A AB InBev está sofrendo com uma queda nas vendas e anunciou a demissão de dois executivos, após uma ação publicitária com uma influenciadora transgênero feita para a Bud Light, a cerveja mais vendida dos Estados Unidos, sofrer boicote.
Trata-se do mais recente caso de uma série de ataques de grupos conservadores contra direitos de pessoas transgênero, sendo divulgado pela imprensa estadunidense como um microcosmo da situação no país atualmente.
Em 1º de abril, Dylan Mulvaney, uma influenciadora trans que conta com 1,8 milhão de seguidores no Instagram e 10,8 milhões no TikTok, postou um vídeo de uma campanha de marketing com a Bud Light, mostrando seis cervejas que ganhou com um desenho de seu próprio rosto impresso na lata, em celebração ao aniversário de um ano de sua declaração pública como trans.
Imediatamente,-grupos conservadores reagiram e deram início a uma campanha de boicote, onde acusam a cerveja de estar patrocinando pautas transgênero, de tirar sarro de mulheres e de falar com as crianças sobre pautas sexuais.
Nos Estados Unidos, questões conservadoras sobre os costumes relacionados à sexualidade e gênero estão em alta nos últimos tempos. Conforme um relatório do Movement Advancement Project (MAP), instituição que realiza pesquisas e a fiscalização de assuntos ligados ao tema, mais de 650 projetos anti-LGBTQIA+ foram propostos em 2023 no país inteiro.
Pelo menos nove estados aprovaram leis proibindo tratamentos para pessoas trans menores de idade. No Texas, pais de crianças e jovens trans podem ser investigados por abuso infantil. Em 19 estados é proibida a participação de estudantes trans em esportes juvenis. Em sete estados americanos, estudantes trans não podem usar banheiros que refletem a sua identidade.
Com o passar de dois dias da postagem de Mulvaney, Kid Rock, um músico de bastante sucesso nos EUA durante o final da década de 1990 e início dos anos 2000, publicou um vídeo portando um fuzil semiautomático, metralhando caixas da cerveja. Famosos influenciadores de direita também aderiram ao boicote.
Uma fábrica da empresa em Los Angeles também sofreu uma ameaça de bomba, conforme informações da mídia local.
A Anheuser-Busch viu suas ações despencarem 5% logo no início do boicote, o que equivale a uma perda de US$ 6 bilhões, ou R$ 30 bilhões, em valor de mercado, de acordo com portal Axios.
No entanto, duas semanas depois, Donald Trump Jr, filho do ex-presidente Donald Trump, clamou pelo encerramento da campanha de boicote, afirmando não desejar “destruir uma empresa americana icônica” e que a empresa fez, no decorrer dos anos, mais doações para políticos conservadores do que para os progressistas.
A empresa de pesquisa de mercado NielsenIQ e a consultoria Bump Williams divulgaram dados que mostram que, na semana que acabou no dia 25 de abril, a cervejaria teve uma queda de 17% nas vendas, além dos 6% da semana anterior.
No meio de toda essa confusão, a companhia efetuou mudanças em suas equipes de marketing. Alissa Heinerscheid, vice-presidente de marketing da Bud Light, foi colocada em licença, enquanto Daniel Blake, vice-presidente da Anheuser-Busch encarregado pelas marcas tradicionais, saiu da empresa.
A Ab InBev disse à CNN que “trabalha com centenas de influenciadores como uma das muitas maneiras de se conectar de forma autêntica com o público em diferentes grupos demográficos” e que, com frequência, lança embalagens comemorativas para consumidores e influenciadores.
“Esta lata comemorativa foi um presente para comemorar um marco pessoal e não está à venda para o público em geral.“, disse a empresa.
Brendan Whitworth, CEO da Anheuser-Busch, afirmou, em carta aberta ao público, que jamais desejou “fazer parte de uma discussão que divide as pessoas”.
“Nosso negócio é reunir as pessoas para tomar uma cerveja.“, apontou ele.
Foto: Reprodução/Instagram