Não-é de hoje que as pessoas adotaram o termo ‘cancelar’ para mostrar que não gostam de alguém ou de alguma atitude. Mas a pergunta é: Com que direito isso é feito?
Ainda estamos sofrendo com os efeitos da pandemia do Covid-19. Vários setores da economia estão agonizando, principalmente os de eventos e turismo, porém, parece que isso não tem preocupado àqueles que só querem ‘cancelar’.
Criado no universo das mídias sociais, o termo “cancelamento” refere-se a uma pessoa, empresa ou marca boicotada pelo público após agir de modo censurável – geralmente depois de assumir posições equivocadas relacionadas a machismo, racismo ou homofobia.
Trata-se de um ataque orquestrado à reputação com o objetivo de tirar o alvo dos holofotes e puni-lo. O suposto delito é compartilhado inúmeras vezes, mensagens de ódio são enviadas, e o “cancelado” é humilhado e sumariamente condenado, sofre penalidades psicológicas, sociais e financeiras, com perda de empregos, patrocínios e contratos.
No-linchamento virtual, embora geralmente não haja agressão física concretizada, o mecanismo é o mesmo: Pessoas se juntam para destruir alguém por meio de postagens, curtidas, comentários e compartilhamentos – uma onda de violência psicológica e moral capaz de arrasar a vida pessoal e profissional do indivíduo.
O linchamento como problema social, entretanto, está longe de ser uma novidade; nele, os acusadores, em geral anônimos, sentem-se isentos da necessidade de apresentar provas contra a vítima, enquanto a mesma não tem sequer a oportunidade de elaborar sua defesa.
Quem cancela, portanto, não deseja debater ou corrigir o cancelado – isso implicaria se responsabilizar -, mas sim, culpar e extinguir o indivíduo de um espaço simbólico, que pode ser uma sociedade, uma família, uma equipe de trabalho, entre tantos outros agrupamentos possíveis.
No BBB21 parece que a ‘cultura do cancelamento’ ficou mais aflorado. O caso de racismo contra o ex BBB Lucas Penteado desencadeou uma corrente de comentários recheados de ódio contra quem as pessoas consideraram culpada pelo ato, no caso, mais especificamente, Karol Conká.
O que era para ser apenas um programa de entretenimento, acabou se transformando em um verdadeiro campo de batalha nas redes sociais, e, os que foram ‘cancelados’, estão sofrendo para conseguir retomar às suas atividades como eram antes de participarem do reality.
A pergunta que não quer calar é: Por que as pessoas agem dessa forma? Talvez um psicólogo pudesse responder à questão, porém, como estou apenas explanando a minha opinião, fico, no momento sem uma resposta concreta para essa estupidez.
Porque comprar uma ‘briga’ que não é delas sem oferecer uma solução para o caso, apenas falando mal e fazendo ameaças até de morte, sem dar uma chance de defesa ao envolvido na questão, e, o pior, sem dizer: “Se fizesse assim teríamos a solução do problema”, não nos leva a lugar nenhum, muito pelo contrário, faz com cada vez mais o ódio seja enaltecido.
No momento o Brasil passa por uma segunda onda muito forte de pessoas morrendo por causa do Covid-19. A taxa de desemprego aumentou, muitas empresas fecharam suas portas por não conseguirem mais trabalhar, e, enquanto isso, milhares de indivíduos estão desperdiçando o seu tempo em redes sociais criticando a atitude desse ou daquele.
Uma questão é simples: Se você não gosta de uma determinada pessoa, é só parar de seguir. Televisão e redes sociais sempre foram para mim um entretenimento. Se o que eu vejo não me atrai, ou mudo de canal, no caso da TV, ou não me envolvo em bate-boca vazio nas mídias sociais.
Está na hora do povo amadurecer. Se preocupar com quem está ao seu lado passando por necessidades realmente sérias. Se tivéssemos mais ações sociais e menos ‘cancelamento’ imbecil, certamente estaríamos vivendo um mundo bem melhor em todos os sentidos, mesmo em meio a uma pandemia.
As próprias marcas patrocinadoras do BBB21 poderiam ter aproveitado melhor a sua exposição no reality se tivessem proposto alguma ação de marketing social. Se isso tivesse acontecido, talvez até os envolvidos nas diversas polêmicas tivessem tido atitudes diferentes das que tiveram.
Não estou aqui defendendo ou criticando A ou B, até porque não sou juiz para julgar ou condenar alguém, muito pelo contrário. Sou apenas uma cidadã comum que trabalha para prover o sustento, e, que ao invés de me preocupar com a vida alheia, procuro olhar para quem está realmente precisando de uma ajuda.
O fato é que o cancelamento acaba promovendo também um fortalecimento de bolhas, estimulando a formação de grupos cada vez menos capazes de lidar coma diversidade e as contradições.
Ninguém é igual a ninguém e nem melhor ou pior. Todos temos as nossas virtudes e os nossos erros, porém, não cabe condenar. Se não puder ajudar, cale-se!
Tenha a sua opinião sobre os mais diversos assuntos, porém, caso alguém não concorde com ela, aceite. Imagine um mundo onde todos gostam das mesmas coisas, das mesmas pessoas, dos mesmos comportamentos. Ufa! Seria um saco.
Respeito é a palavra que deve prevalecer sempre.
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