Contratado por uma agência americana, o brasileiro estranhou sua carga horária. Afinal, depois de anos trabalhando em várias empresas, onde 9h00 nem sempre era respeitada, muitíssimo menos as 17h, e a sempre presente piadinha sem graça perguntando se estava desanimado quando saía em um horário, digamos normal.
Não importava o horário que entrou, se almoçou ou se tinha outras coisas para fazer. Pois era a quantidade de horas que valia, onde a produtividade estaria relacionada ao tempo de trabalho dedicado. Algo tão novo quanto a Revolução Industrial.
No primeiro job, o prazo era de meses, quando a maioria dos seus projetos era feito em dias, ou quando muito, duas semanas. E quando apresentou 3 ideias, o chefe lhe perguntou porque tantos caminhos? Explicou que era assim que fazia no Brasil e ele lhe disse que bastava uma boa ideia, não mais do que isso.
O seu dia rendia mais do que no Brasil, mesmo aparentemente menor. O seu trabalho era mais profundo, prazeroso e era realmente libertador sair do escritório – e todos também saíam – ainda em tempo de ver o sol se pondo em algumas épocas.
Teve até que repensar o que fazer com o tempo livre que antes não tinha e isso se mostrou de inestimável utilidade para se adaptar a um novo mercado: ampliou seus conhecimentos em inglês, conheceu melhor a cidade, fez cursos que melhoraram seus skills e aproveitou a animada vida cultural da cidade para se dar um banho de conteúdo, atualização e tendências.
Essa história é baseada em um caso verídico e ilustra bem os parâmetros que precisamos trazer para nós em meio aos grandes questionamentos do futuro do mundo pós-quarentena. Afinal, estamos quase todos em home office, teoricamente continuando a jornada e horários do escritório real, mas quem disse que os gestores e líderes sabem como administrar isso? Quem disse que os funcionários sabem também trabalhar assim?
Os chefes que não conseguem ver seus funcionários sentados em sua mesa. Acham que eles não estão trabalhando. Como se isso fosse um sinônimo tácito de que a produtividade ali acontecia.
As pessoas levantam e já se sentam no computador, não se dão os horários certos e muitos daqueles que eram acostumados a conseguir dar uma valorizada no tempo, com as “chacrinhas” na salinha de café, o “almoço feliz da sexta-feira”, e toda a sorte de distrações, perderam agora sua capa da invisibilidade.
Eu conheço gente que gastava 30/40 minutos para fumar um cigarro. Imagine então que, se ele fumar 5 cigarros por dia, ele ficará 3 horas e 20 minutos longe de sua mesa.
Alertados, certamente vão dizer que compensariam ficando até mais tarde e que nunca se negariam a estender seus horários se fosse necessário.
E essa é a questão: Não seria melhor ser controlado e sair mais cedo, curtir sua casa, sua família ou simplesmente ter mais tempo para curtir a vida?
Chegou o momento de entender que precisamos ser cobrados pelas entregas e não pela carga horária despendida. Também chegou o momento de termos foco na entrega e não no entorno e no ambiente que às vezes nos distrai.
O home office por exemplo, vem escancarando muitos problemas. São calls demais, muitas lives, muitos grupos e mensagens que chegam a todo momento e esperando que você responda imediatamente.
Já recebi mensagens comerciais às 6 e pouco da manhã, tem gente que manda mensagens depois das 21h, outras no meio da madrugada.
E-mails, mensagens e ligações chegam aos sábados, domingos, feriados e para quê? É má emergência ou a necessidade de ser imediatista e querer respostas rápidas? É a necessidade de dividir seus pontos assim que eles aparecem? E isso faz com que estejamos mais on-line do que necessário, do que é preciso e do que é certo.
Não precisamos sair do país para mudar, precisamos apenas ter a consciência que trabalhar é uma das coisas que fazemos e que ter mais tempo livre é essencial para nossa saúde física e mental. Inclusive ajudando a melhorar o nível da nossa entrega.
Quem sabe não chegou a nossa hora de “Monday To Friday. Nine to Five” ou algo próximo disso?