplesmente desconsidera solenemente o esforço. E no auge da auto crítica que reencontra a arte e a poesia, em contraponto com um mundo que deixa claro que não há mais espaço para as duas coisas, relativo que hoje ninguém mais é bivalente, bivolt ou bialimentado. Somos no máximo bipolares, com todo o respeito a quem é, mas se escolhermos apenas um lado, é somente nele que veremos as coisas.
Num mundo de youtubers e influencers de toda sorte, se juntam aos montes palestrantes, pensadores, vendedores, professores e profissionais onde seu produto não tem uma forma que se configura. Fica então a sensação de que forma é mais prazer pessoal de quem a estima e onde a busca pelo equilíbrio cromático, sintomático e espacial, a diagramação e a expressão artística, por mais que embasada, será sempre autoral.
Do conteúdo, temos talvez uma equação para poder ser melhor aceita, visto que é métrica e conclusiva, ou não! E em meio à um congestionamento de conteúdos que nos chegam de todos os lados, ainda que não questionemos o profissionalismo da forma, nos cabe sermos mais exigentes com seu conteúdo.
Pois chegamos definitivamente ao momento de enaltecer e valorizar apenas bons conteúdos, ainda que me doa saber que a outrora forma, hoje deforma. Já que aceita a reforma, corre o risco de se tornar proforma e ainda se conforma com um mundo que diz aceitar bem apenas o que é conteúdo, fazendo vistas grossa para essa tal forma e assim, de qualquer forma.
Opa, já vai começar mais uma Live. Será que terá forma e conteúdo?