Experiência de Marca

Nico Rosberg Facts: E o que Mister Bean tem a ver com isso

Para sorte de alguns, poucos que chegaram ao Olimpo dos vencedores, e, para a decepção de inúmeros outros coadjuvantes que não conseguiram tão feito.

Nico Rosberg é um ex piloto de Fórmula 1. Depois de uma carreira consistente pela Williams e Mercedes, foi vice-campeão da categoria duas vezes (2014 e 2015), para, finalmente, em 2016, superando seu companheio de equipe e grande rival Lewis Hamilton, se sagrar Campeão Mundial de Fórmula 1.

Até aqui, estamos descorrendo uma história típica do storytelling emocionante que o esporte traz, mas o que eu estou trazendo hoje como reflexão é que poucos dias depois de ter colocado seu nome no seleto painel de campeões mundiais da categoria mais glamourosa do automobislimo mundial, ao lado de ícones como Juan Manuel Fangio, Alberto Ascari, Jackie Steward, Emerson Fittipaldi, Niki Lauda, Nelson Piquet, Alain Prost, Ayrton Senna, Michael Schumacher, Sebastian Vettel, seu companheiro Lewis Hamilton e até mesmo seu pai Keke Rosberg, ele divulgou no seu site a seguinte mensagem:

“Para mim, é um dia muito especial. Receber o troféu esta noite vai ser incrível, mas por outra razão: quero aproveitar a oportunidade para anunciar que vou encerrar minha carreira na F1.”

“Desde que comecei aos seis anos de idade eu tive um sonho claro. Queria me tornar campeão mundial de F1 e isso estava muito claro em minha mente. Aconteça o que acontecer agora, eu consegui. Eu coloquei tudo isso em cima disso. Com a ajuda dos fãs, consegui alcançar o que queria. Eu vou lembrar para sempre disso.”

DIL MOTA ARTIGO

Sim, ele iria receber o troféu de campeão da temporada em uma festa e estava anunciando que estava se aposentando. Ele estava com 31 anos, realizou o sonho dele e resolveu parar!

Muitas e muitas pessoas devem ter se questionado. Outras devem ter achado loucura um cara no auge da profissão, reconhecido como um dos melhores e que acabava de ter recebido a premiação máxima da categoria, resolver desistir de tudo isso e justamente agora.

Não havia precedentes no esporte, pois a maioria dos pilotos continuava ativo e mesmo com um campeonato recém-conquistado, saíam enlouquecidos em busca de um bicampeonato, um tri, um tetra, um penta ou até mesmo um hepta, como Schumacher.

Foi engraçado como as pessoas questionaram o porque de parar e não o porque de não prosseguir…

Afinal a gente vive a dinâmica (só para continuar nos esportes), de que não basta escalar o Monte Everest (e sua sensação de quase morte no ar rarefeito e temperaturas de -70oC), você ainda “tem que” escalar a outra rota, a outra face, incluir na façanha todas as outras montanhas mais altas do mundo, mas para quê?

Porque não basta a conquista do objetivo principal, mas temos que definir um outro na sequência? Talvez fosse um vício de qualquer tipo de hormônio cerebral, quem sabe a endorfina do desafio ou a dopamina que o recompensa com a sensação da vitória e conquista, mas na realidade a gente vive um mundo pautado não na conquista, mas no caminho. Não no troféu, mas na história de superação. Não no champagne estourado, mas no suor derramado e não no título ou objetivo que você acabou de atingir ou alcançar, mas em qual será o próximo.

Parece que até falta espaço para comemorar este estágio de júbilo de alguém que alcançou algo tão desejado, pois em seguida vem a cobrança em se continuar campeão, em se provar (vejam só) como merecedor do título, em aceitar colocar seu “cinturão” (prêmio) em jogo e no final parece que a gente vive um campeonato sem fim.

Para sorte de alguns, poucos que chegaram ao Olimpo dos vencedores, e, para a decepção de inúmeros outros coadjuvantes que não conseguiram tão feito.

E é aqui que entra o Mister Bean!

Tudo mundo deve ter visto um vídeo ou gif, onde ele desfila num carro conversível vermelho e da maneira mais louca e engraçada possível, mostra o dedo do meio para todo mundo…

dil artigo

E aqui eu reúno estes dois personagens que pareciam improváveis em fazer parte da mesma frase: o que faz pessoas como o Nico Rosberg subir na sua Mercedes campeã do mundo e mostrar o dedo para todos e dizer: “Deu! Já consegui o que eu queria e agora não quero mais”?

Que personalidade, firmeza de caráter, maturidade, coragem ou seja lá o que for que existe em pessoas que determinam pra si próprias o goal ou o objetivo principal e não se comovem com o apelo externo, muito menos com uma possível necessidade de se provar mais uma vez e simplesmente anunciam em alto e bom som, não uma aposentadoria, mas o direito dele de dizer que chegou? Era aqui que ele queria estar e não queria mais nada além disso!

Aos que acham tudo isso muito louco, olhem para as novas gerações e vejam o quanto eles querem realmente perder muito da sua saúde física e mental na correria desenfreada de um sucesso que às vezes não quer realmente para si. Afinal: o que é sucesso? Trabalhar 15 horas numa empresa em troca de um salário confortável ou viver equilibradamente a vida com um pouco menos, mas vivendo e desfrutando a vida?

A gente acompanha chocado a saída de cena de muitos profissionais relevantes e nos mais diferentes mercados. Depois de uma carreira brilhante, de inspirar tantos outros profissionais – inclusive nós mesmos – eles pegam o seu boné e param. Ok, em sua grande maioria, já com condições financeiras para se dar esse direito, mas o que tem por trás disso?

Há algumas semanas, o mercado publicitário ficou chocado com a saída de Fábio Fernandes da F/Nazca Saatchi & Saatchi (agência que havia criado e depois vendida para o grupo internacional), ele se unia a um grupo grande de outros profissionais icônicos que também tinham tomado o mesmo caminho e as vezes por outros motivos: Marcelo Serpa, Alexandre Gama, Washington Olivetto, Celso Loducca e outros tantos mais, mas eu queria me ater a uma frase dele na saída e que revelava também que isso não era exatamente uma decisão sua: “A depender de mim, jamais deixaria a agência”. 

Todo mundo fala em como Pelé soube parar no auge e na hora certa, mas qual será a nossa hora, o nosso momento e o quanto estamos nos preparando para isso? Em que momento poderemos desfilar num carro conversível vermelho e “mostrar o dedo” para tudo e todos ou em qual momento simplesmente mandaremos uma lacônica mensagem nas redes sociais deixando claro que chegamos no nosso objetivo e estamos parando por aqui.

Ou será que podemos correr o risco de simplesmente sermos surpreendidos por uma decisão superior, que decide trocar o certo pelo duvidoso, o velho pelo novo, salários maiores por menores ou simplesmente entender que no mundo de hoje reza máxima de que “vamos trocar porque é assim que a roda gira”?

Enquanto tivermos o controle sobre nosso destino e nossas vidas, vale a pena a gente se preparar para o futuro, até para podermos decidir em que momento seremos um Nico Rosberg ou um Mr. Bean. Se vamos deixar as coisas acontecerem, mesmo com o risco de decisões que nos fogem ao controle e que sempre chegam repentinamente. Ou se continuaremos tentando, subindo novos Everests ou procurando – depois de sua conquista – uma nova rota para nos desafiar, porque na realidade não gostamos da conquista, mas sim do caminho tortuoso para isso.

Talvez falte para nós celebrar um pouco mais tudo o que já foi uma conquista, todas as vitórias que certamente já tivemos e sentir que mais do que vencer, precisamos saborear a vitória, sentir o peso do troféu, o gosto do champagne e curtir isso por longos momentos, antes mesmo de se preparar para um novo desafio. Ou não!

Fica aqui minha provocação. Boa semana!

 

Por Dil Mota.