O YouTube publicou ontem, um relatório de cultura e tendências baseado no consumo de vídeos na internet entre 2020 e 2021.
O levantamento, realizado em parceria com a Ipsos, aponta que 94% dos brasileiros acessam o YouTube pelo menos uma vez por semana e 87% publicaram vídeos em alguma plataforma on-line no último ano.
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O relatório, que é composto por uma análise do conteúdo e perfil de consumo no YouTube entre março de 2020 e março de 2021 e uma pesquisa com usuários da plataforma em 18 países, incluindo o Brasil, traz as principais tendências globais e separadas por região.
O levantamento será apresentado por Kevin Alloca, head de Cultura e Tendências do YouTube, no Festival Cannes Lions, que será realizado até 25 de junho.
Entre as principais tendências no mercado de vídeos online está a sensação de pertencimento e comunidade gerada pelo fenômeno de lives e transmissões ao vivo.
A pesquisa aponta que 85% dos brasileiros assistiram a uma transmissão ao vivo nos últimos 12 meses. Prova disso é o desempenho da live da cantora Marília Mendonça, que rendeu 3,3 milhões de espectadores simultâneos no pico da audiência.
Em um ano marcado pelo distanciamento social, 64% concordam que assistir a uma live de algum artista os ajudou a se sentirem mais próximos de alguém e 67% afirmam que assistir a vídeos on-line lhes deu assunto para falar com família e amigos.
Talvez por isso, 79% dizem que alcançam conexões mais profundas quando assistem ao YouTube com outras pessoas.
“Vimos essa tendência se manifestar na explosão de eventos ao vivo, à medida que os espectadores continuavam a buscar maneiras de estar juntos. Lives como casamentos no canal coletivo coreano Wootso e o pouso do rover Perseverance da Nasa em Marte foram grandes sucessos nesse período.. Os artistas também atraíram um público maior do que nunca, com apresentações mais íntimas.”, conta Bruno Telloli, gerente de cultura e tendências do YouTube Brasil.
Quebra da barreira entre o público e o privado
Outra grande tendência do último ano é a mistura entre os conceitos de figura pública e privada e o que se entende por entretenimento. Entre os brasileiros, 76% não acham que vídeos precisam parecer profissionais para que os entretenham e 73% não acham que vídeos precisam ser profissionais para ter valor comercial.
O conceito de megaproduções em vídeo e figuras públicas, incluindo artistas, jornalistas e criadores de conteúdo, distantes de pessoas comuns, apesar de ainda atraírem grandes audiências, não são mais a única forma de se relacionar com o público.
“À medida que nossas casas se tornaram escritórios, escolas virtuais e creches, a linha que antes era nítida entre nossas vidas pública e privada desapareceu. Por sua vez, as pessoas sentiram menos pressão para projetar imagens irrealistas de suas vidas e passaram a esperar o mesmo de seus criadores favoritos e do conteúdo que eles produzem. Em um planeta onde as barreiras entre o público e o privado ruíram, os vencedores no mundo do vídeo são aqueles que conseguem se comunicar direto com o público e atraí-los com sua capacidade de se relacionar.”, explica Bruno.
Celebridades que surgiram na TV, como a chef Paola Carosella e a atriz Carolina Ferraz, migraram para o YouTube e compartilham mais sobre suas vidas pessoais.
Mesmo apresentadores de TV passaram a adotar uma linguagem mais próxima da internet e canais de diversos jornais de emissoras diferentes têm visto crescimento em número de seguidores e visualizações.
Isso é reflexo do fato que mais da metade dos brasileiros diz gostar quando famosos usam as mesmas ferramentas digitais que eles (57%) e que valorizam quando famosos usam memes de internet (59%), se aproximando dos seus seguidores.
Dos entrevistados, 69% também dizem apreciar quando criadores de conteúdo e celebridades são honestos sobre dinheiro – como e quanto ganham, como gastam etc.
Porém, essa tendência vai além das pessoas que já eram famosas anteriormente. Ela também se reflete em nichos de interesses específicos ganhando força conforme as pessoas comuns quebram a barreira entre o público e privado e se tornam criadores de conteúdo também.
No Brasil e na América Latina, os “motovlogs”, vídeos que narram a rotina de motoqueiros em estradas, têm se popularizado cada vez mais. Apenas no país, foram mais de 40 milhões de visualizações desde 2020.
Vídeos que promovem experiências
Outro fenômeno apontado pelo relatório como promissor para o futuro é o da imersão em conteúdos de vídeos. Essa inversão da relação de passividade do usuário como um mero espectador dos vídeos envolve desde novos formatos, como vídeos em primeira pessoa e podcasts em vídeo, até novas formas de se relacionar com esse conteúdo, em que o espectador se coloca em um papel ativo no aprendizado de novas atividades.
Podcasts em vídeo têm visto um crescimento exponencial – 54% dos brasileiros dizem ter ouvido ou assistido a um podcast nos últimos 12 meses e 69% afirmam ter assistido a vídeos apenas pelo áudio mais frequentemente no último ano.
Um exemplo é o Flow Podcast, que recebe nomes grandes para uma conversa informal e envolve a audiência por meio do chat, e que já recebeu mais de 200 milhões de visualizações desde janeiro de 2020.
Mesmo vídeos tradicionais podem levar à geração de experiências. É o caso de vídeos que ensinam atividades, desde como dar um nó de gravata até aprender balé básico.
O relatório do YouTube aponta que 89% dos brasileiros assistem a vídeos que os ensinam alguma coisa pelo menos uma vez por mês e 65% passaram a consumir mais esse tipo de vídeo no último ano comparado à frequência anterior. Já 59% assistem a vídeos que os motivam a fazer atividades que eles já sabem fazer, como estudar, limpar a casa, cozinhar etc.
O fator nostalgia, impulsionado pela quarentena e pelo isolamento social, também promove a busca por experiências que remetem a hobbies, passeios e a um tempo antes da pandemia.
A pesquisa aponta que 63% dos brasileiros dizem que vídeos assistidos nos últimos 12 meses os fizeram se sentir em um lugar diferente e 51% em uma época diferente. Ao mesmo tempo, 72% descobrem ou reassistem a conteúdos de décadas passadas pelo menos uma vez por mês.
“A audiência tornou-se parte da experiência, não apenas consumidora dela. Todas essas tendências falam da capacidade do vídeo digital de conectar pessoas e se tornar participativo. E, embora possam ter sido estimulados por nossas necessidades durante a quarentena, sua popularidade sugere que vieram para ficar.”, opina Bruno Telloli.