Corria o ano de 1989 e o Brasil, que raramente perde a oportunidade de perder uma oportunidade, elegeu o hoje senador Fernando Collor de Mello para ser o primeiro presidente da república pós ditadura.
O jovem marqueteiro das Alagoas, naturalmente, escolheu para ministro do trabalho um pelego clássico, chamado Antonio Rogério Magri.
Magri, sujeito corpulento e chucro alçado ao primeiro escalão da república, refestelou-se e protagonizou alguns episódios folclóricos.
Um, quando em viagem a Europa para reuniões na Organização Internacional do Trabalho (OIT), deu o cano em compromissos oficiais para circular com senhoritas subitamente apaixonadas por ele.
O-mais famoso, no entanto, deu-se quando ele, flagrado pela imprensa ao usar o motorista oficial do ministério para levar sua cachorra ao veterinário, declarou, “a cachorra é um ser humano como qualquer outro”.
Pensei nessa bobagem famosa quando imaginei a síntese desta coluna.
Assim como a cachorra (o nome dela era Orca) não era ser humano as marcas, produtos e serviços também não o são.
Mas, de certa forma, enxergá-los como se fossem é uma forma contemporânea de análise.
E também um dos caminhos que conferem aos players de live marketing uma maneira de (sobre)viver.
Explico: hoje as pessoas cada vez mais querem consumir seletivamente. Importa a elas como as marcas (produtos, serviços) se posicionam. Qual é o tom do discurso, em que valores acreditam, quais causas apoiam.
Quase como se eles fossem pessoas (portanto com personalidade) mesmo. Pensou na “Lu” do Magalu e na “Bia”, do Bradesco? Ambas representam, epidermicamente, um pouco disso.
De forma mais significativa, muito do peso atual das pautas de ESG (que medem o grau de cidadania corporativa das empresas) está relacionado a essa percepção por parte delas.
E qual a melhor forma que uma pessoa tem de dar-se a conhecer? De granjear empatia, obter seguidores, parceiros, fãs, pessoas que se transformem em consumidores e, nos melhores casos, embaixadores, evangelizadores.
É conviver com elas, participar de suas vidas e proporcionar experiências memoráveis que produzam identificação (e daí fidelidade).
O caminho para isso é o live marketing. Viver uma marca por meio de experiência é algo poderoso e possível num evento, numa ativação, numa promoção, num programa de incentivo, numa ação no ponto de venda.
Não existe recurso melhor para acionar o gatilho emocional e sensorial das pessoas, conquistando-as, seduzindo-as.
Por isso, cara amiga ou amigo do live marketing, tenha segurança de que o que você faz, se faz bem feito, é o ar que os seus clientes precisam para respirar.
Se você é verdadeiramente profissional, conhece tecnicamente nosso segmento e tem capacidade para aplicar esse conhecimento à realidade das empresas, nunca houve momento tão propício ao desenvolvimento de sua atividade.
Já não tenho muita paciência para o discurso que diz que as agências de live marketing precisam provar seu valor estratégico para os clientes. Isso já é dado. Necessário ser um pouco deslocado da realidade para não perceber.
O que ocorre muitas vezes é haver profissionais (em clientes e agências) sem potencial cognitivo suficiente para enxergar essa obviedade. Mas nesses casos não vale a pena malhar em ferro frio.
Concentre suas energias naqueles clientes que valham a pena, que estejam abertos a trocas realmente valorosas e paguem por isso somas compatíveis com a importância de sua contribuição.
Deixe o resto para lá. Hão de terminar abraçados ao fracasso e a irrelevância. Acredite e não tema.
Apenas dê (na verdade venda) o seu melhor e entenda que tecnologias, formatos, são meios, que devem ser dominados e explorados sempre para gerarem resultados mais expressivos. Mas apenas meios. Importantes, mas não fundamentais. Fundamental é saber identificar necessidades e potenciais das marcas, produtos e serviços dos clientes e criar estratégias para tangibilizar com estilo e efetividade as fortalezas junto aos diferentes grupos de contato.
Preferencialmente lançando mão do melhor casamento da história dos mecanismos de comunicação. A experiência (quente, sensorial, impactante) com o digital (abrangente, científico, moderno).
Pode parecer que não, mas essa é nossa hora.
PS.: havia decidido não escrever minha coluna esta semana ao saber, na noite de terça-feira, dia 13 de abril, do falecimento de meu amigo Nei Gomes, levado pela Covid-19. Depois julguei que não. Melhor seria usar o espaço no Promoview para reforçar o discurso sobre a necessidade urgente de apear esse fanfarrão que governa o país, para que qualquer avanço aconteça, os crimes em série sejam interrompidos e possamos reconstruir o Brasil sob uma coordenação mais humana, responsável e democrática.
Mas no fim acabei por tentar, com humildade, acender uma luz na escuridão, como faria o Nei, um dos melhores light designers que já tivemos. Melhor homenageá-lo assim. Descanse em paz, caro Nei, e siga nos iluminando, agora lá de cima.
Wilson Ferreira Junior
É jornalista e empresário, tem perdido amigos e conhecidos para a Covid-19, tem se indignado crescentemente com a incapacidade e falta de empatia do governo brasileiro, mas não perde a esperança, porque ela é item vindo de fábrica.